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Política

“Eu vejo gente pensando que não tem pandemia”, diz Mandetta à Capital

“Viver ou morrer são desígnios de Deus, mas dar a chance para todos é responsabilidade do prefeito”, disse o ex-ministro

Izabela Sanchez | 08/07/2020 10:50
O ex-ministro da saúde do governo Bolsonaro na Câmara Municipal de Campo Grande nesta quarta (Foto: Reprodução)
O ex-ministro da saúde do governo Bolsonaro na Câmara Municipal de Campo Grande nesta quarta (Foto: Reprodução)

Convidado da live que debate a covid-19 na Câmara Municipal na manhã desta quarta-feira (8), o ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta (DEM), não amaciou o discurso. Campo-grandense, ex-secretário de saúde do município, ele evitou criticar as políticas locais de saúde, mas foi claro ao dizer que “em Campo Grande eu ainda vejo gente pensando que não vai ter pandemia”.

Para ele, junto "à pior pandemia do século”, a desinformação, a descrença na ciência e as fake news são o mal da época. Mandetta, demitido do cargo após entrar em conflito com Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o enfrentamento da crise sanitária, demonstrou preocupação com o que chamou de “vida normal” no dia-a-dia da cidade.

Para ele, Campo Grande teve sorte no início da pandemia porque os Estados vizinhos e o Paraguai, fronteiriço na região sul, adotaram medidas mais rígidas. Com a baixa circulação em direção ao Estado, Campo Grande escapou, no início, "mas não mais", citou ele.

O ex-ministro afirma que a cidade irá receber não apenas a população de toda a região de Saúde, que ultrapassa um milhão de dependentes dos hospitais, mas também o que chamou de “fuga pela vida” vinda da região sudoeste do Estado, frágil em alta complexidade na Saúde.

Críticas mantidas - O discurso que fazia à época das lives quando estava à frente do Ministério da Saúde se mantém nesta quarta: "defesa da vida em primeiro lugar, defesa irrestrita do SUS e apego à ciência". Foram os conselhos do ex-ministro, ao ser questionado sobre a condução da pandemia na Capital e em Mato Grosso do Sul.

“A primeira cidade a cair foi Manaus, o vírus não negociou com ninguém que quis ficar na frente dele. O presidente falou que era uma gripezinha e estamos aí batendo quase 70 mil mortes. É como se caíssem 5 aviões todo dia na nossa cabeça e a gente falasse: será que vai chegar aqui? Eu ainda vejo em Campo Grande gente pensando: ‘eu acho que aqui não vai ter’.

"Todos que tiveram essa postura, que pagaram pra ver, pagaram um preço muito amargo nas suas vidas”, criticou.

Teve tempo O médico afirma que tanto o executivo estadual, quanto o municipal, tiveram tempo suficiente para observar o que ocorria em outros Estados e, assim, prepararem o terreno da Saúde. O convidado da comissão de enfrentamento à pandemia na Câmara utilizou de metáforas para abordar o assunto.

Para Mandetta, o novo coronavírus "é como um vento".

Mandetta ao lado dos vereadores Lívio e Eduardo Romero nesta quarta (Foto: Reprodução)
Mandetta ao lado dos vereadores Lívio e Eduardo Romero nesta quarta (Foto: Reprodução)

“Como Campo Grande está funcionando normal e você tem circulação, o vírus é igual um vento, começa uma brisa fraquinha, depois aumenta, arranca telha, e é como se fosse um tornado. Nessa fase, se você quer enfrentar a doença atendendo quem for ficar doente e vivendo a vida normal, você tem que ter um super sistema de saúde para manter dessa maneira”, criticou.

Entre as críticas, leves e mais ácidas, está o uso de cloroquina, que agora faz parte da prescrição municipal de Campo Grande, citada até por Bolsonaro ao falar de seu diagnóstico da covid-19, na terça-feira (7).

Mandetta criticou a politização da medicina e da ciência. “João de Deus tinha uma farmácia”, cutucou ele.

“Como vão fazer e se organizar acho que tem técnicos muito experientes, porque tiveram e tem muito tempo para programar. Acho que tem que estar articulado com a iniciativa privada, precisam estar na mesa com os secretários porque chega uma hora que também no plano privado você pode ter esgotamento. Na hora que tem colapso, não adianta ter ordem judicial, carteirinha, direito constitucional, simplesmente não existe onde entrar no hospital. Campo Grande tem que se preparar para atender epidemia do Estado”, disse.

Para ele, ao que tudo indica, a Capital será onde “estará a maior chance de viver”. “Eu recomendo que meçam todos os dias às 7h [ocupação de hospitais públicos e privados] e meçam de novo à noite. Se você aguardar o final de semana, o vírus não tem domingo, não tem sábado”, disse, sobre o acompanhamento das secretarias.

“Se um médico te prescreve algo diferente que ninguém está usando, será que esse médico dá pra ter confiança?”, disse, sobre a cloroquina. “O fato é que a ciência não tem ainda uma resposta absoluta, ficam por erro e tentativa. Eu acho que a solução política é comum para quem não é do ramo de saúde”, disse.

Viver ou morrer – “Viver ou morrer são desígnios de Deus, mas dar a chance para todo mundo lutar pela vida é responsabilidade do prefeito e da secretária de saúde de Campo Grande”, opinou o ex-ministro.

Mandetta afirmou que Campo Grande até agora teve uma vantagem, mas tem também “uma grande responsabilidade”.  “Quantos médicos vão adoecer aqui, que é uma das razões de colapso?”, disse.

“Será que vamos ter que preparar uma segunda linha de reposição? [ de profissionais de saúde], às vezes o enfermeiro, ou médico que dá plantão no HR, dá também na Santa Casa, no Universitário. Quando você se contamina em um você contamina os outros. É preciso preservar o equilíbrio do sistema”, comentou.

Ele afirma que essa doença “não tem letalidade individual”. “Pílulas do João de Deus, fita do bom fim, quase 90% vão passar bem com isso”, disse, em analogia à cloroquina. “O duro é que tem 10 ou 15% que vão, ao mesmo tempo, para o hospital”, afirmou.

Estado – Mandetta foi duro ao criticar a falta de monitoramento extensivo nos frigoríficos, especialmente pela importância econômica. Para ele, Mato Grosso do Sul já tinha observado o comportamento em plantas de outros Estados e ainda assim não conduziu plano específico a esse setor. O ex-ministro também criticou a falta de plano especial à população indígena.

“Passou da hora de ter uma abordagem separada de como vai abordar os frigoríficos, tão importante paras nossas exportações e produções. Precisa de um monitoramento extensivo, poderíamos ter antecipado. Ocorreu em Dourados, contaminou indígenas,  no nosso Estado eles, historicamente, têm uma relação ruim com vírus respiratório. Tinha que ter plano separado para eles”, disse.

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