Justiça de MS extingue ação contra Beira-Mar sobre sequestro do filho de Lula
Para o traficante colombiano Juan Carlos Abadia, atualmente nos EUA, a ação não foi extinta, apenas suspensa
Quase 15 anos depois da deflagração da Operação X, a Justiça Federal extinguiu a ação contra Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e mais seis acusados por associação criminosa. Entre os planos do grupo que a investigação teria apurado, em 2008, estava a existência de plano de sequestrar o filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então no seu segundo mandato.
O processo tramitou em Mato Grosso do Sul pois os líderes e financiadores estavam detidos no Presídio Federal de Segurança Máxima de Campo Grande: além de Beira-Mar, o plano de sequestro teria a participação monetária do traficante colombiano Juan Carlos Abadia e de José Reinaldo Girotti, este, preso pelo assalto ao Banco Central. A PF havia apurado que o “pool” de criminosos iria auxiliar na empreitada, que envolvida extorsão e sequestro com US$ 500 mil.
No despacho da 5ª Vara da Justiça Federal de Campo, também consta a extinção da punibilidade para José Reinaldo Girotti, o advogado Vladimir Búlgaro, João Paulo Barbosa, Leandro Oliveira e Leonice Oliveira e Ivana Pereira de Sá, esta, a ex-mulher de Fernandinho Beira-Mar.
A decisão determina a restituição dos bens apreendidos, sendo dois celulares e um disco rígido, além da restituição das fianças pagas pelos indiciados, depois que a operação foi deflagrada.
Para Juan Carlos Abadia, a Justiça determinou a suspensão do processo, sob justificativa da dificuldade de citação do réu, preso desde 2008 nos Estados Unidos. Pelo despacho, o prazo da suspensão é regulado pela pena prevista para o crime de associação criminosa, que pode variar conforme a pena estabelecida. Neste caso, seria de 12 anos.
Abadia foi extraditado para os Estados Unidos em 20 de agosto de 2008, 15 dias depois de deflagrada a Operação X. Antes, havia sido preso em 2007, em São Paulo, considerado um dos líderes do cartel Vale do Norte e acusado de centenas de assassinatos. Atualmente, o paradeiro é incerto. Em 2011, entrou no Programa de Proteção às Testemunhas e sumiu.
Quando a Operação X foi deflagrada, reportagem da Folha de S. Paulo trouxe que foi justamente Abadia quem implodiu o plano, porque queria que sua mulher fosse transferida de presídio, em São Paulo. O alvo era Luís Cláudio Lula da Silva, que já estava sendo monitorado. Até cativeiro escolhido havia sido definido, em Mairiporã (SP).
O advogado Felipe Ballarin Ferraioli, que representava Vladimir Búlgaro, diz que o processo nunca se desenvolveu. “Apresentamos defesa preliminar, mas, depois, não teve nenhuma audiência, não citaram o Abadia, nada aconteceu”, lembra.
No dia 5 de agosto de 2008, Vladimir Búlgaro chegou a ser preso quando a Operação X foi deflagrada, permanecendo dez dias até ser liberado. Morreu em 2021, vítima de covid.
Luiz Fernando Beira-Mar, depois de idas e vindas de presídios federais, voltou a ocupar uma cela do estabelecimento federal em Campo Grande. José Reinaldo Girotti foi transferido em 2009 para penitenciária paulista. A reportagem não localizou o paradeiro atualizado dos outros investigados.