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Cidades

Com aumento de jovens no crime organizado, evasão escolar cresce

Pesquisas indicam maior participação de crianças e adolescentes em ato infracionais, entre Brasil e Paraguai

Guilherme Correia | 27/02/2023 15:03
Criança em frente a um policial com fuzil, em Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai. (Foto: Marcos Maluf)
Criança em frente a um policial com fuzil, em Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai. (Foto: Marcos Maluf)

Pesquisas apontam aumento da evasão escolar de crianças e adolescentes na fronteira do Brasil com o Paraguai, associado a maior participação dos menores no crime organizado, sobretudo o tráfico. Além de cidades paranaenses, o município de Ponta Porã, a 323 quilômetros de Campo Grande, é um dos citados.

Conforme pesquisa da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), que analisou o perfil dos atos infracionais praticados por crianças e adolescentes na cidade ponta-poranense, além de Foz do Iguaçu (PR) e Guaíra (PR), principais motivos que levam tais pessoas ao contrabando de cigarro é a facilidade em cometer os atos (16,3%) e as penas brandas (16,3%).

Em seguida, ter pais ou parentes que atuam no contrabando representa 13,3% do total de respostas, seguido por não ver o contrabando como ato ilegal (11,2%), margem de lucro (11,2%), necessidade de sobrevivência (7,1%), fazer parte da cultura local (5,1%), não ter opção (4,1%), problemas de formação familiar (4,1%) e outros motivos (11,2%).

A pesquisa do economista Pery Francisco Assis Shikida, professor da Unioeste, aponta que é cada vez mais recorrente a cooptação dos menores. "O trabalho de crianças e adolescentes nessa região traz uma lucratividade acima da média, então eles são cooptados. Isso vai refletir em alguns indicadores sociais dos municípios, como a evasão escolar", diz o professor.

No País, a taxa média de evasão escolar no Ensino Médio em 2021, segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), foi de 5,6%. Já a média entre os municípios das fronteiras chega a 10,1%, de acordo com o Idesf (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras). Em Ponta Porã, essa taxa chega a 16,2%.

Em todo o Brasil, há 588 municípios na faixa de fronteira terrestre, representando 16% do território nacional. No geral, os problemas sofridos são altos índices de criminalidade, falta de saneamento básico e taxas elevadas de abandono escolar. Vale ressaltar que boa parte das regiões é dominada pelo crime organizado, o que atinge em cheio o desenvolvimento regional.

 Ao jornal Folha de S. Paulo, o presidente do FNCP (Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade), Edson Vismona, destacou a falta que o Estado faz em tais localidades. "O crime organizado está se aproveitando de um espaço que o Estado deixa de ocupar. O Estado precisa estar presente nas fronteiras não só na segurança, mas no desenvolvimento econômico”.

Segundo ele, o contrabando é apontado como um delito de menor potencial ofensivo, por isso o aliciamento fica mais fácil: "Cria-se uma mística de que não é tão grave, mas é grave sim. Por trás disso existe uma movimentação de bilhões de reais que financiam as organizações criminosas".

Perfil socioeconômico da região feito pelo Idesf revela ainda outros desafios dos municípios nas fronteiras, tais como sistema de saúde precário para atender a todas essas áreas, falta de emprego e renda generalizada.

O doutor em História Marco Aurélio Machado de Oliveira, professor titular da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), comenta que faltam políticas públicas específicas em regiões de fronteira: "A fronteira não é planejada, é lembrada quando os assuntos são aqueles que interessam ser lembrados. A fronteira é lembrada quando tem ilícito e violência [...] precisa ter uma política mais coerente, coesa e de longa duração".

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