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Pantanal: ficção e realidade

Iran Coelho das Neves (*) | 01/04/2022 09:16

Se as tramas e os dramas da novela da Globo são frutos de criação artística, as imagens magníficas que ora põem o Pantanal na casa de milhões de brasileiros são reais, retratam um ecossistema único no planeta. E uma gente extraordinária.

A estreia do remake da novela Pantanal, 32 anos depois que o folhetim original foi exibido pela hoje extinta TV Manchete, tem potencial para despertar o interesse de boa parte dos brasileiros por um dos mais ricos e delicados patrimônios naturais da Terra.

Se levarmos em conta que a última vez que a planície pantaneira dominou o noticiário foi por conta da tragédia ambiental causada pelas queimadas que devastaram a região há menos de dois anos, a novela que a Globo começa a exibir, embora seja uma obra ficcional, tem a ‘virtude subjacente’ de reinserir no imaginário coletivo o Pantanal em toda a sua exuberante e frágil riqueza natural.

Se as tramas e os dramas que sustentam a novela da Globo são frutos de criação artística, as imagens magníficas que ora põem o Pantanal na casa de milhões de brasileiros são reais, retratam a grandiosidade natural de um ecossistema único no planeta, expõem uma biodiversidade ímpar e, sobretudo, revelam o jeito de ser e de viver da extraordinária “gente pantaneira”, na expressão do notável escritor Abílio Leite de Barros, em obra fundamental para uma iniciação sobre a região (‘Gente Pantaneira – Crônicas de sua História’, Editora Nova Aguilar, 1998).

Com essa perspectiva, a obra ficcional de algum modo celebra a redenção real do Pantanal, após o desastre apocalíptico dos grandes incêndios de 2020. Contudo, sempre será necessário muito cuidado ao estabelecer paralelos entre realidade e ficção.

Inúmeras reportagens têm registrado o “milagre” da regeneração do ecossistema pantaneiro, mesmo em áreas duramente castigadas pelas queimadas de dois anos atrás. Trata-se de algo alentador, pois confirma a força da natureza para se refazer dos revezes que o homem lhe impõe, por interesses imediatistas ou ‘simplesmente’ por descuido.

Porém, especialistas alertam que a restauração completa da biodiversidade, com plena retomada da cobertura vegetal capaz de assegurar o repovoamento de diferentes espécies de animais que habitavam áreas devastadas pelo fogo, pode demorar anos ou até décadas.

Felizmente, o Pantanal agora mostrado ao Brasil pela Globo não é “coisa de novela”, mas a realidade quase “edênica” de uma parte da imensa planície pantaneira que não foi tão duramente castigada pelo fogo descontrolado. Neste sentido, como já dito, ao expor a riqueza de vida, as deslumbrantes belezas das águas e das planícies que alimentam os rebanhos que sustentam, secularmente, a ocupação ambientalmente correta do Pantanal, o festejado folhetim celebra a revivescência da rica e delicada região pantaneira.

Com o privilégio de viver no Estado que detém a maior parte do Pantanal, o orgulho de partilharmos de uma região considerada Patrimônio Natural da Humanidade deve ser proporcional à responsabilidade que devemos ter com a sua conservação.

Reponsabilidade que não deve recair apenas sobre os que habitam a planície pantaneira, mas que é – ou deveria ser – de todos os que se preocupam em legar para as gerações futuras uma das mais belas, ricas e delicadas regiões da Terra.

(*) Iran Coelho das Neves é presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul.

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