Com 10 boletins contra ex-marido, mulher ameaçada e perseguida vive em pânico

Há cerca de três meses, uma depiladora, de 40 anos, vive dias de terror sendo perseguida e ameaçada de morte pelo ex-marido, que não aceita o fim do relacionamento. Ela já registrou 10 boletins de ocorrência na Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher), em Campo Grande, tem medidas protetivas em vigência e, inclusive, há mandado de prisão contra Márcio Canali Castilhos, de 52 anos. Contudo, as ameaças não param.

O casamento de dois anos e meio teve fim em 3 de fevereiro deste ano "depois de muitas idas e vindas", descreve a mulher, que terá a identidade preservada. Ela decidiu expor a situação porque teme pela própria vida e a dos filhos. Também deu detalhes do caso após descobrir que um homem que acredita ser contratado pelo ex para a perseguir já tem passagem por homicídio e, recentemente, recebeu transferência de R$ 500 de Castilhos.

Folheando os boletins de ocorrência, a depiladora recebeu a reportagem do Campo Grande News em casa, lugar onde se sente mais segura. Ainda assim, no pânico de estar sendo vigiada pelo marido "ciumento e controlador", nas palavras da vítima. Ela relata ter percebido o jeito obsessivo do homem desde o começo. "Quando eu não atendia as ligações, ele ia no meu local de trabalho, ficava me cuidando", relata.

Foi depois de um desses episódios que ela decidiu pela separação. Acabou o relacionamento e começou a perseguição. "Fiquei na minha tia, porque minha casa que eu morava com ele estava alugada. A gente começou a perceber carros passando na frente da casa dela, devagar, cuidando lá dentro. Depois, todo lugar que eu ia percebia que tinha um carro parado", explica.

Desconfiada, a depiladora começou a anotar as placas dos veículos. "Eram cinco ou seis carros, mas sempre os mesmos. Comecei a perceber que ele estava me monitorando", detalha. Em determinado dia, foi ao shopping trocar uma joia, quando foi surpreendida pelo ex. "Fui trocar uma joia, ele chegou me xingando, de vagabunda e ladra, falou que tinha roubado a joia, mas a atendente falou que a garantia estava no meu nome e eu podia trocar".

Foi quando a vítima registrou o primeiro boletim de ocorrência. "Um dia antes ele tinha me ameaçado de morte, mandando mensagem dizendo 'eu vou te matar'. No shopping, chamei o segurança, que acionou a polícia e eu fui para delegacia, registrei boletim de perseguição, injúria e ameaça", conta.

Mas a perseguição continuou. "Troquei de telefone, porque estava rastreado, troquei e-mail e um dia o advogado falou que achava que tinha um rastreador no meu carro. Fui em uma loja especializada, descobri o rastreador e fiz mais um boletim", lamenta.

A depiladora acredita que o ex possa cumprir a ameaça de morte. "Saía do trabalho, tinha um carro parado, abria o vidro, me fotografava e fazia sinal de luz. Isso me gerou um pânico, não sei se ele quer me aterrorizar, me assustar, se está fechando o cerco achando que assim eu vou voltar ou se, de fato, agora que saiu o mandado de prisão ele quer me matar".

Em outra ocasião, a casa da tia foi invadida. "Ficou tocando campainha, vi que era ele e não abri. Uma hora e meia depois chegou o carteiro, quando eu abri, ele [ex] entrou e pegou meu celular. Entrei em luta e quebrou meu aparelho, foi quando gritei para a vizinha chamar a polícia", lembra. Na ocasião, a mulher descobriu que a caminhonete de Castilhos estava parada há cerca de duas horas em frente ao imóvel.

Em determinado dia, a mulher chamou a polícia ao perceber um motorista de aplicativo a seguindo. "Comecei a registrar os boletins e na terceira vez que um Gol estava me seguindo, eu chamei a polícia. O cara foi abordado e bem na hora o Márcio ligou, os policiais abriram o WhatsApp, tinha foto minha trabalhando, do meu filho, da minha casa e daquele momento que tinha acabado de tirar de mim. É perturbador isso", descreve.

Segundo a depiladora, o ex sempre liga de número diferente. Na semana passada, flagrou um rapaz a vigiando no trabalho e foi avisada por um amigo. "Ele pegou a placa, checamos com a foto e era um cara com passagens por homicídio", explica. Em pânico, a mulher ligou para o ex-sogro, que alertou. "Se ver esse cara chama a polícia, o Márcio fez uma transferência para ele essa semana", teria dito o homem, que tem uma empresa em sociedade com o filho.

Com medo, a depiladora parou de ir trabalhar. "Estou com crise de ansiedade, fico com corpo tremendo, não consigo dormir, ainda mais depois do cara que tem homicídio, penso que vou morrer. Quando vou trabalhar fico cuidando tudo, lá a gente só usa o banheiro do mercado, tenho medo porque a qualquer momento alguém pode me abordar e me dar um tiro", lamenta. "Ele é um psicopata, tem noção do que está fazendo, caso contrário não estava escondido", completa a mulher.

Além de todos os episódios, recentemente, quando foi em um barzinho, o ex apareceu repentinamente. "Apareceu e quebrou meu telefone". Mais uma vez, foi feito outro boletim de ocorrência e, então, saiu o mandado de prisão de Márcio.

"Ele já falou 'não tenho nada a perder, se eu tiver que ser preso, você vai morrer'. Penso que se ele não conseguir me atingir, vai fazer algo com meus filhos", lamenta. "Eu preciso de socorro, de ajuda, de holofote ou que a família dele tome alguma atitude", complementa.