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“Chemical Risk”: um jogo didático para o ensino de biossegurança

Por Cristina Northfleet de Albuquerque* e outros autores** | 30/05/2021 08:15


Atualmente, muitas são as ferramentas empregadas para uma educação mais dinâmica, nas diversas etapas de formação, os alunos de ensino fundamental e médio já estão familiarizados com a utilização dessas ferramentas. Jogos estão entre essas ferramentas devido à maior possibilidade de aceitação, visto já fazerem parte do dia a dia desses estudantes. No ensino superior, pouco são exploradas essas ferramentas, o que pode tornar algumas disciplinas mais complexas bem mais interessantes.


O jogo Chemical Risk é um projeto didático que visa a demonstrar a utilização de jogos na educação superior, através do desenvolvimento de um jogo digital, cujo principal objetivo é a fixação dos principais conceitos de biossegurança. Refere-se a uma reflexão sobre o modelo de ensino tradicional e propõe um novo conceito que se alia à evolução tecnológica, sugerindo, assim, novas formas de transmissão de conhecimento. A fim de proporcionar aos jogadores uma prática para aprender sobre os conceitos de biossegurança, este projeto trata justamente da familiarização do aluno com tais conceitos, uma vez que irá permitir a simulação de um acidente químico, biológico ou físico, em um ambiente laboratorial, dando ao aluno a possibilidade de aplicar e consolidar os conceitos que aprendeu em sala de aula. Como base bibliográfica, este projeto buscou referências em livros acadêmicos, portais on-line e artigos sobre o uso de métodos lúdicos na educação e a aprendizagem através de jogos de computador.

Para o desenvolvimento deste projeto tivemos a parceria do professor Alvaro Rodrigues, do curso de Design de Games da Fatec de Carapicuíba.

Para o desenvolvimento deste projeto foram utilizados programas de design e modelagem de objetos e ambientes, sendo a base final do jogo criada na plataforma Unity. O jogo conta com uma fase em um ambiente com 25 salas, dispostas de forma a gerar a sensação de um labirinto que simula um laboratório de ensino e pesquisa de uma universidade. Nesse ambiente, estão dispostos cerca de 30 itens (EPIs), distribuídos aleatoriamente, que estarão disponíveis ao jogador. Para auxiliar no aprendizado, perguntas são feitas quando o jogador chega à sala correta e há a verificação de que todos os itens necessários tenham sido coletados pelo jogador.

O desenvolvimento do jogo está limitado à criação de uma única fase jogável, com todos os itens necessários para sua conclusão.

Chemical Risk é um jogo do gênero adventure, com momentos que exigem a capacidade de raciocínio rápido, lógico e estratégico para resolução de puzzles. No aspecto narrativo, o jogo relata acontecimentos ocorridos com uma estudante que está estagiando em um laboratório e cursa a disciplina de Biossegurança. Esta aluna tem que aplicar os conhecimentos de manutenção, organização e prevenção de acidentes dos laboratórios utilizados em seu curso. Ao se deparar com um determinado acidente químico em um dos laboratórios, ela tem a tarefa de coletar os equipamentos de proteção individual (EPIs) necessários para se proteger e agir de forma segura no acidente, evitando os riscos de contaminação do ambiente.

A biossegurança é o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando à saúde do homem, dos animais, à preservação do meio ambiente e à qualidade dos resultados. O fundamento da biossegurança é assegurar o avanço dos processos tecnológicos e proteger a saúde humana, animal e o meio ambiente. Estes conceitos devem ser aprendidos no início dos cursos universitários para que os alunos tenham uma noção de segurança no momento em que irão iniciar suas atividades práticas.

Cumprir a legislação, ser transparente e ter ética são algumas formas de ter sucesso em um laboratório. Dessa forma, aplicar os conceitos de biossegurança faz parte do desenvolvimento profissional da grande maioria dos universitários. Sendo o aluno capaz de se proteger e identificar os produtos e os riscos que estão presentes nos laboratórios, pode ser um diferencial na sua formação. A falta de experiência, desconhecimento e excesso de confiança são alguns dos fatores que podem causar acidentes, logo, se o aluno tiver uma ferramenta para mostrar-lhe algumas situações de acidentes, pode estar mais bem preparado para enfrentar situações reais.

Em um laboratório de pesquisa ou ensino em qualquer área podem existir cinco grupos de risco que devem ser reconhecidos, avaliados e minimizados para um bom funcionamento do local. Os grupos de risco são: Químicos, Físicos, Biológicos, Ergonômicos e de Acidentes, os quais apresentam uma ampla gama de legislações e normas. Dentre todas as características de cada grupo, o risco químico pode não apenas causar danos ao homem, como também pode ocasionar um grande impacto ao meio ambiente. Materiais químicos, quando manuseados de forma inadequada, podem ser de extremo perigo e causar vários danos ao sistema biológico de quem absorve essas substâncias. No ambiente de trabalho, perigo pode ser definido como uma situação ou ato que cause danos potenciais, tais como lesões, ferimentos e problemas de saúde. Considerando que o risco é uma consequência do perigo, quando um laboratório segue as normas de biossegurança pode minimizar ou eliminar as chances de perigo.

Para pôr em prática a biossegurança é necessária a conscientização sobre a utilização de materiais ou qualquer outro dispositivo que tenha a finalidade de proteger de possíveis situações que causem danos à saúde ou coloquem em risco a segurança de um indivíduo ou grupo de pessoas, durante o exercício de uma determinada atividade. Esses materiais são conhecidos como EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e EPCs (Equipamentos de Proteção Coletiva) e são essenciais para a execução de diversas atividades.

A educação não se restringe às salas de aula, livros e professores. Atualmente, dispõe-se de diversas plataformas para criar e compartilhar conhecimento. Por meio dos jogos digitais podemos inserir, através do universo virtual, uma realidade para a prática de diversas ações em diversas áreas. Biossegurança é uma delas.

Este projeto apresenta aos alunos de diferentes áreas que envolvam o conceito de biossegurança uma forma de aprender na prática, porém através de simulações em ambiente virtual, a lidar, de forma segura, com as mais diversas situações de risco dentro de um laboratório, já que na prática do dia a dia tais simulações não seriam possíveis. Mais do que simplesmente “jogar”, o aluno pode exercitar e fixar todos os conceitos apresentados em aula.

Partindo do princípio de que “a prática leva à perfeição”, Chemical Risk pode fazer com que o aluno treine e assimile as ações necessárias para desenvolver seu papel na sociedade de uma forma segura para si, para outros envolvidos e para o meio ambiente.

*Cristina Northfleet de Albuquerque é professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP

** Luiz Fernando de Souza, Wilker Alves de Moura, Daniel Martins da Silva Oliveira, Gledson Kleiton da Silva e Alvaro Gabriele Rodrigues, do curso de Design de Games da Fatec Carapicuíba.

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