Evoé, Evoé! De onde vem o Carnaval e para onde vai?
Todo mundo tem curiosidade sobre como é feito o cálculo da data em que o Carnaval ocorre a cada ano. No ano 325 d.C., durante o Concílio de Niceia, autoridades eclesiásticas estabeleceram critérios para o cálculo do dia da ressurreição de Cristo. Determinaram que seria o primeiro domingo após a primeira lua cheia depois do equinócio de primavera/outono. E aí, 40 dias antes do domingo de Ramos, início da celebração da Semana Santa, ficou a terça-feira do Carnaval.
A palavra "Carnaval" vem do latim carnis levare (retirar a carne) e relaciona-se ao ritual cristão do jejum da quaresma, que se inicia a partir da quarta-feira de cinzas e, por 40 dias até a Páscoa, deve-se evitar carne, bebidas alcoólicas e sexo.
Suas origens históricas remontam às festas de Baco na Roma antiga e à tradição grega do culto a Dionísio, deuses similares do vinho, da embriaguez, dos excessos sexuais e da luxúria. Uma festividade para se embriagar, comer sem limites e entregar-se aos prazeres do sexo e das orgias.
É singularidade do Carnaval ser uma festividade da permissividade, regra intrínseca à sua natureza, onde as diferenças sociais, econômicas, políticas, diversidade de gênero e sexualidade transitam plenas ao bom convívio e interação entre as pessoas.
No Brasil, apareceu na cidade do Rio de Janeiro e foi absorvido pelos escravos, que preservaram o caráter religioso de sua origem. Apesar de ser profana, incorporou, na figura do jongo e no toque do caxambu, o sincretismo, a musicalidade, o som do batuque e a dança afro-brasileira que exalta os orixás e outras divindades presentes nos Maracatus, Afoxés e no Samba.
Com o tempo, foram naturalmente inseridos os cordões e ranchos, bailes de salão, blocos e a escola de samba, até chegar como se apresenta hoje. Patrimônio imaterial da cultura brasileira, é uma manifestação instigante e envolvente, mobilizadora da população em torno de uma efervescência de grande valor artístico e cultural.
A importância do Carnaval não está apenas na diversidade da expressão cultural que representa a sociedade e sua identidade, mas a expressão da multiculturalidade na formação imagética, da capacidade de produção criativa multifacetada, da multiplicidade de gêneros, das representatividades da tradição e das dinâmicas sociopolíticas e econômicas que estabelecem as relações entre diversidade cultural e desenvolvimento econômico.
Isso ocorre porque quando o Carnaval se manifesta como força da tradição popular em histórias, cenas, sons, ritmos, nas marchinhas cantadas nos bailes, no Frevo, no Axé, no Coco de Roda, na Ciranda e nas artes cênicas, em espetáculos complexos como o Cavalo Marinho, Boi-Bumbá, Mateus e Catirina, personagens do imaginário representativo da cena carnavalesca, se ampliam em seu espectro maior, temas contados, cantados e apresentados que envolvem relações de amor, traição, exaltação à beleza da mulher e movimenta a economia da cultura e suas transversalidades numa elaborada cadeia produtiva que envolve turismo, hotelaria, gastronomia e o mercado popular.
Essas são dinâmicas próprias da espetacularização do Carnaval no espaço urbano, que perpetua em constante movimento de evolução de uma coexistência harmônica e viabiliza, produz e reproduz imagens, expressões e representações envolvendo a população da cidade e os turistas visitantes em um fluxo coletivo formado de foliões, brincantes e artistas durante o período do Carnaval.
Hoje em dia, é uma força cultural do Brasil o Carnaval do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Recife representa uma estratégia de economia da cultura estruturada, geradora de trabalho e renda, que mobiliza e faz circular uma grande soma de recursos públicos e privados na realização do evento. Brasília ainda está engatinhando em investimento para o Carnaval em comparação com as principais capitais, mas tem a vocação por ser cosmopolita e abrigar uma multiculturalidade vinda de todos os cantos do país.
(*) Wellington Bezerra de Mello é mestrando pelo Programa de Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional pela Universidade de Brasília.