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Bicentenário da nossa independência?

Isaac Roitman (*) | 04/07/2021 08:59

No dia 7 de setembro de 2022 vamos comemorar o bicentenário de nossa independência. Devemos comemorar? Revisitando a nossa história e olhando para os tempos atuais, uma pergunta emerge: “Somos um país independente?”.

A resposta é não. Alguns podem não concordar, dizendo que temos uma bandeira, um hino nacional, etc. Revisitando nossa história, constatamos que durante séculos o Brasil foi uma colônia de Portugal, desde a sua descoberta até 1822. Em 1534, foram criadas 15 capitanias hereditárias, que foram doadas para uma pequena nobreza lusitana.

A economia predatória foi praticada em todo período colonial, abrangendo vários ciclos: pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro e diamante, e outros. A colonização teve como principais características: civilizar, exterminar, explorar, povoar, conquistar e dominar. A “suposta” independência do Brasil aconteceu em 1822, tendo como marco o “grito do Ipiranga”, inaugurando a monarquia com a coroação de Dom Pedro I. Em vários aspectos (econômico, cultural, etc.) somos ainda um país colonizado e manipulado.

É difícil dizer que um país é independente quando parte de seu povo depende de uma “bolsa família” para sua subsistência. Existe independência quando mais da metade de seu orçamento é utilizado para amortizar a dívida pública?

Que independência é essa quando a política é uma carreira, e não um trabalho social, e onde medidas superficiais são adotadas para combater a e mascarar a desigualdade social. Não podemos falar em independência e soberania quando nossas terras e empresas são adquiridas a preço de banana pelo capital internacional. Não dá para dizer que somos independentes quando a tsunami da corrupção assola o país e quando as políticas de educação e cultura são praticamente inexistentes, e o fomento para a ciência e a tecnologia é drasticamente reduzido.

Estamos pagando caro, com vidas perdidas na pandemia de covid-19 pelos erros irresponsáveis que cometemos. Estamos interrompendo projetos de pesquisas e nossos cérebros estão migrando para países onde o desenvolvimento científico e tecnológico é um dos pilares do desenvolvimento. Se a política de investimentos em ciência fosse contínua, não teríamos essa escassez de vacinas e insumos para a saúde.

O que caracteriza um país justo, moderno, independente é aquele que oferece boa qualidade de vida à população. É aquele que proporciona educação de qualidade e oportunidades para todos; que desenvolve uma agropecuária moderna e autossustentável; estrutura industrial competitiva; desenvolvimento científico e tecnológico avançado; eficientes meios de transportes; comunicação ampla e democrática; analfabetismo zero; baixa mortalidade; uma eficiente rede de saúde pública, com hospitais bem equipados; sem moradores de rua; boas condições de moradia, alimentação e saneamento básico; segurança pública eficiente e elevada expectativa de vida; e preserva e estimula sua cultura.

Repetidamente, costumamos dizer que não existe melhor caminho para alavancar a produtividade do que a oferta de uma educação de qualidade. É absolutamente válido dizer que temos que ter uma educação que seja capaz não apenas de preparar bem os nossos jovens para o exercício de uma profissão, mas também de prepará-los plenamente para o exercício da cidadania.

Vamos todos trabalhar para conquistarmos uma verdadeira independência. É pertinente lembrar o pensamento de Albert Eistein: “A personalidade criadora deve pensar e julgar por si mesma, porque o progresso moral da sociedade depende exclusivamente de sua independência”.

(*) Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília, coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro (n.Futuros/CEAM/UnB), membro tiular de Academia Brasileira de Ciências. Ex-decano de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB, ex-diretor de Avaliação da CAPES, ex-coordenador do Grupo de Trabalho de Educação, da SBPC, ex-sub-secretário de Políticas para Crianças do GDF. Autor, em parceria com Mozart Neves Ramos, do livro A urgência da Educação.

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