Calçada de hospital é "casa" para 4 andarilhos e cachorrros há mais de 2 anos
Moradores clamam por socorro e visita de autoridades. Querem ajuda para ter emprego e casa
Há cerca de 2 anos e meio, segundo os próprios moradores, a calçada da Santa Casa de Campo Grande, na rua 13 de Maio, se tornou a “casa” de quatro andarilhos. Organizado ao longo de tantos meses, a moradia a céu aberto já conta com cozinha, quarto, sala e até canil. Mas, claro, tudo é improvisado e faltam paredes, teto e o mínimo de estrutura necessária para um lar digno.
O Campo Grande News já havia mostrado a situação de abandono em pleno centro da Capital há cerca de 1 ano, mas a situação precária continua a mesma e é impossível passar despercebida a quem percorre a região.
A grade do estacionamento do hospital virou um varal. Um casal de cachorros e seus vários filhotinhos são a companhia fiel dos moradores e, pelo menos eles, tem casa de verdade. Segundo os moradores, as duas casinhas de cachorro foram doadas por uma veterinária e os bichos ainda contam com roupinhas e coleiras.
No acampamento vivem uma mulher de 25 anos e três homens, de 27, 32 e 51 anos. Eles sobrevivem de doações e a ajuda de “amigos”, como chamam os voluntários. Alguns objetos e instrumentos doados ajudam a amenizar a vida sem teto, mas não diminuem os riscos de quem vive na rua, exposto a sol e chuva.
Neste domingo, por volta das 11h, a reportagem encontrou a mulher “arrumando a casa”, enquanto os rapazes preparavam o almoço. No cardápio, feijão e pelanca de carne. “Para dar um gostinho no feijão”, explicam.
Um dos cozinheiros, um rapaz de 27 anos, frisa que “só passa fome quem quer”. Eles mostram as doações de marmitas e alimentos. Uma mulher, que seria uma das doadoras, foi até o local, mas não quis se identificar e saiu rapidamente dizendo que ia comprar frutas.
Vida na rua - Em comum entre os moradores está o vício. Todos se dizem adeptos da “pinguinha”, sendo que dois admitem também usar drogas.
Sobre como foram parar na rua, eles dizem que cada um tem uma história diferente. Apenas o rapaz de 27 anos diz que tem família em Campo Grande, o restante conta ter vindo de outros estados.
A mulher conta que um relacionamento amoroso e brigas em família a levaram para a rua. “Sabe aquela história, por um amor acabei fazendo muitas coisas e hoje estou aqui, sozinha”, diz.
Os companheiros contam que se conheceram nas ruas de Campo Grande e juntos decidiram estabelecer sua moradia na calçada da Santa Casa. “Deus nos trouxe para cá e aqui ficamos”, definem.
Segundo eles, às vezes alguns “vacilões” aparecem querendo se acomodar no acampamento e aí eles precisam colocar ordem. Mas entre os quatro é difícil ter brigas. “Brigar não adianta, temos que conviver mesmo, nos ajudar”, diz a mulher.
Socorro - A jovem não culpa a bebida pelos rumos que sua vida tomou, mas diz que tudo que precisam é de uma oportunidade.
“Vem um monte de gente aqui querendo se aproveitar de nós, mas pede para alguém dar um emprego, uma casa pra ver se nós não vamos. É claro que saio daqui. Mas se for pra me dar uma passagem pra ir pra outra cidade e continuar na rua, fico aqui então”, diz.
Eles ressaltam que o problema não está só ali e que não adianta “jogá-los” em outro lugar para esconder a realidade.
Os moradores pedem socorro às autoridades e querem a visita de representantes da Secretaria de Políticas e Ações Sociais e Cidadania do município, cuja titular é a primeira-dama, Maria Antonieta Trad.
“Se vierem aqui escutar nossa vida, nossa dificuldades, aí Deus vai iluminar pra gente saber o que pedir, o que fazer”, resume a moradora.