22 de abril: A invasão destrutiva de 1500
Por Kleber Gomes (*) | 22/04/2024 08:30
O que falarmos nesse dia 22 de abril, sendo nós, em pleno 2024, os/as indígenas que choram até hoje as perdas atuais e de passado que nossos parentes povos originários têm e tiveram até aqui a partir da invasão que sofremos em nossas terras em 1500?
Em primeiro lugar, dizermos bem alto que não concordamos com a tal "descoberta" do Brasil é compromisso não somente de um/a historiador/a sério/a, mas também de toda uma nação indígena brasileira composta pelos 305 povos originários que resistiram após a chegada destrutiva e mortífera dos colonizadores exatamente nesta data há 524 anos. 2024 é ano de celebração não pelos que restaram, mas sim pelos que resistiram.
O Brasil conhecer muito mais de nossa história de resistência, esse continuará sendo dos nossos mais importantes alvos. É questão de honra e de vida, expressar com vivacidade o binômio existência e resistência.
Na sequência, combatemos, por meio de todos os instrumentos legais que temos em mãos e conosco, as versões eurocêntricas e genocidas que, até até aqui, têm sido sustentadas, várias dessas que nos colocam até hoje como um entrave à ordem e ao progresso da atual nação brasileira. Aos pisarem os pés em Pindorama, no ano de 1500, os portugueses encontraram-se com nossos ancestrais que por aqui já estavam há pelo menos 10 mil anos.
Portanto, nossa história não teve início há 524 anos, muito menos a do Brasil. A mesma tem uma característica milenar e assim debela toda fala e ensino que considera o europeu o grande descobridor e conquistador destas terras. Em tempo, Pindorama era um dos nomes pelos quais nossos ancestrais batizaram as terras que mais tarde vieram a ser chamadas de Brasil.
Na continuidade das argumentações de que o 22 de abril de 1500 foi uma invasão e não uma "descoberta", salientamos a riqueza que era o conjunto dos povos originários à época, com seus aproximadamente 6 milhões de habitantes, seus mais de 1000 idiomas vivos e falados com intensidade, suas artes, suas religiões, suas cosmovisões, suas ciências, suas cidades, seus costumes, suas práticas e tudo o mais que compunha o bem viver dos/as indígenas de então.
Cabe ressaltar também que essa chegada invasora dos europeus foi o primeiro passo mortal contra a natureza em terras brasileiras, sendo o início de toda a barbárie que hoje vemos e vivenciamos desferida contra o meio ambiente no país.
Assim, nesse dia, temos um tempo de reflexão diante de tudo aquilo que almejamos construir daqui em diante. Os quase 2 milhões de indígenas atuais no Brasil, os 305 povos existentes, as 274 línguas faladas e todo o conjunto de nossas identidades mostram os reais motivos de não seguirmos mais invisibilizados.
Estamos mais vivos, fortes e unidos do que nunca. A resistência de mais de cinco séculos trabalhou a garra que possuímos no momento, razão pela qual vislumbramos, quanto a futuro, muito mais em termos de conquistas e de avanços para nossos povos.
Por fim, firmamos o compromisso de persistirmos na escrita autônoma de nossa história de existência e de resistência, mesmo que inimigos gigantescos continuem na atualidade, direta e indiretamente, na promoção de ações visando nosso apagamento total. Prosseguimos.
Brasil, 22 de abril de 2024.
524° ano da invasão de nossas terras.
Assinam todos os 305 povos originários deste país.
(*) Kleber Gomes, indígena Terena, professor de História na Reme de Campo Grande/MS e mestrando no ProfHistória da UEMS.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.
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