Com 23 mil m², praça se divide entre zelo do cidadão e descaso da prefeitura
Lixeira é fruto de doação e tela de proteção foi derrubada na “Praça dos Pretos Velhos”
Com área de 23.845 metros quadrados, a “Praça dos Pretos Velhos”, na Vila Progresso, em Campo Grande, é retrato do zelo do cidadão e o desleixo do poder público. Enquanto muda de árvores frutíferas - acerola, mamão, limão - são cuidadas com esmero em iniciativa particular, boa parte da tela que cerca o local está no chão.
O “Diagnóstico das Praças Oficiais do Município de Campo Grande”, publicado em 2021, reforça a pouca infraestrutura oferecida aos frequentadores. O documento detalha que o espaço público não tem bancos, bebedouros, parque infantil e nem banheiro. No local, a única lixeira foi doada no ano passado.
“A prefeitura deixa a desejar, o que é uma pena”, diz José Rubens. Morador na Vila Carlota, ele conta que sempre fazia caminhada, mas estava sem frequentar a praça há oito meses por questão de saúde.
Ao retornar na manhã desta quarta-feira (dia 2), encontrou as cercas ainda caídas e a praça suja.
A professora Rosa Neiva Soares Obregon, 55 anos, conta que as cercas viram alvos de condutores em alta velocidade e alcoolizados, que circulam no período noturno. “A praça é muito usada, vem bastante criança”, diz.
Ela reclama que colocaram o portão perto da rua mais movimentada, com maior risco para os pedestres. Ainda de acordo com Rosa, as árvores são cuidadas por um morador, enquanto que a prefeitura não faz manutenção frequente.
Iniciativas de preservação da comunidade são sempre bem-vindas, mas cabe lembrar que a população paga impostos para que a administração municipal cuide de praças e parques.
Localizada entre as avenidas Fábio Zahran e Salgado Filho, a “Praça dos Pretos Velhos” é mais conhecida como “Praça do Preto Velho” pela estátua inaugurada em 13 de maio de 1995 e que representa as religiões de cultos afro-brasileiros.
No mês de agosto, a imagem do Preto Velho, do escultor Gentil da Silva Meneses, foi restaurada de forma voluntária pelo pedreiro Henrique Rodrigues. A escultura recebeu pintura para avivar as cores, desgastadas pelo tempo.
Três meses depois, as costas da estátua já têm pichação. A poucos passos, a única lixeira estava abarrotada de sacolas. Já a única quadra para esportes é cercada por telas esburacadas.
Também de iniciativa popular, várias placas espalhadas pela área verde pedem preservação da natureza e cuidado com o local.
Apesar da situação verificada pela reportagem, a Prefeitura de Campo Grande informou que a limpeza é feita mensalmente e que a Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) já incluiu na programação de serviços a manutenção da praça.
História – A praça foi criada pela Lei 3.141, de maio de 1995, na gestão do então prefeito Juvêncio César da Fonseca.
Naquele ano, a Federação dos Cultos Afro-Brasileiros e Ameríndios de Mato Grosso do Sul doou à prefeitura a escultura do preto velho.
Ao longo de quase 30 décadas, a estátua testemunhou a intolerância religiosa, com atos de vandalismo, que incluiu até ser queimada.
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