Bairro deixou de ser "patinho feio", mas rua continua congelada no tempo
Três personagens tradicionais do Itamaracá dizem que em 20 anos tudo mudou na região, menos a Rua Salomão Abdala
Vinte anos de memórias unem três personagens já tradicionais no Bairro Itamaracá. Deixando claro que nem toda lembrança é boa, eles contam que tudo na região mudou, menos 400 metros da Rua Salomão Abdala. Ali, tudo parece congelado.
Hoje o assunto é da região próxima à Avenida Guaicurus, mas você também pode enviar uma sugestão de pauta. Confira matérias de outros bairros clicando nos ícones do Campo Grande News indicados no mapa abaixo:
Memórias que seguem presentes - Mais do que guardar as imagens do bairro na mente, Paulo César Marques, de 58 anos, tem a visão revelada em fotos de duas décadas atrás. Proprietário de oficina na Avenida Guaicurus, esquina com a Salomão Abdala, o morador conhecido como “Macarrão” diz que quando chegou por ali, era “tudo mato”.
Conectando os bairros Jardim Pacaembu, Itamaracá e Rita Vieira, a via tem partes asfaltadas e outras ainda de terra. No Itamaracá, o problema se estende por quatro quadras, desde a Rua Filomena Segundo Nascimento, que parecem se ampliar conforme os moradores descrevem o incômodo.
Permanecendo cético, Paulo relata que viu o bairro se integrando à cidade e deixando de ser o patinho feio de Campo Grande, mas explica que a falta de asfalto ao lado da oficina faz o passado continuar se mostrando.
São 20 anos aqui vendo essa situação e sentindo vergonha dessa rua porque tudo muda, o bairro virou outro desde que cheguei aqui, mas a rua continua a mesma coisa. Você vê que é movimentada demais e o povo sofre para passar por ela".
Depois de tanto tempo no Itamaracá, Macarrão diz que um ritual se repete a cada quatro anos para manter esperança do asfalto chegar por ali. “Toda vez que começa um mandato novo, a gente renova a crença de que essa parte vai melhorar. É acreditar que a mudança vem em algum momento”.
De acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura de Campo Grande, o trecho citado por Paulo faz parte do “Projeto Bálsamo”, que irá implantar acesso às Moreninhas. A informação é que ajustes estão sendo feitos no projeto para retomada da obra que prevê a chegada do asfalto nesta via em toda sua extensão, desde a Rua Filomena Segunda.
Outras consequências - Um pouco mais pessimista, Carlos Bezerra Lins, de 55 anos, diz que o bairro é salvo pelos moradores.
Tenho 25 anos de bairro e sei que tem muita coisa ruim, outras ruas também precisam de asfalto, mas acho que o ápice é essa aqui porque é a parte em que mais tem movimentação”.
Ele puxa na memória que há seis anos participou junto com Paulo de protesto na Avenida Guaicurus.
Teve fogo em pneu e trânsito parado tentando chamar atenção para falta de recapeamento. Nossa vontade é de repetir a dose pedindo asfalto para esse trecho da Salomão.
Situação também complicada no local é a vegetação que cresce em espaços vazios. “A gente limpou e tirou o mato que estava aqui na esquina com a Guaicurus porque não tinha nem condição de enxergar o que tinha dentro. Um perigo ainda maior durante a noite e logo volta a crescer”, diz.
Focando no perigo da rua, a balconista Edna Regina dos Santos, de 49 anos, fala sobre como têm sido os 20 anos de trabalho em comércio na rua do incômodo. Para ela, é impossível continuar por ali depois das 18h.
De noite mesmo nem tem como passar por aqui porque a sensação é de perigo. Eu saio antes do anoitecer porque não tenho coragem de ficar por perto. É um espaço curto sem asfalto e faz uma diferença enorme.
Sem reclamar muito, Edna respira para responder se acredita em solução para o problema. “A região aqui é boa, tem violência e acontecem algumas coisas complicadas, mas em qual bairro é diferente? Eu tenho fé de que em algum momento a mudança chega”.
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