Mata que fazenda do Pantanal quer trocar por braquiária soma 12,3 mil hectares
Propriedade no Pantanal quer substituir vegetação nativa para criar gado
A área que a Fazenda Santa Maria pretende desmatar na planície pantaneira corresponde a 12,3 mil hectares, sendo 1,8 mil hectares de vegetação do Cerrado e 10,5 mil de pastagem nativa.
Diante das dimensões da pretensão, a empresa Riuma Comércio e Representações, com sede em São Paulo, elaborou RIMA (Relatório de Impacto Ambiental) com mais de 200 páginas e requereu licença ambiental ao Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), que vai promover esta noite uma audiência pública em Corumbá para debater o empreendimento.
O estudo, datado de 2017, aponta o desejo de colocar no Pantanal pastagem exótica para ampliar a criação de gado extensivo. Para isso, vão retirar a vegetação, utilizar ou vender a madeira extraída e, com uso de maquinário, plantar sementes das espécies Braquiária humidícula, Braquiária decumbens e Braquiarão.
A fazenda se localiza no meio do Pantanal, seguindo através da BR-262 por cerca de 300 quilômetros a partir de Campo Grande e ingressando à direita por mais cerca de 100 quilômetros por estradas que conduzem a fazendas da região. Conforme o RIMA, a propriedade fica a cerca de 125 quilômetros em linha reta de Corumbá.
Para justificar a supressão de toda essa vegetação nativa, a agropecuária aponta que é possível conciliar a expansão da atividade com uma opção economicamente viável. O uso de pastagem exótica seria uma alternativa, conforme defende o estudo da empresa, para aumentar a baixa rentabilidade da pecuária em regiões como o Pantanal e a Amazônia, o aumento da produtividade e da ocupação do solo.
Consta que a definição das áreas da propriedade para a retirada da vegetação e substituição pela braquiária foi feita a partir da análise de critérios ambientais, sociais e econômicos.
É mencionado no estudo que se analisou e a localização de nascentes e áreas de preservação, áreas para reserva legal, nível do solo, relevo e viabilidade e custos. Há ainda longos trechos no documento sobre a variedade da fauna e da flora pantaneira, além dos aspectos hídricos.
O estudo fala sobre os prejuízos em caso de não autorização da empreitada, como a retração da atividade econômica, da geração de empregos e do recolhimento de impostos.
O estudo aponta que o estado tem 3,8 milhões de cabeças de gado e atribui a baixa produtividade bovina no Pantanal a vários aspectos, como a baixa qualidade dos pastos nativos, baixa natalidade, alta mortalidade no aleitamento e baixa desmama. É mencionada a baixa qualidade nutricional das pastagens nativas e os ganhos para a pecuária com a substituição por pastagem exótica, como a produção precoce de animais.
Para fazer a substituição, a agropecuária aponta que investirá R$ 5,7 milhões, com o planejamento de nos três primeiros anos retirar 3 mil hectares de vegetação por ano e cultivo de pastagem e, no quarto ano, 3,3 mil hectares.
A audiência ocorrerá na sede da Associação Comercial de Corumbá, a partir de 19h, com transmissão pelo Youtube. Passada a audiência, o processo segue em análise pelo Imasul para definição se concede ou não a autorização a partir do debate dos impactos ambientais.