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Capital

Carinho de amigos conforta familiares de rapaz morto por PM

Paula Maciulevicius e Mariana Lopes | 29/10/2012 10:18
“Estou em paz porque eu eduquei o meu filho e tenho consciência de que eu cumpri meu papel de mãe”, disse Jaci Vieira do Nascimento, 49 anos. (Foto: Minamar Júnior)
“Estou em paz porque eu eduquei o meu filho e tenho consciência de que eu cumpri meu papel de mãe”, disse Jaci Vieira do Nascimento, 49 anos. (Foto: Minamar Júnior)

“Deus só emprestou meu filho e hoje eu estou devolvendo ele pra Deus”. Uma mãe que enterra o filho no dia em que ele faria 30 anos. Jaci Vieira do Nascimento, 49 anos, tinha hoje uma força vinda do conforto de ter cumprido o dever.

“Estou em paz porque eu eduquei o meu filho e tenho consciência de que eu cumpri meu papel de mãe”. No velório de Ike Cézar Gonçalves, familiares e amigos estavam em paz.

Apesar da tristeza de enterrar um trabalhador e pai de família morto por um policial militar enquanto tentava separar uma briga, a lição que ele parece ter deixado era o que tranquilizou a todos.

O sentimento de quem acompanha vários velórios não era de conformismo e sim de paz. Amigos e colegas de trabalho relataram que Ike sempre foi uma pessoa muito respeitada pelos amigos.

“O carinho desses amigos e de pessoas que até nem me conheciam, foi o que me deu um conforto”, dizia Jaci que sabe que o pior ainda vai vir, a saudade e a falta que o filho vai fazer não só a ela, como toda família.

A forma violenta como Ike morreu comoveu todos. Hoje, nos planos da família estava a comemoração do aniversário. A festa de 30 anos seria uma surpresa, já programada. A violência da madrugada deste domingo mudou os planos de uma maneira que ninguém imaginaria.

“Jamais esperava que ele fosse morrer dessa forma. A gente trabalha muito e tem direito a se divertir, mas neste caso ele não teve”, comentou o amigo Valdene Oliveira, 40 anos.

Amigo da vítima, Valdene Oliveira, 40 anos, viu sonhos do colega desfeitos pela violência. (Foto: Minamar Júnior)
Amigo da vítima, Valdene Oliveira, 40 anos, viu sonhos do colega desfeitos pela violência. (Foto: Minamar Júnior)

Valdene trabalha na mesma área, de enfermagem e juntos os dois foram colegas no hospital Miguel Couto. “Ele era uma pessoa extraordinária, sempre alegre e disposto a trabalhar. Ele valorizava muito a família dele e estava crescendo no hospital e construindo o negócio dele. Isso tudo foi desfeito numa noite”, desabafou Valdene.

Assim com o Valdene, uma interrogação cercava todos ali: que justiça viria para o caso? “Qual é a justiça que vai ser feita? Não é porque é um policial que tem que ficar impune. A atitude do PM seria incorreta até diante de um bandido mesmo”, questionava.

O sepultamento de Ike está previsto para 15h30, no cemitério Nacional Park, nas Moreninhas. O rapaz foi morto por um tiro disparado pelo policial militar Bonifácio dos Santos Junior, de 36 anos, lotado na Cigcoe, enquanto tentava separar uma briga. Segundo testemunhas, Ike disse a ele em meio a uma sequência de disparos “Para de brigar, vamos embora, a festa já acabou. Vamos cada um para o seu canto” e o PM respondeu “Você está me desafiando?” e atirou.

Depois do tiro que atingiu a testa de Ike, o PM fugiu com um amigo, Osni Ribeiro de Lima, de 36 anos. Os dois permanecem presos. Osni na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do bairro Piratininga e Bonifácio no Presídio Militar Estadual.

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