Sem as chuvas esperadas, incêndio no Pantanal pode ser pior este ano, diz Ecoa
Pantanal levou pela 2ª vez o prêmio trágico de "Lago Ameaçado do Ano" dado à área úmida em perigo devido à intervenção humana
"Não me lembro de que alguma vez choveu tão pouco aqui nos meses de verão como neste momento. Mas precisamos da chuva. Se não chegar logo, e se não houver muito, a próxima temporada de incêndios será definitivamente pior que a última". A fala de desabafo e alerta é feita pelo diretor da organização Ecoa (Ecologia e Ação), André Luiz Siqueira.
Nesta segunda-feira (1º), o Pantanal ganhou pela segunda vez o triste prêmio de "Lago Ameaçado do Ano" pelo Global Nature Fund (GNF) e a Rede de Lagos Vivos que apresentam o prêmio anualmente em fevereiro em comemoração ao "Dia Mundial das Áreas Úmidas", celebrado amanhã (02). O prêmio foi "oferecido" ao Pantanal pela primeira vez em 2007, 14 anos atrás e é dado a um lago ou área úmida que esteja altamente em perigo devido à intervenção humana.
Pior? - Se 2021 for pior em água do que o mesmo período anterior, quando o Pantanal registrou 40% a menos de chuva, a queimada pode ser devastadora. Segundo o Ecoa, no ano passado, a região registrou a pior seca dos últimos 60 anos e a pior queimada, quando mais de 4 milhões de hectares do bioma foram consumidos pelo fogo, o equivalente a 1/3 da maior área úmida continental do planeta.
"E estes não são apenas números: sinto por casa pessoa que sobrevive nesta região, sinto por cada árvore e cada animal que não consegue fugir desta situação ou morre de fome após os incêndios, porque não consegue mais encontrar alimento. O número de animais mortos também está na casa dos milhões. E os efeitos devastadores desses incêndios criminosos no cenário Sul-Americano, mas também no cenário mundial, ainda não puderam ser totalmente avaliados", levanta André.
Ainda conforme o Ecoa, grande parte dos incêndios de 2020 pode ser atribuída ao uso do fogo para o desenvolvimento de novas terras agrícolas, prática considerada comum pelos agricultores para "limpar" as áreas cultivadas.
Premiado pela segunda vez como "Lago Ameaçado do Ano", o Fundo Mundial para a Natureza (GNF) e a Rede de Lagos Vivos, querem quebrar o que chamam de círculo vicioso: quando á área úmida diminui e a agricultura aumenta, a perda de área florestal leva ao aumento da temperatura e à redução das estações chuvosas, o que resulta, segundo publicação do Ecoa, em áreas secas e mais suscetíveis a incêndios.
Para preservar o que resta do Patrimônio Mundial da Unesco, as instituições por trás do prêmio dizem que é necessária uma ação repensada e determinada das pessoas no local, mas também na América do Norte e na Europa.
"Já nomeamos o Pantanal como Lago Ameaçado do Ano em 2007, mas circunstâncias extraordinárias exigem medidas extraordinárias. Há 14 anos, a ameaça ao hotspot da biodiversidade no Pantanal já era aguda. No entanto, estamos surpresos e chocados com o desenvolvimento dramático dos últimos meses. Se não agirmos agora – imediatamente! – de fato, em breve não restará nada que valha a pena proteger no Rio Paraguai. Isso seria uma enorme perda", diz a presidente da GNF Marion Hammerl.
Medidas - A publicação do Ecoa diz ainda que parceiros locais da GNF e da Living Lakes estão fazendo tudo o que é possível para minimizar os efeitos dos incêndios na flora e fauna, como por exemplo, doação de toneladas de alimentos para os animais do Pantanal que estão ameaçados pela fome na área de incêndio, além de cuidados veterinários. A Ecoa também vem treinando voluntários de grupos e comunidades da região para serem brigadistas e lidar com as chamas e trabalhar com a prevenção.
No entanto, para as organizações, é preciso medidas mais abrangentes como ampliação e implementação das leis de proteção ambiental no Brasil, além de punições às violações e um diálogo diplomático com os vizinhos Paraguai e Bolívia.
“A premiação do Pantanal como Lago Ameaçado do Ano 2021 no Dia Mundial das Áreas Úmidas deve ser um alerta para deter a dinâmica destrutiva neste precioso conjunto de ecossistemas. Se isto não for bem sucedido, surge um cenário que, segundo os cientistas, se torna mais provável a cada ano que passa: o colapso ecológico. Isso transformaria a diversidade viva ao redor de rios, lagos e pântanos em um deserto nas próximas décadas e cabe a todos nós evitarmos este pesadelo", enfatiza a presidente da GNF Marion Hammerl.