Da fundação até hoje, a Cidade Morena "enlouquece" os mineiros
Desde a fundação pelo mineiro José Antônio Pereira, em 1872, no encontro dos córregos Segredo e Prosa, na região do Horto Florestal, Campo Grande continua como o "eldorado" ou a "terra dos sonhos" de moradores de Minas Gerais. A onda de mineiros permanece ao longo dos 115 anos de emancipação político-administrativa.
A paixão começou pelo fundador, que saiu de Monte Alegre (MG) em busca de terras férteis para iniciar uma nova vida. Após passar por Sant'Ana do Paranaíba e pelos cerradões do Rio Pardo, ele se encanta com o "viço" do milharal e trazer toda a família para fundar a vila, que se transformaria na Capital do Estado de Mato Grosso do Sul.
A onda e o amor a primeira vista dos mineiros pela Cidade Morena continua até hoje. Nesta toada está o presidente da concessionária de água e esgoto da Capital, Águas Guariroba, José João Fonseca, 45 anos. Natural de Uberaba (MG), ele já passou por Tocantins, São Paulo e Rio Janeiro.
O sotaque já não é o mesmo. A fala campo-grandense conseguiu se instalar na rotina de JJ, como é mais conhecido. “Tivemos uma ótima adaptação”, admitiu. Ele revelou que desde Uberaba, a Cidade Morena foi a única cidade onde ele melhor se adaptou.
A família é uma mistura. A esposa, Lúcia Maria Santos, 36, e os filhos Luiz Fernando, 15, e Yasmin, 9, nasceram em estados diferentes, mas as raízes mineiras, herdadas do pai, são mais fortes na casa. Porém a paixão por Campo Grande fala mais alto. “Se um dia tiver que ir embora, meus filhos vão enlouquecer. Eles são apaixonados pela cidade”, brincou a mãe.
Queijo, doce de leite e queijadinha não faltam no cardápio da família, mesmo que não haja todos os dias, mas a cachaça, famosa em Minas, também está presente na casa. “Nós não ficamos bêbados ou bebemos muito, é mais para os amigos”, explicou José, o que se percebe pela quantidade do líquido na garrafa.
Sem pretensões de sair de Campo Grande, José compara a Capital com as cidades mineiras, como Uberlândia. “São bem parecidas, organizadas, mas eu acho Campo Grande mais bonita e mais moderna. Uberlândia parou no tempo”, constatou.
Outra família fã de Campo Grande é a do mineiro José Roberto Cardoso Ferreira, 59, mais conhecido como Zé Roberto. Desde 1980, quando começou a trabalhar na Sanesul, ele mora em Mato Grosso do Sul, mas há 12 anos firmou o lar na Capital.
Formado em engenharia civil, ele buscou a namorada em Uberlândia, sua cidade natal, para casar e se mudar para o MS. Mesmo apaixonado por Campo Grande, ele não deixa algumas tradições culinárias mineiras.
“Minha esposa faz feijão tropeiro, porco com banha, o que eu não acho muito por aqui”, mencionou Zé. O que ele ainda não conseguiu perder foi o sotaque mineiro. “Sotaque mineiro não tem jeito não, a gente engole palavras”, admitiu.
Agora a família está maior. Com dois filhos, de 30 e 27, naturais de Dourados, ele não esconde a alegria de morar na Capital. “Sou fanático por Campo Grande. É a cidade mais gostosa de morar”, enumerou Zé Roberto.
Dentre os lugares que Zé Roberto mais gosta na cidade o Parque das Nações Indígenas e o Parque do Sóter estão nas primeiras posições. “Eu tenho contato com a natureza, não tem um dia que não vejo uma arara passando aqui”, completou.
Além do trabalho na Sanesul, ele também administra uma fazenda no estilo mineiro. “Parece uma fazendo tipicamente mineira, tem aquele varandão, além de produzir leite e criar porco, duas paixões do mineiro”, garantiu.
Aos 16 anos, Fernando Madeira, hoje com 52, não ficou feliz ao saber que viria para Campo Grande. Seu pai, administrador de fazendas, precisou se mudar de Uberaba, com a esposa e os dois filhos, para Mato Grosso do Sul para diminuir a distância das viagens, que fazia até as fazendas.
36 anos depois da mudança, Fernando não se arrepende de morar na Capital. “Sou apaixonado pela cidade”, revelou Fernando.
Em Campo Grande ele fez fama. Formado em engenharia civil e a esposa, Sandra Madeira, em arquitetura, eles abriram um escritório e projetaram vários locais famosos da Capital, como o Shopping Bosques dos Ipês e o Residencial Damha.
O engenheiro de Minas não conseguiu deixar alguns costumes mineiros, mesmo depois de anos em Campo Grande. "Estava acostumado a comer a comida típica, que minha mãe fazia. Hoje ainda faço algumas receitas”, contou Fernando.
Como José Antônio Pereira, estes mineiros investiram em Campo Grande. Dos quase 832 mil habitantes, apaixonados pela Cidade Morena, os mineiros que ainda chegam à cidade não têm mais coragem de trocar a terra do tereré pela do pão de queijo. “Não voltaria”, ressaltou o engenheiro.