Uma crônica: E se chover antes
Estava eu numa reunião, como ouvinte, que discutia a problemática do Buracão da Nova Lima. Alguém propôs que o nome mudasse para Buracão do ... mas a moção sequer foi levada a debate pelo coordenador do conclave porquê feria o decoro público.
Falaram todos. Falou a digníssima representante do Legislativo Municipal (que no ano que vem será acrescido de mais 8, diga-se de passagem), da OAB, das ONG´s, de associações, clube de mães, e por fim se constituiu um Comitê!
Seu Joaquim depois de ouvir a explanação da problemática pediu a solicionática para um buraco, que, já se sabe, não basta tapar, que ele aparece maior. Aumentando igualmente o rombo nos cofres públicos.
Mas a pergunta da Dona Maria, que estava ao meu lado, foi para mim a síntese da assembléia popular-ambiental, como fez questão de frisar o Haroldo para delimitar o caráter do encontro entre a academia, ong´s e o povão.
Dona Maria, morando atualmente perto do tal buraco e – pela lógica da sua evolução – na sua rota voraz, estava visivelmente preocupada. Ficou mais ainda quando o Haroldo Borralho do Cedampo botou fogo no debate dizendo que famílias teriam que ser removidas compulsoriamente por conta da interdição de casas pela Defesa Civil caso ocorresse uma chuva de maiores proporções que a última. Ela olhou pela janela, e as nuvens – podia-se ver em seus olhos – tinham um aspecto nitidamente ameaçador.
O debate continuou e no final, além do tal Comitê, tiram-se encaminhamentos para serem levados à Câmara de Vereadores, Ministério Público e Prefeitura. Para isso demandaria tempo. Coisa para semana que vem. E a Dona Maria olhando as nuvens. Ela estava preocupada com outro tempo. O diabo é que o fosso no tempo dos políticos com o tempo real (inclusive com o imprevisível tempo de São Pedro) pode levar o buraco a engolir casas, comércio, ruas inteiras.
Mas por quê a pergunta da Dona Maria foi a síntese?
Porquê, no final dos debates ela me cutuca e pergunta:
"Mas... e se chover antes?"
(*) Eber Benjamim é jornalista