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Capital

Após 6 anos, júri popular será fim da espera de mãe que perdeu "menino de ouro"

Suspeitos de violentar e matar adolescente em lava jato serão julgados na próxima quinta-feira

Cassia Modena e Bruna Marques | 27/03/2023 13:18
Marisilva enxuga as lágrimas ao lembrar do filho morto de forma brutal. (Foto: Marcos Maluf)
Marisilva enxuga as lágrimas ao lembrar do filho morto de forma brutal. (Foto: Marcos Maluf)

A dona de casa Marisilva Moreira da Silva, 50, vive há mais de seis anos esperando pela quinta-feira (30). É o dia em que irá a júri popular a dupla suspeita de violentar seu filho adolescente e depois matá-lo. O caso chocou na época por ser consequência de uma “brincadeira” de mau gosto entre pessoas que trabalhavam em um lava jato, no Bairro Pioneiros, em Campo Grande.

Wesner Moreira da Silva tinha 17 anos e trabalhava informalmente lavando carros no local, quando morreu por ter uma mangueira de compressão de ar introduzida em seu ânus. O rapaz ficou internado na Santa Casa da Capital, onde foi a óbito por ruptura do esôfago e choque hipovolêmico por hemorragia torácica aguda maciça, em 14 de fevereiro de 2017.

Marisilva é só saudade do menino, que trabalhava para ajudar a família a atravessar um momento difícil. O pai tratava um câncer na próstata e havia perdido um benefício na empresa onde estava empregado, o que apertou as despesas em casa. Mesmo sem ter atingido a maioridade, Wesner ficou sabendo que precisavam de alguém no lava jato e aceitou a vaga, vendo ali uma oportunidade de ajudar os pais.

“Ele era a minha ‘rapinha’ do tacho, meu amigo em tudo e não queria que faltasse nada em casa. Eu cuidava muito dele e ele falava que ia cuidar de mim quando eu ficasse mais velha. Era um menino bom e carinhoso, que me ajudava em tudo. Faz muita falta. Não tem um dia que não lembro dele”, declarou a mãe, inconsolável.

Menino de ouro - Em cima da cama, Marisilva espalhou objetos e roupas que pertenceram a ele em conversa com o Campo Grande News.

Dona de casa conserva pertences do filho querido (Foto: Marcos Maluf)
Dona de casa conserva pertences do filho querido (Foto: Marcos Maluf)

Uma medalha de uma competição de futebol, fotos, a carteira de trabalho, um currículo, uma calça que não chegou a usar por ser muito magro e não estar na medida, além de certificados de um curso de computação e de participação no Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência) na escola onde estudava. Enquanto segurava cada uma dessas coisas, a mãe recontou a curta história de vida e falou dos sonhos interrompidos do menino.

O adolescente sempre foi religioso e motivo de orgulho para os pais, diz a mãe, afastando qualquer dúvida sobre sua reputação. “Um menino de ouro. A gente amava sentar para falar dos projetos e sonhos dele. Era no meu quarto que a gente orava junto e viveu muitas coisas unidos”, lembra.

Antes de trabalhar no lava jato, Wesner tentou conseguir emprego formal, mas não encontrou quem o contratasse. “Como faltava pouco para ele se alistar no Exército, não aceitavam. Aliás, era o sonho dele seguir carreira no Exército. Era o que ele queria”, explica. Nesse intervalo, ele chegou a vender pulseiras a R$ 2 na escola para ajudar nas contas de casa.

Desde pequeno, menino sonhava seguir carreira no Exército (Foto: Marcos Maluf)
Desde pequeno, menino sonhava seguir carreira no Exército (Foto: Marcos Maluf)

Suspeitos eram vizinhos - Os suspeitos pela morte são Thiago Giovanni Demarcos Sena e Willian Enrique Larrea. Eles se encontram em liberdade. Segundo a mãe de Wesner, os dois eram vizinhos da família quando o filho começou a trabalhar com eles no lava jato. No entanto, não foram mais vistos desde as últimas audiências que a mãe participou.

A família reside até hoje na mesma casa onde Wesner viveu, que agora tem também como vizinhos de terreno o filho mais velho, a esposa e a filha deles, de 2 anos. Na varanda compartilhada pelos cinco moradores, estão afixados os mesmos cartazes e camisetas feitos para pedir justiça por Wesner em um protesto pelas ruas de Campo Grande.

Varanda da casa da família não deixa esquecer espera por justiça (Foto: Marcos Maluf)
Varanda da casa da família não deixa esquecer espera por justiça (Foto: Marcos Maluf)

Questionada sobre o que diria para os dois suspeitos, caso tivesse oportunidade de falar com eles durante o júri, ela responde: “Perguntaria por que fizeram essa maldade com meu filho, por que tanta raiva e ódio de um menino que só queria ajudar a família e tinha tantos sonhos?”.

Ela promete chegar bem cedo para acompanhar o julgamento popular e encarar os suspeitos. “Eles não vão ter coragem de enfrentar uma mãe”, pontua.

Alice - A neta Alice é o milagre da avó Marisilva. A menina nasceu não no mesmo mês, mas no mesmo dia 14 que marcou a perda de seu filho mais novo.

Se estivesse vivo, Wesner teria 24 anos e seria tio da menina. “A Alice foi promessa de Deus. Ele falou que no dia mais difícil da minha vida iria nascer um ser para preencher meu coração, que me faria sentir alegria quando olhasse. É a minha neta”, afirmou Marisilva, emocionada.

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