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Por que as calçadas do Taveirópolis são de um lado da rua maiores que do outro?

Paula Maciulevicius | 26/08/2014 07:31
Por que as calçadas do Taveirópolis são de um lado da rua maiores que do outro?
Do lado "vantagem" da calçada, carteiro Valdeci é quem mais chega próximo da resposta. (Foto: Marcelo Victor)
Do lado "vantagem" da calçada, carteiro Valdeci é quem mais chega próximo da resposta. (Foto: Marcelo Victor)

Por que as calçadas dobairro Taveirópolis são de um lado da rua maiores do que do outro? Em um passeio pelas redondezas da Avenida Albert Sabin, a gente pergunta para quem está na vantagem nessa divisão territorial. Mais larga, nela caberia cadeiras, bancos, sofás, poltronas, até uma mesa para a família toda de dona Jonia Edvirges Cardoso almoçar. E olha que são seis filhos, uma dezena de netos, bisnetos e já quatro tataranetos.

Aos 81 anos, ela é uma das mais antigas moradoras, chegou lá em 1947, logo que os terrenos da então fazenda foram loteados. "Conheci o seu Taveira, eu tinha 15 anos quando me casei, meu sogro que vendeu tudo aqui. Me casei e já vim morar na Albert Sabin. Eu, cuiabana, acabei ficando no Taveirópolis", conta.

Com cadeiras do lado maior da via, ela sabe de cabo a rabo a história, desde as guaviras que colhia quando tudo ainda era mato até os moradores amigos que já se foram. "Isso da calçada foi um prefeito. Acho que o Antônio Canale, mas estou velha rapaz. Daquele lado de lá sempre foi estreito", explica sem saber ao certo.

Moradora há 66 anos da região, dona Jonia só não aproveita as cadeiras à sombra para tomar tereré. (Foto: Marcelo Victor)
Moradora há 66 anos da região, dona Jonia só não aproveita as cadeiras à sombra para tomar tereré. (Foto: Marcelo Victor)

Moradora há 66 anos da região, ela só não aproveita as cadeiras à sombra para tomar tereré. "Sou cuiabana, não tomo nada de mate não", brinca.

Um pouco mais adiante, o carteiro Valdeci Felix de Matos, de 50 anos, é quem mais chega próximo da resposta. "Sempre foi assim, é verdade, todas as ruas tem um lado maior que o outro. É bom, acho que foi feito para aumentar a qualidade de vida, mas só para quem está deste lado não é?", brinca.

A auxiliar de escritório, hoje em licença maternidade, Marilene Lopes, de 36 anos, repara no horário. "Aos finais de semana é mais frequente e depois das 4h da tarde, o pessoal está todo sentado. Só que é mais aqui".

A resposta para a pergunta vem da arquitetura. Como as ruas no total tem entre 24 e 25m, as calçadas são, sim, bem maiores de um lado do que do outro e pensadas justamente para dar sombra ao tereré dos moradores, projeto do arquiteto e urbanista Jaime Lerner, também ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná, que teve uma passagem marcante no desenvolvimento urbano de Campo Grande no final da década de 70.

No lado nascente do sol, calçada tem 7,5m.  (Foto: Marcelo Victor)
No lado nascente do sol, calçada tem 7,5m. (Foto: Marcelo Victor)
Já no lado poente do sol, ela tem 2,5m. (Foto: Marcelo Victor)
Já no lado poente do sol, ela tem 2,5m. (Foto: Marcelo Victor)

"No lado poente do sol, a calçada é mais curta. No lado nascente, é mais larga. De um lado tem 2,5m, do outro, 7,5m. Eram 7 metros de jardim, de grama para que as pessoas se sentassem, tomassem tereré, as crianças brincassem", explica o arquiteto Ângelo Arruda.

Lerner foi trazido para Campo Grande pelo então prefeito, Marcelo Miranda, em 1977, com a missão de elaborar a proposta de urbanização, que resultou no CURA, Plano de Complementação Urbana. Na prática, os projetos simbolizam a diferença que os 5 metros do Taveirópolis queriam passar: estabelecer uma associação entre trabalho, deslocamento e lazer e assim definir a estrutura de desenvolvimento urbano.

Só que o projeto acabou acontecendo apenas no Taveirópolis. Ângelo explica que em seguida, o prefeito da época, Marcelo Miranda se tornou governador e as ruas estruturadas dessa forma desapareceram. "Hoje ainda existem essas calçadas, mas não degradadas que não se percebe a qualidade paisagística dos anos de 78 e 79", ressalta.

De fato, boa parte das calçadas é ocupada por veículos como estacionamento. As que não estão assim, foram tomadas pelo mato. São poucos moradores, como dona Jonia, que veem da cadeira em frente de casa, o crescimento do Taveirópolis.

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