Qual o ideal para a leitura: papel ou tela?
Para a expressão humana, oral ou escrita, é essencial haver conhecimento prévio. Sem esse processo de input, que representa o que consumimos por meio da visão e da audição, o produto de nossas manifestações tem seu refinamento prejudicado. Assim como precisamos ingerir alimentos para termos o corpo sadio, precisamos nos alimentar de informações para podermos exteriorizar tanto nossos conhecimentos quanto nossos sentimentos e pensamentos. Consequentemente, precisamos de fontes que supram nossas carências e, no caso, da comunicação humana, esses recursos podem vir de forma física, virtual, por meio de texto estático ou em movimento; o que prevalece, de fato, é o teor a ser recebido, processado e filtrado.
Em razão disso, a forma como acessamos nossas fontes fica em segundo plano e, como é de senso comum, o livro, seja em formato digital ou físico, permanece como um dos mais ricos fornecedores. Tem-se, no entanto, que analisar qual tipo de “alimento” é mais saudável e produtivo para nós. Para muitos, as representações em movimento, com aplicativos que oferecem uma diversidade de ferramentas para ampliação do conhecimento simultaneamente à leitura, são mais eficientes e prazerosas. A comunidade científica e tecnológica, porém, tem nos alertado com frequência que o excesso de exposição a telas é prejudicial à saúde e ao desenvolvimento cognitivo. Portanto, se esse for o suporte favorito, deve-se levar em conta o tempo de utilização, pois tudo em excesso é prejudicial à nossa saúde física e mental. Contudo, se usado com moderação, o recurso digital pode ser extremamente frutífero. Além disso, temos que reconhecer que essa tecnologia veio para ficar; assim, temos que nos adaptar a ela de forma consciente e benéfica.
Apesar dessas considerações, o livro físico é, com certeza, o portador de mais benefícios ao desenvolvimento das habilidades humanas, a começar pelo estímulo aos nossos sentidos. É importante, por exemplo, pegar o livro, fazer o movimento de dedos, virar páginas para frente e para trás, posicioná-lo em diferentes sentidos para exercitarmos a capacidade motora ao mesmo tempo que movimentamos nosso corpo. Além disso, ao passarmos de um capítulo para outro, sem distrações chamativas e alheias, com o intuito de estabelecermos conexões entre personagens e ações, entre causas e consequências, promovemos nosso potencial cognitivo, essencial para o funcionamento neurológico e linguístico. A compreensão só se faz efetiva a partir do entendimento das relações entre as palavras e as mensagens pretendidas por seus interlocutores e “passear” livremente pelas páginas de um livro ainda nos é um instrumento robusto para a manutenção de pequenas, mas eficazes, aptidões humanas, como o manuseio dos dedos e das mãos, para atingirmos habilidades mais complexas como a compreensão da linguagem em seus diferentes níveis e suportes.
Dentro do contexto em que vivemos, o livro físico ainda é o formato que melhor estimula nossa criatividade, nos acalma, desligando-nos do agitado mundo externo, desenvolve nossas habilidades de forma saudável e nos faz olhar além da superfície, afinal, como diria Antoine de Saint Exupéry, “o essencial é invisível aos olhos”.
*Mara Campos, licenciatura em Letras, é especialista em Metodologia de Ensino, Direito e Educação