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Capital

Acusado de uma vida de crimes, Jamil Name morreu sem enfrentar qualquer júri

Ele morreu em 27 de junho de 2021, aos 82 anos, vítima de covid-19

Lucia Morel | 17/07/2023 11:35
Jamil Name, debilitado, em uma das audiências que participou enquanto esteve preso. (Foto: Arquivo)
Jamil Name, debilitado, em uma das audiências que participou enquanto esteve preso. (Foto: Arquivo)

Do jogo do bicho à "milícia que mata", o foco da Operação Omertà, Jamil Name, morreu em 27 de junho de 2021 aos 82 anos, vítima de covid-19, sem ter sido condenado pelos crimes que lhe imputam e sem ter sentado no banco dos réus. Figura lendária de Campo Grande, pelo bem e pelo mal, ele passou 21 meses preso, faleceu e nos processos em que respondia, consta como extinta sua punibilidade.

De hoje até 20 de julho, quem ocupa o banco dos réus é o filho mais velho e braço direito de uma vida, Jamil Name Filho, o Jamilzinho, que está preso desde setembro de 2019, quando foi deflagrada a Omertà. A manutenção da prisão preventiva se explica pelo fato de ser a única forma de não haver interferência nas investigações - que continuam - ou de contato com testemunhas.

Name pai deveria estar sentado também em uma das cadeiras do Tribunal do Júri, como réu, nesta segunda-feira (17), mas a morte acabou lhe poupando da "experiência". Sete jurados decidirão nos próximos dias se Jamilzinho foi o responsável pelo assassinato de Matheus Coutinho Xavier, em 9 de abril de 2019, quando ele tinha 19 anos.

Segundo a acusação, o jovem foi morto no lugar do pai, Paulo Xavier, que já havia sido preso em 2009, durante a Operação Las Vegas, da Polícia Federal, e desde 2017, era capitão reformado da PM. Ele teria “traído” a família Name em caso de disputa de terras.

Name usando pijama, no dia de sua prisão, em setembro de 2019. (Foto: Valdenir Rezende/in memorian)
Name usando pijama, no dia de sua prisão, em setembro de 2019. (Foto: Valdenir Rezende/in memorian)

Foram sete tiros de fuzil AK-47 que levaram o jovem à morte. Socorrido, foi levado à Santa Casa, mas não resistiu. A partir dessa execução, as investigações levaram a casos ainda maiores que ligavam a tradicional família campo-grandense a uma série de crimes e revelou o que até então só se sabia do “disse-me-disse”: da contravenção à formação de grupo de extermínio, como classificou a Omertà, para eliminar quem ficasse no caminho.

De personalidade forte e astuto, o patriarca Name acabou protagonizando momentos emblemáticos enquanto esteve preso. Numa das audiências em que foi ouvido sobre as acusações, ofereceu R$ 600 milhões em propina a membros do Judiciário. A “proposta” foi feita em 29 de maio de 2020, quando ao final de sua oitiva, diz que tem de “R$ 100 milhões a R$ 600 milhões” à disposição do juízo de ministro que acompanhava o caso.

A oferta, em dinheiro, foi feita para ter decisão favorável ao retorno dele a Campo Grande ou em troca de mandado para tratamento em São Paulo, no Hospital Sírio Libanês. Na época, ele estava no Presídio Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde acabou morrendo.

Foto do fim de 2017 mostra Jamil Name, o filho Jamilzinho e Fahd Jamil, em festa de Réveillon (Foto: Arquivo de família)
Foto do fim de 2017 mostra Jamil Name, o filho Jamilzinho e Fahd Jamil, em festa de Réveillon (Foto: Arquivo de família)

Em outra situação, também em audiência, ele ameaça policial que fez parte da força-tarefa da Operação Omertà. "Esse é um cara que merece morrer, mentiroso, vagabundo", disse Name na frente do juiz Roberto Ferreira Filho. O policial acabava de ser ouvido na sessão.

Em outro interrogatório em juízo, Jamil Name chegou a dizer que Paulo Roberto Teixeira Xavier “não valia uma bala” ao ser questionado se mandou matar o ex-PM.

Por conta dessas situações, defesa e família alegavam que ele estava senil e por isso declarava despautérios. Ele, entretanto, mesmo diante do quadro de saúde agravada, negava veementemente tais alegações. Name respondia a 13 ações penais e outras dezenas na área civil. Em todas, devido a sua morte antes dos julgamentos, a punibilidade é considerada extinta.

Aniversário - Name era conhecido por dar festa que reunia a nata da sociedade e figura fácil nas colunas sociais. No dia 1º de maio de 2019, depois que Matheus foi assassinado, deputados, vereadores e vários delegados o abraçaram pelo aniversário de 80 anos, conforme divulgou colunista local.

Os jantares de quinta-feira, que reuniam até integrantes da alta cúpula do Judiciário estadual, também são conhecidos, pelo menos no imaginário campo-grandense.

(*) Com a colaboração de Anahi Zurutuza. 

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