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Dia Nacional do Parkinsoniano. Há o que comemorar?

Por Felipe Augusto dos Santos Mendes (*) | 05/04/2024 09:30

Você já sonhou que estava no meio da rua, tentou andar e sentiu como se seus pés estivessem grudados no chão? Você já sonhou que estava estressado e percebeu que suas mãos tremiam e todos ao seu redor te olhavam espantados? Você já sonhou que precisava se mover rápido para não se atrasar e seu corpo não se movia na velocidade necessária? Você já sonhou que sentia seu corpo todo engessado, tentava mexê-lo e ele parecia pesar uma tonelada?

Pois é! Atualmente, segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 8,5 milhões de pessoas ao redor do mundo não têm sonhado, mas têm convivido diariamente com situações como essas. Elas ilustram os principais sintomas da Doença de Parkinson (DP). O dia 04 de abril comemora o Dia Nacional do Parkinsoniano.

Porém, em vez de ressaltar as dificuldades encontradas por essas pessoas na busca por tratamento adequado, vou optar por destacar avanços das Ciências da Reabilitação, na busca por melhores opções de tratamento. Como o tratamento medicamentoso da DP tem efeitos limitados sobre o controle da doença, a reabilitação torna-se ferramenta fundamental para o seu gerenciamento.

Segundo o artigo Atualizações sobre a reabilitação da Doença de Parkinson, publicado em 2022 pela revista científica Brain & NeuroRehabilitation, terapias como os exercícios aeróbicos, realidade virtual, ioga, terapias de exercícios baseadas em dança e música, estimulação cerebral não invasiva e telerreabilitação têm se tornado aliados importantes na minimização dos impactos físicos e cognitivos causados pela doença.

Assim, exercícios aeróbicos como treinamento de caminhada em esteira e marcha nórdica (com auxílio de bastões) mostraram efetividade para melhorar a capacidade funcional, qualidade de vida, força muscular dos membros inferiores, mobilidade e marcha de pessoas com formas leve e moderada da DP.

Para pessoas com doença mais avançada, com pior equilíbrio, os treinamentos aeróbicos com uso de bicicletas ergométricas são opções recomendadas, promovendo melhora da velocidade da marcha, equilíbrio e qualidade de vida. Os exercícios de ioga, que reúnem exercícios de alongamento, posturais e de respiração, mostraram ser capazes de melhorar aspectos motores comprometidos pela doença.

As terapias baseadas em música e dança com ritmos, como o tango, valsa e foxtrot também foram efetivas para melhorar a motricidade dos pacientes, com efeitos durando por até 12 meses.

Sobre recursos mais tecnológicos, o uso de dispositivos de neuromodulação como a Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva (r-TMS) e a Estimulação Transcraniana por Corrente Direta (TDCS), que utilizam campos eletromagnéticos e correntes elétricas aplicadas sobre a cabeça do paciente de forma indolor, promoveu melhora na função motora geral e no desempenho na marcha dos pacientes.

Da mesma forma, treinamentos com uso de equipamentos de realidade virtual, como videogames baseados em movimentos (Nintendo Wii, Xbox Kinect etc.) trouxeram efeitos positivos para o equilíbrio, marcha, independência funcional, atividades de vida diária e qualidade de vida. Sobretudo durante a pandemia de covid-19, os tratamentos por meio de telerreabilitação se popularizaram e hoje são opções viáveis.

Trata-se de uma modalidade de tratamento em que o profissional de reabilitação e o paciente interagem por meio de videochamada, utilizando-se por exemplo de simples aplicativos de mensagens.

Este tipo de tratamento foi demonstrado ser viável e aceito pelos pacientes, com taxas de adesão ao tratamento similares aos dos atendimentos presenciais, trazendo benefícios idênticos ao equilíbrio, marcha e seu congelamento (quando os pacientes sentem que seus pés estão grudados no chão), além da destreza das mãos.

Enfim, a cada dia as ciências evoluem e progridem em seus conhecimentos, proporcionando às pessoas com DP, um número cada vez maior de opções terapêuticas para o melhor convívio com a doença. Portanto, vamos comemorar, sim, essa data e celebrar que estamos vivendo não mais sonhos, mas uma bela realidade!

(*) Felipe Augusto dos Santos Mendes é professor do curso de Fisioterapia e do Programa de Pós Graduação em Ciências da Reabilitação da FCE/UnB. É fisioterapeuta e doutor em Neurociências e Comportamento pela USP.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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