Poderes em dilemas
Para 2024 a máquina pública de MS custará R$ 20,7 bilhões aos contribuintes. Os repasses para outros poderes, a bagatela de R$ 3,135 bilhões. Portal da transparência deve te detalhar para onde vai essa grana toda.
Começamos o ano com envolvimento de Desembargador metido em atitudes arrepiantes, trocando o caráter público pelo luxo pessoal. Não bastasse, os presidentes da Assembleia e Tribunal de Contas não são estreantes na mídia. Em páginas destinadas aos pecados do caráter, mostraram seu ladinho voraz de poder. Ignorando sinais óbvios, o mosquitinho da dengue voltou ao noticiário, desnudando o combalido sistema de saúde.
A crise climática colocou o pessoal da monocultura com as barbas de molho. Mundo afora, as guerrinhas, que só ferram os pobres e oprimidos, estão em alta. O capitalismo selvagem neoliberal, mais uma vez revela sua maestria em se reinventar. Desta vez, usando uma IA(inteligência artificial). Como se ela fosse capaz de civilizar os lobos em que se transformaram os homens de negócios. A mim não me preocupa essa nova estratégia, pois minha inteligência natureba está de bom tamanho para compreender as intempéries humanas.
De artificial, apenas me preocupa o dilema dos Poderes constituídos. Quanto mais exigidos e necessários, mais enclausurados em seus confortáveis gabinetes, com o ar condicionado do corporativismo. Mutirões não bastam. Migalhas em forma de bolsas caridosas, com grandiloquência de políticas públicas, não é sinônimo de dignidade.
Enquanto isso, mortes e doenças se avolumam, tornando-se notícias com viés de excepcionalidade, como se a vida feliz ainda fosse uma promessa existencial para todos. Temos mais um dilema atroz para os contribuintes. Ter, por imposição “legal”, que remunerar os novos bárbaros da hipermodernidade e seus serviços burocratizados e morosos, a legitimar os obscuros e tortuosos caminhos do dinheiro público. Penso que a mídia contemporânea acomodou-se na entrega de informação, acreditando piamente nos mecanismos fiscalizadores do Estado Democrático de Direito.
No entanto, por paradoxal que possa parecer, o dilema na autoridade do Estado parece nutrir uma nova espécie de tribo – o crime organizado. Um outro tipo de Poder não legitimado, mas com boa capacidade corruptiva. Seu principal instrumento é o mesmo que o cidadão paga para ter um poder legalizado e normatizado: o dinheiro ou a pecúnia, se preferirem. Um dilema e tanto para os civilizados e obedientes cidadãos.
Tais dilemáticas reflexões, talvez sejam as mesmas que o fracassado fenômeno bolsonarista não soube traduzir para o eleitorado. Faltou sinceridade. Um pouco de cérebro também. Mais um Mito popular fracassado. Diante de tais dilemas preocupantes, a de se perguntar se “tem jeito este mundo de meu Deus”?
A esperança menos sonhadora seria eleições democráticas neste ano. Mas, como as famosas redes sociais, seu uso inteligente e sábio, causa temor e dúvida. Boas ferramentas nem sempre fazem boas peças. É preciso certo talento, composto de atitude desapegada do ego pessoal. Estamos perdendo os parâmetros do que seja bom e útil para o Bem Comum.
Muito próximo de um quadro de neurose institucional. Lembremo-nos que o neurótico é aquele que não consegue enxergar o óbvio. Por tudo isso, a melhor pegada humana é a esperança de poder reinventar seu cotidiano medíocre. Fora isso, melhor relembrar a frase conhecida e adequada para estes novos tempos de crise de valores, de clima e de estética - “O HOMEM É O LOBO DO HOMEM”. Thomas Hobbes.
(*) Gilberto Verardo é Psicólogo humanista.