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Como cuidar de quem cuida?

Marcia Regina Cominetti (*) | 07/08/2023 08:30

Cuidar de uma pessoa com demência é uma tarefa desafiadora e complexa, que requer não apenas paciência e dedicação, mas também uma atenção especial com quem assume o papel de cuidador. A sobrecarga emocional e física pode ser intensa, e é fundamental que quem exerça esta função também receba cuidado e apoio, para que possa desempenhá-la de maneira saudável e eficiente. Neste texto, discutiremos a importância de cuidar de quem cuida e exploraremos estratégias para lidar com a sobrecarga do cuidador.

A sobrecarga de quem cuida de uma pessoa com demência pode se manifestar de diversas formas. A responsabilidade constante e a pressão para oferecer um suporte adequado podem levar ao esgotamento emocional. Muitos cuidadores enfrentam sentimentos de tristeza, frustração, culpa e até mesmo raiva. A sensação de perda da identidade pessoal e da liberdade também pode ser uma realidade para aqueles que dedicam a maior parte do tempo aos cuidados com o ente querido.

Além dos desafios emocionais, a sobrecarga física é outra preocupação. As atividades diárias exigem um esforço físico considerável, principalmente quando a pessoa com demência apresenta dificuldades de mobilidade. O cansaço, a falta de sono adequado e a negligência com a própria saúde são algumas das consequências físicas da sobrecarga do cuidador.

Existem diversos sinais e sintomas que indicam que esta pessoa está sobrecarregada. O isolamento social é um deles, pois o cuidador muitas vezes se afasta de amigos e familiares para se dedicar integralmente à pessoa com demência. A irritabilidade constante, a falta de concentração e a sensação de estar sempre tenso são outros indícios de que a carga está pesando demais sobre ele. Além disso, problemas de saúde, como insônia, dores de cabeça frequentes e alterações no apetite, podem surgir como resultado da sobrecarga.

Para lidar com essa situação, é fundamental a adoção de estratégias eficazes de cuidado pessoal. O autocuidado deve ser prioridade, reservando tempo para atividades relaxantes, como exercícios físicos, meditação ou hobbies que proporcionem prazer. Estabelecer uma rotina regular de sono e alimentação saudável também é essencial para manter a energia e a saúde em dia.

Buscar apoio é outro passo importante no suporte à pessoa que cuida. Participar de grupos de apoio específicos para cuidadores de pessoas com demência pode ser muito benéfico, pois permite a troca de experiências e o compartilhamento de desafios e soluções. Esses grupos são recursos valiosos para este público. Eles oferecem um espaço seguro para expressar emoções e obter conselhos úteis de pessoas que estão passando por situações semelhantes.

Estas iniciativas são comumente organizadas por diferentes tipos de entidades, como associações de Alzheimer, hospitais, clínicas, organizações comunitárias e até mesmo online. A ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer) e suas seções regionais são conhecidas por realizarem encontros de grupos de apoio, geralmente com facilitadores treinados, que lideram as sessões e fornecem ferramentas e recursos disponíveis para auxiliar os cuidadores. Aplicativos e sites especializados também podem fornecer informações sobre demência, estratégias de cuidado e até mesmo assistência virtual de profissionais de saúde. É importante estar aberto a essas tecnologias e aproveitar os benefícios que elas podem trazer.

Nesta perspectiva, em 2017, a OMS (Organização Mundial da Saúde) lançou o iSupport, um programa online de conhecimento e treinamento de habilidades para cuidadores de pessoas com demência. A ferramenta, que possui uma versão brasileira, visa prevenir e diminuir problemas de saúde mental e física para melhorar a qualidade de vida de quem cuida de pessoas com perdas de cognição.

Buscar suporte junto à família e aos amigos também é crucial. Compartilhar responsabilidades e solicitar ajuda quando necessário alivia a carga emocional e física do cuidador. Os entes queridos devem estar cientes da importância de cuidar de quem cuida e estar dispostos a oferecer auxílio sempre que possível.

Cuidar de quem cuida é uma necessidade fundamental quando lidamos com as doenças degenerativas. Reconhecer os sinais e sintomas de sobrecarga, adotar estratégias de autocuidado, buscar apoio em grupos específicos e utilizar ferramentas disponíveis são passos essenciais para garantir que o cuidador possa desempenhar seu papel de maneira saudável e eficaz. Essas ações são fundamentais para o bem-estar de todos os envolvidos nesse processo delicado de cuidar de uma pessoa com demência.

(*) Marcia Regina Cominetti é docente no Departamento de Gerontologia da UFSCar.

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