Justiça liberta jardineiro acusado de movimentar R$ 3 milhões para “máfia”
Grupo era liderado pelo subtenente Silvio Molina e tinha ligação com o PCC
A Justiça Federal mandou soltar o jardineiro Kaique Mendonça Mendes, que estava preso há três anos na operação Laços de Família e é acusado de movimentar R$ 3,3 milhões, apesar de na época se apresentar como estudante e nem declarar Imposto de Renda.
O juiz da 3ª Vara Federal de Campo Grande, Bruno Cezar da Cunha Teixeira, concedeu a liberdade durante reavaliação da prisão preventiva, procedimento realizado a cada 90 dias.
O magistrado citou o avançado do tempo e que Kaique Mendes não exercia função de liderança ou gerenciamento na organização criminosa alvo da PF (Polícia Federal) em 25 de junho de 2018. Conforme a decisão, o grupo foi sufocado financeiramente e, portanto, não teria mais capacidade de manter “laranjas”, situação de Kaique.
“Lícito dizer que a capacidade financeira do grupo criminoso teria sofrido um severo abalo com a prisão de toda a estrutura conhecida de comando, gerenciamento e coordenação, estrangulada a capacidade de realizar movimentações nas contas, ao menos, dos principais ‘laranjas’ qualificados”, informa o magistrado.
O juiz revogou a prisão preventiva e impôs as seguintes restrições: ele deve se apresentar mensalmente em juízo, só pode ingressar no Paraguai com autorização judicial, fica proibido de ter contato com os demais réus e não pode mudar de endereço sem comunicar o Poder Judiciário.
Conforme a denúncia do MPF (Ministério Público Federal), Kaique realizou diversas transferências no período de 2014 e 2015 a outros integrantes do grupo. “É visível que esses valores transitavam a mando de outras pessoas, já que ele não tinha condições financeiras para tanto. Ao tempo das investigações, Kaique tinha 20/21 anos e nunca declarou Imposto de Renda, se dizia ‘estudante’, atividade que não comporta tamanha movimentação financeira”.
O magistrado manteve as prisões do policial militar Silvio César Molina Azevedo (apontado como líder do tráfico de maconha e de “máfia” na fronteira), Douglas Alves Rocha Molina, Jefferson Alves Rocha, Bonyeques Piovezan, Marcos Teixeira, Cláudio César de Morais, Jair Rockenback, João Clair Alves, Maicon Henrique Rocha dos Nascimento e Mayron Douglas do Nascimento Velani. Silvio Molina foi afastado da Polícia Militar somente em 2021.
“Quanto aos demais presos, frisa-se que a substituição das prisões preventivas por medidas cautelares diversas não se indica, pois que, neste caso concreto, não se afiguram suficientes para a garantia da ordem pública e para assegurar a aplicação da lei penal”.
Ainda de acordo com o juiz, a sentença da operação Laços de Família está em elaboração e que labora para entregar um julgamento justo. “Sendo lícito ressaltar a imensa complexidade do feito, envolvendo a análise de copioso material probatório, envolvendo dezenas de milhares de páginas de documentos e dezenas de horas brutas de depoimentos, além de relatórios fotográficos, análises de informações bancárias e tributárias”.
Conforme a advogada Lilian Peres Medeiros, Kaique Mendonça Mendes foi solto na sexta-feira.
Máfia de Família - De acordo com as investigações, o subtenente Silvio César Molina Azevedo liderava um grupo que atuava com características de máfia em Mundo Novo, a 476 km de Campo Grande, e tinha relações comerciais com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). O estilo era o ostentação, com veículos de luxo (incluindo Ferrari), viagens e festas.
Foram identificados vários núcleos, como o familiar, que era liderado pelo policial; o operacional e apoio logístico, integrados por gerentes; e os “correrias”, definição para quem presta toda a sorte de serviços (motorista, segurança pessoal de membros do grupo).
Durante a investigação, a Polícia Federal apreendeu R$ 317.498,16, joias avaliadas em R$ 81.334,25, duas pistolas, 27 toneladas de maconha, duas caminhonetes e 11 veículos de transporte de carga.