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O sempre

Heitor Rodrigues Freire (*) | 27/03/2022 12:41

A divisão clássica do tempo, como aprendemos, é passado, presente, futuro, ou ontem, hoje, amanhã. É assim que seguimos nossa caminhada, junto com toda a humanidade. Tudo o que existe foi moldado pelo tempo. E transformado pela sua passagem, pela sua transitoriedade, tudo tem um começo, um meio e um fim. O ser humano, os animais, as plantas, os vegetais, a natureza, enfim.

Tudo tem seu tempo. O tempo é o capital que Deus, na sua sabedoria infinita, proporcionou a tudo e a todos. Todos, igualmente, recebemos a cada meia noite, 86.400 segundos, ou 1.440 minutos ou ainda, 24 horas. À medida que o tempo passa, o capital vai diminuindo.

 Cada instante vivido é um segundo a menos. Menos um, menos um, menos um... Da perfeita utilização desse capital é que cada um poderá enriquecer sua vida, pela sua ação consciente, pelo uso verdadeiro do seu tempo. Temos que considerar sempre a questão do tempo.

 O tempo é como a gleba, devolve o que recebe, de acordo com a semeadura. Assim, é importante escolher o que estamos semeando para colher o que pretendemos. A propósito, vou compartilhar uma experiência que aprendi há mais de oito anos e que executo diariamente e enriquece meu tempo. Poderá parecer piada, como eu mesmo reagi quando conheci.

Trata-se do seguinte: ao tomar banho, entrar embaixo do chuveiro de olhos fechados e só abri-los ao enxugar os pés. O aproveitamento do tempo é muito maior. Funciona mesmo. Mas tem que ter continuidade. Tudo está sujeito à passagem do tempo. Tudo. Tudo, menos Deus.

Recebi de presente da Condessa do Rio Apa, minha amiga Vera Tylde de Castro Pinto, um livro do rabino e escritor Nilton Bonder, chamado Sobre Deus e o Sempre. Nilton Bonder é um autor consagrado com mais de uma dezena de livros traduzidos em vários idiomas, em sua maioria sobre o judaísmo e suas influências. Bonder afirma que Deus está acima do tempo e vive numa dimensão própria para o seu Ser, que ele denomina Sempre: “O que faz o Sempre se assemelhar mais a um estado do que a uma existência é a falta de direção deste tempo.

É extremamente difícil imaginarmos um tempo sem direção, sem deslocamento” Para tentar transmitir a ideia do Sempre, Bonder faz uma analogia com a internet, porque a internet mistura os conceitos de tempo e espaço e dá preferência à conexão: “Talvez a conexão seja uma forma mais sofisticada de descrever a realidade do que através dos parâmetros de tempo e espaço”.

A conexão, por meio da interatividade, independentemente do número de participantes, oferece a possibilidade de compartilhar. “O ambiente é o espaço dessa partilha”. “O lugar de absoluta interatividade é onde Deus reside.

É interessante notar que a experiência humana de interagir se manifesta através de algo muito concreto – o afeto”. Deus é esse afeto cósmico, segundo ele. Enfim, é uma tese interessante e naturalmente nos leva a uma imersão interior para procurar entender toda essa lógica. Recomendo a leitura do livro do rabino Bonder. Entendo que Deus, evidentemente, não está no mesmo nível das suas criações. Está acima de tudo, de onde comanda todo o Universo.

Assim, não está sujeito às variações de tempo e de espaço, nem às intermitências de clima, pressão e temperatura. Deus é Deus. Único. Soberano. Para terminar, um verso antigo e apócrifo: “O tempo perguntou ao tempo, Que tempo o tempo tem? E o tempo respondeu ao tempo, O tempo que o tempo tem, É o tempo que o tempo tem”.

Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.

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