Entre tropeços, quedas e queimaduras, acidentes domésticos já cresceram 86%
Este ano, Santa Casa quase o dobro dos acidentes domésticos em relação ao primeiro trimestre do ano passado
O pequeno Artur, de dois anos e meio, está agitado. Trancafiado em casa e com a família toda sem ter como sair na quarentena, a ansiedade da criança é visível. É o que conta a mãe, de 18, Gabriele Iasmin, que vive com os pais em Campo Grande. Agitado, Artur resolveu mexer em uma jarra com chá de erva cidreira recém fervido, na semana passada. A criança queimou 10% do corpo, entre braços e peito e é uma das vítimas de queimadura por líquido superaquecido da Santa Casa em 2020.
Este ano, apenas nos atendimentos de queimaduras desse tipo (quando a vítima derruba café, leite ou chá) nos primeiros três meses do ano, foram 19 pessoas. Dados do hospital indicam que de modo geral, até agora, há em média 2 pacientes a mais por mês na Santa Casa vítimas de todos os tipos de queimadura no comparativo com o ano passado.
“Ele está internado há 4 dias. Foi colocar a mão, ele queimou o rostinho e o peito, derrubou a jarra, não vimos, foi o tempo de eu ir ao banheiro. Moro com a minha mãe, pai e irmãos. Está todo mundo de quarentena. Ele só fica em casa, mas ele queria sair, brincar, mas como lá é tudo fechado”, conta Gabriele.
Outros acidentes que ocorrem dentro de casa também aumentaram, conforme dados da Santa Casa e do Corpo de Bombeiros. Segundo o hospital, em 2019 o registro foi de 43 pessoas que precisaram de atendimento no pronto-socorro por acidentes domésticos, mas este ano o número saltou para 80, um aumento de 86%.
Outro aumento registrado foi o de quedas acidentais, de 360 em 2019 para 394 este ano. De quedas nas escadas, de 39 o número passou para 60 em 2020.
Militar do Corpo de Bombeiros, o tenente coronel Fernando Carminati explica que os pedidos de socorro por quem tropeçou, em especial os idosos, aumentaram este ano. Único grupo que enfrenta quase quarentena total por sere mais vulnerável à Covid-19, os idosos costumam representar boa parte dos pedidos de socorro segundo Carminati.
“A gente tem relacionado aqui principalmente de idosos, é porque como as pessoas têm ficado muito em casa são suscetíveis a sofrerem acidente doméstico. A pessoa tropeça no tapete, escorrega, acaba caindo e sofrendo lesão”, comentou.
O tenente coronel também afirma que os “pequenos reparos” dentro de casa também têm provocado acidentes. “Sexta-feira teve uma pessoa que faleceu subindo no telhado, subiu numa escada e caiu. As vezes vai mexer em portão, o portão cai em cima, está tendo várias ocorrências”, relata.
Segundo os dados levantados pelo Corpo de Bombeiros entre março e abril no comparativo de 2019 e 2020, o aumento com maior destaque é o da queda da própria altura, que subiu 15% este ano, passando de 201 casos de atendimento dos bombeiros em 2019 para 232 entre março e abril de 2020.
Os afogamentos, segundo Carminati, ocorreram todos no interior de Mato Grosso do Sul e o tenente coronel avalia que as pessoas têm se aventurado a nadar nos rios durante a quarentena. No mesmo período, enquanto os bombeiros foram chamados para resgate de apenas 1 pessoa em 2019, em 2020 já foram acionados 4 vezes.
“O afogamento foi no interior, pode ter relação com a flexibilização da quarentena de combate ao coronavírus. Não sei se o pessoal está em teletrabalho, e vão aos rios por estar muito calor, tempo muito quente”, avalia.