No Dia Nacional do Cerrado, bioma tem recorde de fogo em MS
Somente hoje, o Cerrado de MS concentra 53% dos focos de incêndio do Estado, de acordo com o Inpe
Esta quarta-feira (11), que marca o Dia Nacional do Cerrado, deveria ser motivo de celebração, mas com o aumento dos incêndios florestais no bioma, tanto em Mato Grosso do Sul quanto em todo o país, a data se torna um alerta para refletir se há realmente razões para comemorar. Somente hoje, o Cerrado de MS concentra 53% dos focos de incêndio do Estado, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Desde o dia 1º de setembro, o Cerrado passou a ser o bioma com o maior número de focos de incêndio registrados diariamente em Mato Grosso do Sul, superando o Pantanal, que também enfrenta incêndios.
De acordo com dados do BDQueimadas, programa do Inpe, entre os dias 8 e 11 de setembro, Mato Grosso do Sul registrou 1.305 pontos de calor. Do total, 541 (41,5%) focos de incêndio estão no Cerrado, enquanto o Pantanal concentra 491 focos (37,6%) e a Mata Atlântica, 273 (20,9%). Já no ano passado, no mesmo período analisado, o Cerrado contabilizou apenas 29 focos de incêndio.
O Cerrado é o maior bioma em termos territoriais de Mato Grosso do Sul, abrangendo 61% da área total do Estado. A Mata Atlântica ocupa 14% e o Pantanal, 25%, segundo dados da Fragro (Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Agronegócio). Além de MS, o bioma está presente nos Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, sul do Mato Grosso, oeste de Minas Gerais, Distrito Federal, oeste da Bahia, sul do Maranhão, oeste do Piauí e porções do Estado de São Paulo.
Mas em 2024, o fogo tem devastado o Cerrado em todo o país. De acordo com o Inpe, o Cerrado é o segundo bioma brasileiro com o maior número de focos de incêndio, representando 32,4% do total, ficando atrás apenas da Amazônia, que concentra 50% dos registros.
A colíder da Força-Tarefa Restauração da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Laura Antoniazzi, atribui o alto índice de queimadas a uma combinação de fatores ambientais e humanos — neste caso, por negligência ou ações criminosas. Ela também ressalta que o fenômeno El Niño, somado às condições ambientais desfavoráveis, como ar extremamente seco, altas temperaturas, ventos e falta de chuvas, tem agravado as queimadas no Cerrado.
Essas condições se somaram ao baixo controle governamental na prevenção das ações humanas. O fogo é usado no bioma para limpar pastos e queimar resíduos. A partir daí, ele pode se propagar rapidamente por negligência ou motivos criminosos", afirma Laura.
Para a colíder da Coalizão Brasil, a restauração do bioma será um processo "caro e complexo". "A recuperação do Cerrado deve ser feita levando em consideração o ecossistema original, que pode ser campo, savana ou floresta. Para isso, são aplicadas técnicas de plantio de sementes, preferencialmente, ou mudas, considerando também a capacidade de regeneração natural da área. Existem diversos modelos, com destaque para a importância de que essa restauração ocorra próximo a nascentes, rios e chapadas, pois isso contribui para a preservação dos recursos hídricos", explica Laura.
Desmatamento crescente - Além das queimadas, o Cerrado sul-mato-grossense enfrenta outro grave problema ambiental: o desmatamento. A área desmatada no bioma aumentou significativamente entre 2022 e 2023, conforme noticiado anteriormente.
De acordo com o Deper (Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real), do Inpe, houve um crescimento de 49,2% nos alertas de desmatamento no Estado, superando o aumento de 43,2% registrado em todo o Cerrado brasileiro.
Comparado às outras regiões do Brasil, Mato Grosso do Sul ocupa o oitavo lugar entre os Estados mais afetados pelo desmatamento em 2023, com 292,30 km² de áreas em alerta. Maranhão (1.765,1 km²), Bahia (1.727,8 km²), Tocantins (1.604,4 km²) e Piauí (824,5 km²) lideram essa triste lista.
O aumento do desmatamento no Cerrado é ainda mais preocupante quando comparado à Amazônia, que registrou uma queda de 50% no desmate no mesmo período. Em Mato Grosso do Sul, o Prodes, projeto de monitoramento por satélite do Inpe, revelou que em 2023 o Estado desmatou 358,79 km² do bioma, número que já supera os consolidados nos últimos oito anos, exceto por 2015, quando o desmatamento atingiu 586,62 km².
Os dados do Deper e do Prodes têm objetivos diferentes: enquanto o Deper busca detectar o desmatamento em tempo real para orientar a fiscalização ambiental, o Prodes oferece uma análise mais precisa das perdas vegetais, com dados ainda não consolidados para 2023.
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