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Brasil: O país do feijão. Sempre foi e precisa continuar a ser

Por Bernardo Romão (*) | 10/02/2024 08:30

No dia 10 de fevereiro, comemora-se o Dia Mundial das Leguminosas, data comemorativa recente, instituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2018. A criação deste dia justifica-se pela necessidade da recorrente importância da lembrança de como as leguminosas são beneficiais à saúde e representam parcelas importantes de diversas culturas. Contudo, apesar da data ser recente, a importância das leguminosas no país é datada quase que de forma concomitante com a consolidação da nação.

A soja, o grão-de-bico, as ervilhas e as lentilhas são representantes do grupo das leguminosas consumidas no Brasil e representando a multiculturalidade e pluralidade do país, são empregadas em diversas preparações influenciadas pelas mais diversas culturas.

Da soja, extrai-se o óleo que refoga nossos temperos nativamente brasileiros, do grão-de-bico e da lentilha fazem-se preparações com influências do oriente médio como hommus, falafel e dahl e a partir das ervilhas, nos transportamos ao hemisfério norte, as utilizando como base para caldos e sopas clássicas da culinária canadense.

No Brasil, a leguminosa destaque é o feijão. Nutricionalmente, constitui-se como fonte de fibras, importantes para o funcionamento do intestino, proteínas, vitaminas e minerais. Socioeconomicamente, caracteriza-se como terceiro maior produto de exportação do país, ocupando milhões de hectares e influenciando positivamente a economia do Brasil.

Todavia, tão importante quanto suas características e qualidades numéricas, o feijão brasileiro é cultura. Difícil ser brasileiro e não entender os inúmeros significados do “Feijão com arroz”. É parte de como falamos. É parte de quem somos. Ou pelo menos era.

De acordo com os últimos inquéritos realizados no país, como no caso do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), o consumo de feijão por parte dos brasileiros diminui conforme o tempo passa.

Se um dia o feijão ocupava mais de ¼ do prato do brasileiro, hoje o espaço diminui e é ocupado por cada vez mais produtos ultra processados. As razões são múltiplas: A primeira, é que no caso dos ultra processados, estes apresentam ingredientes como sódio e gorduras saturadas, tornando-os ultra palatáveis e extremamente agradáveis ao paladar humano. Contudo, ainda mais determinante do que isto, seu consumo é impulsionado pelo seu preço, reduzido quando em comparação aos alimentos in natura, como no caso do feijão.

Em um país como o Brasil, onde mais da metade da população encontra-se em insegurança alimentar, o preço dos alimentos constitui-se como fator determinante em sua escolha. É importante ainda considerar que o feijão hoje possui seu mais alto preço nos últimos quinze anos, com aumentos de quase 80% em comparação aos últimos cinco anos por exemplo.

A segunda razão, diz respeito ao status social associado ao consumo dos ultra processados. Os atuais chefes de família, nascidos nas décadas de 80 e 90, enfrentaram durante seu processo de formação severas recessões econômicas, e o alimento industrializado dessa forma, consolidou-se como objeto de desejo. A possibilidade de o ultra processado fazer parte do hábito alimentar, além de relacionar-se com seu sabor, está também intimamente ligado com a sensação de conquista.

Sendo assim, o problema do consumo de feijão é em sua essência, estrutural. O feijão, apesar de ser muito produzido no país, não se caracteriza como uma commodity, ou seja, seu valor de exportação é reduzido em comparação a outros cultivares, como a soja e o arroz. Dessa forma, faltam estímulos para que produtores optem por seu cultivo, cabendo ao governo, estabelecer políticas públicas de incentivo, como isenção de impostos e subsídio para a produção.

Ainda, cabe ao profissional de saúde, em nível multiassistencial, influenciar positivamente a população, oferecendo alternativas de consumo de uma leguminosa essencialmente brasileira e tão associada com benefícios à saúde.

Neste dia internacional das leguminosas, que seja resgatada a essência brasileira. Que o feijão, nosso santo feijão, esteja mais presente em nossas mesas e que tomemos consciência de sua importância para o país.

(*) Bernardo Romão de Lima é professor do departamento de Nutrição da Universidade de Brasília. Formou-se na UnB como nutricionista e mestre e doutor em nutrição humana, pelo Programa de Pós Graduação em Nutrição da Universidade.

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