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Cidades

Para ambientalistas, biodiversidade pantaneira adoece a cada aval para desmatar

Agropecuária pediu autorização para plantar pastagem exótica em mais de 10 mil hectares

Maristela Brunetto | 15/03/2023 16:50
Fazenda quer expadir pecuária e substituir pastagem nativa do Pantanal por braquiária. (Foto: RIMA)
Fazenda quer expadir pecuária e substituir pastagem nativa do Pantanal por braquiária. (Foto: RIMA)

A notícia de que uma fazenda pretende retirar 12,3 mil hectares de vegetação originária do Pantanal para plantar braquiária e expandir a pecuária deixou atônitos ambientalistas ligados a entidades que defendem o bioma. A preocupação é com a perda de biodiversidade, na contramão do que foi defendido na Cop15, realizada no ano passado no Canadá, pela ONU, para debater o tema.

Diante das dimensões da empreitada, foi preciso elaborar um RIMA (Relatório de Impacto Ambiental), apresentado pelos donos da Fazenda Santa Maria, o grupo Riuma Comércio e Participações Ltda, com endereço em São Paulo, ao Imasul para requerer licença ambiental. Etapa do processo de licenciamento, uma audiência pública será realizada esta noite, a partir das 19h, na Associação Comercial de Corumbá, onde a fazenda está localizada, e com transmissão pelo canal do Imasul no Youtube.

O presidente do Instituto do Homem Pantaneiro, Angelo Rabelo, vai participar da audiência e questionar o empreendimento, que prevê plantar, com uso de maquinário, diferentes espécies de braquiária para dar mais produtividade à atividade pecuária.

Conforme informações divulgadas, a agropecuária pretende criar nas áreas em que cultivar as pastagens exóticas 15 mil vacas e produzir 10,5 mil bezerros a partir de matrizes que a propriedade já cria. Se obtiver licenciamento, a substituição da vegetação original será feita de forma progressiva ao longo de quatro anos.

Rabelo considera que há prevalência de interesses econômicos em detrimento da biodiversidade, o que ele aponta ir na contramão do que se discutiu na Cop 15, em 2022. Ele aponta que florestas em pé e a biodiversidade se firmaram como ativos importantes para o mercado de carbono, com desafio de elevar a proteção de áreas e aqui ocorreria o oposto, a extinção de uma riqueza natural. “Estamos passando o trator por cima”, lamenta.

Ele argumenta que o Pantanal sempre teve elevada produtividade conciliando com a presença da vida silvestre, o que vê ameaça de ser abalado ao oferecer risco à biodiversidade. Ele menciona a importância das árvores e pastagens nativas para a polinização e para toda a cadeia de reprodução animal.

Já a empresa agropecuária constou em seu material que as pastagens pantaneiras perderam importância como alimento do gado com o surgimento de espécies oportunistas, como canjiqueiras, capim colchão e capim flecha e que haveria pouco potencial nutricional para o rebanho. Também fez constar que não há nenhum indício de que indígenas no passado transitaram pelo que hoje é a propriedade, o que poderia gerar debate sobre importância arqueológica. Para tanto, menciona estudos antigos da UFMS e aponta cruzamento de dados com vários setores de pesquisas.

Outra entidade que está atenta ao debate sobre o licenciamento é a SOS Pantanal. A ONG integra o Mapbiomas, iniciativa do Observatório do Clima, reunindo uma série de setores para mapear uso da terra e alterações sofridas.

Os números reunidos justificam a preocupação com o pantanal sul-mato-grossense. No ano passado, foi constatado o desmate de 30,4 mil hectares do bioma, com 25,5 mil em MS e 4,9 mil em Mato Grosso.

O Estado detém dois terços da área do Pantanal. Ainda assim, as extensões alteradas são superiores à essa proporção. Em 2021, de 29,9 mil hectares que perderam vegetação, 28 mil foram em MS, em 2020 foram 24,4 mil hectares no estado de um total de 25,6 mil desmatados.

A entidade fez escala do tamanho da extensão a ser atingida pelo pedido de retirada de árvores e pastagem nativa, seria o equivalente a 63 parques do Ibirapuera.

Prós e contras - Em sua justificativa, a agropecuária aponta que a possibilidade de semear braquiária como pastagem vai permitir aumentar a produtividade, a rentabilidade e ocupação do solo. Para tanto, admite que produzirá poeira, ruídos e vibrações com o trânsito de máquinas e trabalho na terra. Para os trabalhadores, há forma de mitigar, o uso de EPIs. Além disso, argumenta que vai manter o maquinário bem conservado para evitar vazamentos, prevenir riscos ambientais, fazer gestão adequada de agrotóxicos e aproveitamento de  material lenhoso extraído. Também são prometidas iniciativas para conservar espécies e promoção de educação ambiental.

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