O despedaçamento do saber
Na contemporaneidade todos nós corremos o risco de nos afogarmos no mar da (des)informação. No mundo atual os saberes ainda estão fragmentados, separados e por outro lado os problemas estão cada vez mais polidisciplinares, transversais, globais/regionais e planetários. Enquanto isso, somos inundados de informações por todos os lados, e muito pouca gente consegue transformar essas enxurradas de informação em conhecimento.
Me lembra da época em que os músicos iniciantes compravam aquelas revistinhas de violão que facilitavam as cifras, trago esse exemplo para ilustrar uma tendência muito comum das pessoas em quererem facilitar aquilo que é muito complexo. E isso contribui enormemente para o despedaçamento do saber.
A hiperespecialização é resultado de uma sociedade que há muito tempo vem abandonando o seu interesse pelo “todo”, estamos indo na contramão dos gregos e aceitando os pressupostos cartesianos sem questionarmos.
Assim a hiperespecialização acaba impedindo a visão global do problema, e aquilo que é essencial passa a ser diluído ou deixado de lado. Quantas vezes nós fomos ao médico e de pronto, somos encaminhados para outro que seria o especialista. É um médico para cada parte do corpo, com isso ficamos reféns de um imenso grupo de profissionais que estão esquecendo de pensar o corpo humano como um todo, e que de certa forma ainda estão presos as partes. Existe uma gama muito pequena de profissionais da saúde que ainda ousam a pensar o corpo humano como todo, esses são sem dúvidas os melhores profissionais da área.
Como escreve o escritor Edgar Morin em seu livro: “a cabeça bem feita”: “o desafio de pensarmos o todo é um desafio da complexidade, de fato, quando os componentes que constituem um todo (como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o efetivo, o mitológico são inseparáveis e existe um tecido independente”.
Em outras palavras: o complexo deve ser tratado como complexo, não podemos mais caluniar a realidade, simplificando-a. O que mais me chama a atenção é que quanto mais a crise aumenta, mais aumenta a incapacidade de se pensar a crise. Se fala muito em reforma da previdência, mas o que de fato precisamos é de uma mudança urgente do nosso sistema de ensino, esse sim precisa ser restaurado para as próximas gerações. Como canta o rapper Criolo “Ainda há tempo”.
O agravamento da crise que assola nosso país se deve muito pelo fato da política econômica do Paulo Guedes estar desvinculada das outras dimensões humanas e sociais que lhe são inseparáveis. Ele o Paulo Guedes se recusa a enfrentar a complexidade econômica brasileira, de tal modo que o ministério da economia é um dos poucos ministérios ocupados por alguém que de fato tem um preparo técnico para assumir a pasta, mas que ao mesmo tempo é o ministério mais atrasado humanamente falando.
Hayek dizia acertadamente que “ninguém pode ser um grande economista se for somente um economista”, eu acrescento: não basta ser um economista é necessário ser um poeta. Hayek também afirma que "um economista que só é economista torna-se prejudicial e pode constituir um verdadeiro perigo”.
O nosso desafio hoje é pensarmos o problema do ensino, considerando de uma vez por todas os efeitos da compartimentação dos saberes e a incapacidade de articulá-los, com outras áreas do saber.
Segundo Edgar Morin o conhecimento só é conhecimento enquanto organização, que está relacionado com as informações e inserido no contexto destas. As informações constituem parcelas dispersas de saber. Precisamos conseguir integrar nossos conhecimentos para a condução das nossas vidas, para que assim conseguirmos surfar em meio ao mar das informações.
(*) Alex Domingos é formado em Filosofia e Mestre em estudos de linguagem.