Casos recentes revelam medo de vítimas de denunciarem agressores
Nos dois casos recentes de agressão envolvendo jovens, noticiados pelo Campo Grande News na semana passada, as vítimas não queriam denunciar os agressores. Agredidos de forma violenta e selvagem, só revelaram a situação depois que vídeos chegaram até suas famílias. Situação que, segundo a psicologia, refletem o medo e a humilhação diante das agressões.
No primeiro, que veio a tona na semana passada, a família da vítima só ficou sabendo da surra que o jovem de 18 anos sofreu depois que um vídeo foi parar na internet. Nas imagens, o rapaz aparece sendo duramente espancado por Jhonny Celestino Holsback Belluzzo de 19 anos, e Alessandro Ronaldo Mosca Junior, de 21 anos, enquanto outros assistem.
O mesmo aconteceu com o jovem que foi agredido pelos próprios colegas de escola. Eles estudavam no Colégio Militar, e a vítima tentou esconder a situação da família, mesmo chegando em casa ensaguentado e com dores, depois de uma festa.
Tanto num caso, quanto noutro, foram familiares e amigos que convenceram as vítimas a denunciarem as agressões à polícia, porque se fosse por decisão delas, os agressores ficariam livres de qualquer punição.
De acordo com a psicóloga Abigail Lago, a reação de reclusão é comum, principalmente entre adolescentes, graças ao medo e a humilhação por terem sido vítimas. “É uma reação esperada, porque para o adolescente tudo é mais intenso. Junta-se o medo de ser agredido de novo a sensação de humilhação entre amigos, colegas e até desconhecidos. Então, para eles, quanto menos pessoas souberem do que houve, melhor”, explica.
Conforme a psicóloga, quando o caso ganha repercussão como foi com os recentes, ai que as vítimas sofrem. “É a mesma situação de agressão doméstica. A mulher não denuncia o marido agressor porque tem vergonha da família. Para o adolescente, a vergonha é com relação a turma da qual ele faz parte”, diz.
Em muitos casos, a vítima prefere se trancar em casa, não conversar sequer com amigos, neste caso há necessidade de tratamento, considera a psicóloga. “O tratamento pode ser uma terapia, uma conversa com psicólogo, algo para que ele se sinta melhor e não fique recluso em casa. Mas quem realmente precisa de tratamento são os agressores”, diz.
Proteção - Uma forma de deixar as vítimas mais confortáveis para denunciar, apesar da vergonha, seria uma proteção mais efetiva da polícia. Conforme o delegado Gomides Ferreira dos Santos, na Polícia Civil há um programa de proteção a testemunhas, mas só quando há grave situação de ameaça. “É impossível garantirmos proteção a todos, mas na pedida da estrutura que termos, garantimos segurança a quem precisa", explicou o delegado.