Toda criança com câncer merece o melhor tratamento em todos os lugares
O dia 15 de fevereiro, Dia Internacional do Câncer Infantil, é uma campanha colaborativa mundial para aumentar a conscientização do câncer infantojuvenil, favorecendo o acesso desta população aos melhores tratamentos e medicamentos, em qualquer lugar do mundo, além de enfatizar o papel crucial da participação comunitária na abordagem dos desafios relacionados com esta doença.
A cada três minutos uma criança morre de câncer. Todos os anos, mais de 400.000 crianças e adolescentes com idades entre 0 e 19 anos são diagnosticadas com câncer em todo o mundo. No Brasil, são esperados 7.930 casos novos, sendo 4.230 casos no sexo masculino e 3.700 no sexo feminino, para cada ano do triênio 2023-2025, tornando o câncer infanto-juvenil líder no ranking de causas de mortes, por doença, em crianças e adolescentes, entre 0 a 19 anos. Os tipos mais comuns incluem leucemias (câncer da medula óssea), linfomas (câncer do sistema linfático) e tumores do sistema nervoso central.
A maioria dos cânceres na infância pode ser curada com uma combinação de quimioterapia com outros tratamentos, tais como cirurgia e radioterapia, aplicados de forma racional e individualizada, para cada tipo específico e de acordo com a extensão clínica da doença.
Diferente de alguns cânceres dos adultos que podem ser prevenidos, as causas da maioria dos cânceres infantis ainda são desconhecidas. Mas, graças aos avanços significativos das pesquisas clínicas e das modalidades terapêuticas, hoje a taxa de sobrevivência de crianças e adolescentes é em torno de 80% na maioria dos países de alta renda. No entanto, em países de média e baixa renda ainda não ultrapassa 20% de sobrevida.
As mortes evitáveis por câncer infantojuvenil em países de baixa e média renda resultam da falta de diagnóstico; diagnóstico incorreto ou diagnóstico tardio; obstáculos ao acesso ao atendimento; abandono do tratamento, morte por toxicidade e taxas mais altas de recaída. Apenas 29% dos países de baixa renda relatam que os medicamentos contra o câncer geralmente estão disponíveis para suas populações, em comparação com 96% dos países de alta renda, impactando na sobrevida de crianças e adolescentes. Isso pode e deve mudar!
Para minimizar esta disparidade, em 2018, a Organização Mundial de Saúde (OMS) junto com instituições hospitalares, ministérios da saúde, oncologistas pediátricos e fundações que atuam nos cuidados de crianças e adolescentes com câncer, implementaram a “Iniciativa Global para o Câncer Infantil” que tem como meta alcançar pelo menos 60% de sobrevivência para todas as crianças diagnosticadas com câncer em todo o mundo até 2030.
Isso representa uma duplicação aproximada da taxa de cura atual e salvará a vida de mais um milhão de crianças na próxima década. Concretamente, os pacientes precisam ser diagnosticados precocemente e ter acesso a medicamentos e tratamentos em centros especializados.
Diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce acontece quando os sinais e sintomas das neoplasias são detectados na sua fase inicial, em estágios mais localizados, permitindo a redução das complicações agudas e tardias do tratamento. Isso reforça a necessidade de famílias e profissionais de saúde conhecerem os principais indícios que podem acontecer no início da doença e buscarem atendimento especializado. Alguns sinais e sintomas que podem estar relacionados ao câncer infantojuvenil são:
- palidez, hematomas ou sangramento; caroços ou inchaços, especialmente se forem indolores, sem febre ou outros sinais de infecção; perda de peso inexplicada ou febre, tosse persistente ou falta de ar; alterações nos olhos, como: pupila branca, estrabismo de início recente, perda visual, hematomas ou inchaço ao redor dos olhos; inchaço abdominal; dores de cabeça, especialmente se for incomum, persistente ou grave, vômitos (em especial pela manhã ou com piora ao longo dos dias); dor em membros como braços ou pernas, ou dor óssea, inchaço sem trauma ou sinais de infecção; cansaço excessivo.
Sabendo da importância do diagnóstico precoce para uma maior sobrevida dessas crianças, é fundamental a presença de uma equipe de saúde qualificada desde a Atenção Primária a Saúde, com uma rede de atenção bem articulada para o seu adequado encaminhamento para centros especializados.
Os centros especializados oferecem os melhores tratamentos e equipes capacitadas para cuidar de crianças e adolescentes como um todo, considerando não só a doença, mas, o individuo e sua família, suas dores, emoções e necessidades específicas, com foco na qualidade de vida durante e após o tratamento.
A luta de todos os profissionais contra o câncer infantil precisa estar ancorada em conhecimento dos sinais e sintomas para o diagnóstico precoce e em um cuidado de qualidade e humanizado, tanto para as crianças como para suas famílias. Assim, no dia de hoje, a mensagem principal é: “A taxa de sobrevivência do câncer infantojuvenil não deve ser determinada pelo seu local de nascimento”. Toda criança com câncer merece o melhor tratamento em todos os lugares.
(*) Adriana Maria Duarte é professora do curso de enfermagem no campus Faculdade de Ceilândia na Universidade de Brasília.