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Meio Ambiente

Climatologista prevê fim do Pantanal em 46 anos

Carlos Nobre é mais pessimista que a Marina Silva, que afirmou que bioma sobreviveria até 2100

Por Natália Olliver | 11/09/2024 13:00
Bombeiros trabalhando no combate a incêndio na região do Abobral, próximo à Estrada Parque Pantanal, em Corumbá (MS) (Foto: CBMS/Divulgação)
Bombeiros trabalhando no combate a incêndio na região do Abobral, próximo à Estrada Parque Pantanal, em Corumbá (MS) (Foto: CBMS/Divulgação)

O climatologista Carlos Nobre afirma estar apavorado com o cenário climático e prevê o fim do bioma pantaneiro em cerca de 46 anos, antes mesmo da virada do século, em 2100, conforme comentou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. No início de setembro, a representante da pasta alertou que o bioma sobreviveria mais tempo se a situação mudasse imediatamente. Para Carlos, o fim de vários biomas está mais acelerado que o previsto.

Ele antecipa a morte do Pantanal em 30 anos em relação ao que Marina anunciou,

“Acho que ela foi otimista. O Pantanal acaba até 2070, sem falar nos outros biomas. A Amazônia, o Cerrado, a Caatinga: todos os biomas estão em risco. Se o desmatamento continuar desse jeito, a Amazônia vai perder pelo menos 50% da floresta até 2070"

Ele lembra que o Pantanal já perdeu 30% de área alagada nos últimos 30 anos e está secando. E agora o fogo destrói a vegetação. "Se continuarmos com emissões altas e só conseguirmos zerá-las em 2050, o que já é um enorme desafio, poderemos chegar a 2100 com temperatura a 2,5ºC da média. Se isso acontecer, o Pantanal não terá mais lago”, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada nesta quarta-feira (11).

O especialista é referência mundial e foi o primeiro brasileiro a integrar o grupo Planetary Guardians, ou Guardiões do Planeta, em português. Cientistas projetam, há anos, que o planeta sofreria alterações cruciais nos termômetros e a degradação quase total de florestas. O que os estudiosos não esperavam era que seria tão antecipado.

“No começo de 2022 a ciência previu, muito bem, que teríamos um El Niño - fenômeno climático ligado ao aumento das temperaturas da Terra - forte e a temperatura anual poderia ficar 1,3ºC acima da média. De fato, tivemos um El Niño forte, o terceiro mais forte dos registros, mas o aumento da temperatura chegou a 1,5ºC. No nosso pior cenário, chegaríamos a um aumento de 1,5ºC em 2028”.

Sobre os incêndios, ele diz que quase 97% deles são criminosos, diferente do  que aconteceu no Canadá em 2023, que foi motivado por descargas elétricas.

“Como não há recorrência de raios, são causados pelo homem. É uma guerra e temos de começar a combatê-la.  Desde que existem civilizações, há dez mil anos, nunca chegamos nesse nível, em que todos os eventos climáticos se tornaram tão intensos e muito mais frequentes. São secas em todo o mundo, tempestades, ressacas e, agora, a explosão desses incêndios. Esse é o máximo que já experimentamos. A crise explodiu. Temos a maior temperatura que o planeta experimentou em 100 mil anos”.

Para ele, as medidas tomadas pelo governo federal são tardias. Segundo Marina Silva, será criado um conselho técnico científico para apoiar a autoridade climática. A própria já vinha alertando o governo sobre o possível cenário em anos anteriores.

“É importante para acelerar a redução de emissões, zerar desmatamento, fazer a transição energética, transição para pecuária e agricultura regenerativa. Estamos muito atrasados”, completa Carlos.

Brigadistas combatem incêndio em vegetação no Pantanal (Foto: Bruno Rezende)
Brigadistas combatem incêndio em vegetação no Pantanal (Foto: Bruno Rezende)

Dá pra se adaptar? A previsão é de que a seca continue ainda mais severa com o passar dos anos. Carlos afirma que é preciso mudar culturalmente para que haja chance de sobrevivência. Não há previsão, do ponto de vista climático, de quando a realidade passará a ser menos prejudicial à saúde e ao meio ambiente.

“Se as emissões não forem reduzidas drasticamente, não tem jeito. Agora, considerando que as queimadas no Brasil são criminosas, penso que, antes de mais nada, é um problema de polícia. Uma adaptação possível é usar máscaras, como na época da covid-19”.

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