Condenação de Rondon "perdeu sentido" para vítima de cirurgia plástica
Maria Tereza fez cirurgia abdominal aos 28 anos e, hoje, aos 51 anos, ainda sofre efeitos. "O que tem sentido é sair indenização"
O mandado de prisão contra o médico cassado Alberto Jorge Rondon de Oliveira seria um alívio para a aposentada Maria Tereza Almeida de Souza Malta, 51 anos, se tivesse sido expedido há vinte anos. Hoje, diz que a decisão “perde o sentido” e reivindica a indenização para conseguir fazer o tratamento médico.
Ontem (22), a 1ª Vara de Execução Penal de Campo Grande determinou a prisão para que se cumpra a pena de 13 anos e meio de reclusão por lesão corporal a dezenas de pacientes mutiladas em cirurgias plásticas mal sucedidas.
Maria Tereza foi uma delas, depois de fazer cirurgia plástica abdominal, aos 28 anos. Pouco tempo depois, vieram as consequências do procedimento mal feito: encurtamento nos nervos da perna, depressão e fibromialgia. Até hoje faz fisioterapia e tratamento psiquiátrico.
“A essa altura do campeonato, a prisão dele é irrisória para mim; o que tem sentido é sair a indenização para eu conseguir pagar médico especialista de fibromialgia”, lamentou. “Hoje, por exemplo, não consigo nem fazer almoço, de tanta dor nos pés e nas mãos”.
A aposentada disse que entrou com ação individual contra Rondon e o CRM (Conselho Regional de Medicina em MS), logo depois que o caso veio a público, na década de 1990 e, até agora, não recebeu indenização, corrigida para R$ 150 mil.
“Para muitas como eu, é mais importante hoje o dinheiro para o tratamento, dependo do SUS, preciso de um especialista em fibromialgia”, disse Maria Tereza. “Poxa, eu tinha 28 anos quando fiz a cirurgia, eu estou com 51, quando vai sair essa indenização?”.
Nas ações contra Rondon, o CRM foi condenado, sendo responsabilizado solidariamente pela reparação dos danos às vítimas. Até 2018, a informação é que o conselho pagou R$ 466 mil em indenizações, priorizando as ações coletivas. Maria Tereza disse que até hoje não recebeu o valor deferido judicial, sob alegação de que o CRM não tinha recursos.
A assessoria do CRM/MS informou que vem cumprindo de forma criteriosa as determinações judiciais, tendo sido realizados até o presente momento diversos acordos, conforme a disponibilidade orçamentária da entidade.
Em agosto deste ano, 22 anos depois da denúncia, Rondon foi condenado a 46 anos de prisão por sucessivas lesões corporais decorrente de cirurgias estéticas mal sucedidas em cinco mulheres.
Prisão – no mandado, o juiz titular da 1ª Vara de Execução Penal, Mário José Esbalqueiro, avaliou que não elementos que justifiquem a manutenção da prisão domiciliar e determinou perícia médica para averiguar se o condenado realmente necessidade de cuidados especiais relatados pelo advogado, Fábio Trad Filho.
O argumento apresentado foi de que Rondon, de 63 anos, depende de aplicação de insulina para controlar a diabetes, além de fazer tratamento para pressão alta e dislipidemia (elevação de colesterol que aumenta chance de entupimentos das artérias).
O advogado Fábio Trad Filho disse que ainda não foi oficiado da decisão e, que assim que for intimado, “entrará com recursos cabíveis”. Ele não quis falar se Rondon está ciente do mandado de prisão e como está o tratamento atualmente.
O mandado de prisão foi encaminhado à Delegacia Especializada de Polinter e Capturas (Sistema de Polícia Interestadual), procedimento necessário caso o réu seja considerado foragido e precisa ser encontrado fora de Mato Grosso do Sul.
O mandado foi expedido para cumprimento em Bonito, endereço que consta como sendo de Rondon desde a prisão domiciliar. A reportagem apurou que o médico cassado estaria em Campo Grande e essa alteração precisa ser atualizada no sistema, caso seja atestada.