Para falar com filho no Amapá, onde falta luz há 5 dias, mãe depende de favor
Diante das altas temperaturas, a família tem dormido dentro do carro para usar o ar-condicionado

As notícias que a professora Leda tem do filho Luciano chegam como se não estivéssemos no ano de 2020, em plena era da internet, onde se mata a saudade instantaneamente por chamadas de vídeo e mensagens de WhatsApp, a mãe fica sabendo como estão filho, nora e netos quando Luciano, por sorte, consegue ir ao Centro e ter sinal de celular. "A antena que cobre o celular da região deles não está funcionando", explica Leda Rodrigues Lima, de 70 anos.
Médico, o filho mora há 12 anos em Macapá, capital do Estado do Amapá, no Norte do País. São mais de 3,2 mil quilômetros que separam mãe e filho. Aqui, o coração da professora está em orações, enquanto a família dela vive os últimos cinco dias sem luz.
Estar sem energia significa muito mais do que não poder carregar celular. Nem sinal o filho consegue. "Ficamos sabendo notícias agora, porque ele foi ao Centro da cidade para passar mensagens para os parentes", conta.
A família tem dormido dentro do carro, porque o calor é tamanho na cidade, e eles ainda podem contar com o ar condicionado do veículo. Até tentamos contato com Luciano, mas foi difícil. "Agora eles já voltaram pra casa e lá não está funcionando o celular, só no Centro da cidade", explica Leda.
Já faz cinco dias que o filho está sem trabalhar e só não falta comida porque, segundo a mãe, um amigo do casal é dono de uma mercearia. "A geladeira está desligada, tem uma caixa d'água no quintal que eles dividem com os vizinhos", descreve a mãe.
A primeira notícia que teve de Luciano deixou a mãe desesperada. "Quando meu filho me ligou no segundo dia, ele usou o telefone de um amigo médico, eu me assustei pensando que ele estava com covid-19, aí quando ouvi a voz dele, fiquei tranquila", diz.
Quando a família dorme dentro de casa, é com as janelas abertas. O filho explicou no primeiro contato que foi um raio que caiu e iniciou um incêndio na subestação de energia. "Pensei em mandar comida pela Azul [companhia aérea], mas ele disse que estão se virando por lá", relata.
A nora é enfermeira e trabalha na maternidade que continua funcionando graças a um gerador. Então ela consegue dar mais notícias. "Meu irmão que mora em Porto Velho até se ofereceu para levar gerador, comida para eles. Eu agradeci, mas seriam seis dias de barco", diz.
O maior desejo da mãe agora é que a família fique em paz e em tranquilidade até a situação se restabelecer.
Sistema elétrico - O calvário da falta de energia começou após incêndio atingir a principal subestação do Estado, que alimenta 13 das 16 cidades. Sem eletricidade, houve problemas no fornecimento de água potável, falhas nas telecomunicações, filas nos postos de combustíveis e prejuízos ao comércio.
Conforme o Ministério de Minas e Energia, a madrugada de hoje (dia 7) o sistema elétrico de Macapá voltou a ser conectado à rede de Transmissão do Sistema Interligado Nacional, com a conclusão de reparos em um dos transformadores e o início gradativo do atendimento aos consumidores.