“Período de confinamento é um gatilho para a violência doméstica”, diz juíza
Em MS, dados registrados em 12 dias sofreram pouca alteração ao mesmo período do ano passado, mas essa pode não ser a realidade
O posicionamento da OMS (Organização Mundial da Saúde) é claro, o isolamento social é a principal fermenta de combate a propagação do coronavírus, Covid-19, que só no Brasil matou 92 pessoas em 26 dias. Por outro lado, o aumento do convívio familiar preocupa, e afeta diretamente o aumento de casos de violência contra a mulher.
Em Mato Grosso do Sul, os números registrados de 14 a 26 de março sofreram pouca alteração em relação ao mesmo período do ano passado, no entanto, para a juíza Helena Alice Machado Coelho, a coordenadora da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), a realidade por ser outra.
“O período de confinamento no lar é um grande gatilho para a violência doméstica. As mulheres ficam mais sobrecarregadas e vulneráveis no exercício das funções da casa e nos cuidados da prole. A perspectiva de uma crise econômica, também, é outro fator desencadeador”, afirma.
Neste ano, nos 12 dias de março, foram registradas 267 denúncias de violência doméstica e 126 pedidos de medidas protetivas. O mesmo período do ano passado foram 301 casos e 131 medidas protetivas. “O que já está no nosso radar é que, apesar de terem entrado menos casos neste período de quarentena, a realidade pode ser outra. Os casos podem crescer, devido ao contato entre o casal por mais tempo e as vítimas têm maior dificuldades para fazer a denúncia, por conta das restrições de locomoção”, diz.
Os casos de feminicídio, no mesmo período – de 14 a 26 de março – aumentam: três em 2019 e quatro neste ano. O último foi registrado na quinta-feira, 26 de março, quando Euzébia Clara Leite Pereira, de 26 anos, foi morta com um tiro na testa pelo ex-marido Marcos Fernando Martins, de 40 anos, em Água Clara. Os dados são da Assessoria de Planejamento do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.
Para a magistrada, o que preocupa é a possibilidade de a vítima estar sofrendo todos os tipos de violência em casa e não denunciar o parceiro. Segundo ela, os dados do grupo de trabalho nacional de proteção a mulher vão na contramão dos de Mato Grosso do Sul, e já identificam aumento de casos durante a quarentena.
Por isso, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul reforça que mesmo com as medidas de prevenção a pandemia, as delegacias da Capital, a Casa da Mulher Brasileira, a Deam (Delegacia Especializada da Mulher Brasileira), continuam com todos os atendimentos. As vítimas também podem ligar nos telefones 190 e 180 para denúncias.
(Com informações do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul)