Para o ano criança 2024, um lugar de renascimento
Querido ano novo, escrevo da cadeira de balanço suspensa próximo à janela do meu quarto. O sol, descendo no céu, já pode descansar pelo chão da varanda. Por isso estou nua. Para ser acarinhada pela energia de vida incandescente. Quero estabelecer uma relação de intimidade e reconhecença contigo. Posso seguir te chamando apenas de vinte e quatro? Pois bem, preciso contar sobre isso bonito unindo nossos próximos passos nessa existência. Temos a mesma idade, sabe? Renasci de faz pouco. E crianças que somos, não suportamos peso.
Deixemos de lado os fardos e bora sair por esse mundão com olhos de encantamento! Precisa uma capanga vazia para encher no caminho. Você tem cara de quem guarda coisas inacreditáveis! Isso eu gosto! Enquanto você nascia, fiz um propósito: no teu ciclo bebê, nesse janeirinho engatinhando, conhecer, trocar algumas palavras, ou muitas, com pelo menos duas pessoas ao dia. Hoje, por exemplo, conheci, na loja de mochilas, um casal bonito, desses que reascendem a fé no amor, e conheci, enquanto te fazia o primeiro canto de capoeira, um garoto que ama livros e tem um botão quebrado para desligar a fala.
Amanhã, coloco a mochila nas costas para obedecer à escrita. Um ritual de agradecimento à literatura porque trouxe vida incandescente em meio ao caos do teu antecessor. Eliot, protagonista de um romance em construção, me chamou para São Thomé das Letras. E eu vou. Não ganhei na Mega. Também não me resolvi com todas as pessoas que gostaria, antes da tua chegada. Não pulei ondas à meia noite, nem usei amarelo. E há essa sensação de que tudo caminha bem. Usei rosa para meu próprio amor, e calcinha vermelho-cor-de-luta. Vem que eu te abraço.
Por Eva Vilma, poeta.