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Denunciado de ameaçar e ofender cliente de MS, diretor da Hurb renuncia ao cargo

Empresa vende pacotes de viagens; cliente da Capital denunciou irregularidades e foi ameaçado

Guilherme Correia | 24/04/2023 13:09
João Ricardo Mendes renunciou ao cargo de diretor da empresa, mas segue como principal acionista. (Foto: Divulgação)
João Ricardo Mendes renunciou ao cargo de diretor da empresa, mas segue como principal acionista. (Foto: Divulgação)

Após sofrer diversas críticas e fazer ameaças, com gravação divulgada por cliente de Mato Grosso do Sul, João Ricardo Mendes renunciou ao cargo de CEO da agência de viagens Hurb (ex-Hotel Urbano) nesta segunda-feira (24). Ele tem passado por uma onda de reclamações de clientes e hotéis parceiros em diversos locais do País.

Em carta divulgada pelos portais Terra e Uol, o empresário diz reconhecer erros de gestão da companhia e a maneira como lidou com os problemas. Ele anunciou que deixará a liderança a partir da terça-feira (25).

João xingou e expôs dados pessoais de clientes que reclamavam do serviço da plataforma, além de ter divulgado um vídeo em que ironiza as reclamações contrárias.

O conselheiro da Hurb, Otávio Brissant, assumirá a direção da empresa, segundo o comunicado. "A equipe de liderança votará em um nome para assumir a posição de COO e todos do HLT (Hurb Leadership Team) estarão administrando a companhia como acionistas que são, temos nossos objetivos totalmente alinhados", explica em nota.

A carta, obtida pela reportagem, ressalta que os erros foram apenas do ex-CEO e não da empresa como um todo. “As críticas que recebi são um forte lembrete de que devo mudar fundamentalmente como líder e crescer”.

“Dizer que estou envergonhado é um eufemismo extremo. Meu trabalho como líder é liderar, e isso começa com um comportamento que deixa nosso time e clientes orgulhosos. Não foi isso que fiz e não posso dizer que não vou manter certos princípios sagrados”.

Ainda que tenha deixado o cargo de direção, ele afirma que, por ser fundador da empresa, segue como principal acionista e responsável legal pela companhia.

“Caso a liderança julgue necessário, estarei disposto full time 24/07 em áreas que acredito agregar mais, como um ‘fundador sem função executiva”, ressaltou o empresário, que finalizou a carta com uma citação da música “Till I Collapse”, do rapper Eminem, cuja tradução significa “até eu colapsar”.

João Ricardo Mendes expôs dados e ofendeu clientes que reclamaram de serviço. (Foto: Direto das Ruas)
João Ricardo Mendes expôs dados e ofendeu clientes que reclamaram de serviço. (Foto: Direto das Ruas)

Ameaças - "Fica satisfeito já de não viajar, porque tá arriscado alguém bater na tua casa hoje, hein. Nessa merda dessa tua casa", disse o empresário em vídeo gravado pelo vendedor Miguel Nader Junior, de 32 anos, que encaminhou o registro ao Campo Grande News. O conteúdo foi compartilhado posteriormente pelo próprio empresário em sua conta do Instagram, mas apagado logo em seguida.

Ele relatou que, após denunciar João Ricardo Mendes, por ameaças e injúrias, campo-grandense recebeu apoio de diversos outros clientes que também têm se sentido lesados em relação ao serviço prestado pela empresa.

Segundo ele, a empresa possui grupos com vários clientes em que uma das regras é não poder reclamar. Nos últimos meses, viajantes de diversos locais do País têm tido problemas com a agência. “Os clientes não entenderam que está todo mundo no mesmo barco. Se o cara não está querendo resolver, na verdade vai todo mundo se ferrar”, opinou ele.

O caso aconteceu na madrugada da última sexta-feira, quando Miguel se surpreendeu quando o diretor da empresa ligou diretamente para o seu celular - inicialmente, ele disse que resolveria um problema apresentado em um produto oferecido pela plataforma, mas posteriormente o sul-mato-grossense foi alvo de ameaças e injúrias.

O fato foi denunciado à Polícia Civil e boletim de ocorrência foi registrado. Miguel, no entanto, afirmou que vai se reunir com advogados para incluir em processo futuro a denúncia de que o CEO expôs seus dados pessoais, como CPF, número de telefone, endereço e até IP, em diversos grupos na internet.

“O primeiro vídeo mostra meu número e tem muita gente me chamando no direto, o tempo inteiro, até para saber o que está acontecendo. Há também gente pedindo o telefone dele, mas eu não passo porque é uma exposição de dados”, afirma o cliente.

Miguel conseguiu o número do empresário na internet e entrou em contato para tentar resolver pendência de um dos quatro pacotes adquiridos na agência. O próprio João Ricardo Mendes administra vários grupos de WhatsApp criados com centenas de clientes.

Exposição de dados - O cliente campo-grandense relatou que teve seus dados expostos e trechos da conversa no grupo de WhatsApp "PS Hurb eu te amo", composto por diversos clientes que buscam resolver pendências e se informar sobre os pacotes.

No grupo, o cliente publicou sua própria gravação e foi bloqueado - o grupo é administrado também por João Ricardo Mendes. Em seguida, recebeu relatos de outros participantes de que o CEO da empresa teria publicado seus dados pessoais, como nome, CPF e cartão de crédito.

Conforme o boletim de ocorrência, já noticiado pelo Campo Grande News, o CEO o teria chamado de "marica, bundão, mentiroso" e posteriormente ameaçou a vítima dizendo que sabia como encontrá-lo.

“Ele publicou no grupo do WhatsApp a planilha e, mesmo sabendo que era vazamento de dados, falou que era para quem quiser passar trote. Desde o episódio, ninguém da empresa entrou em contato comigo”.

O advogado Raphael Chaia explica ao Campo Grande News que a exposição indevida de dados representa uma violação, segundo a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), que estabelece uma série de responsabilidades para aqueles que fazem o tratamento de informações de terceiros.

Os dados não podem ser compartilhados sem que haja consentimento expresso, livre e informado do titular. Ou seja, para que possa haver o tratamento, e o compartilhamento de dados envolve o processo de tratamento, deve haver autorização do titular e tem de ser informada a finalidade do tratamento”, explica o advogado Raphael Chaia.

Chaia ressalta que a prática denunciada pelo cliente sul-mato-grossense pode se caracterizar como “doxxing”, ou seja, uma exposição indevida de dados pessoais e identidade na internet, de forma generalizada. “Quando você compartilha informações como essas em que a vítima alega que foram compartilhadas, como número de CPF, endereço ou cartão, claramente houve uma conduta delituosa grave, que vai gerar responsabilização”.

“Isso foi feito num grupo de WhatsApp, gerido aparentemente pelo dono do site, e é um canal oficial da empresa. Sendo o canal da empresa administrado pelo presidente da empresa, podem ser aplicadas as sanções administradas pela LGPD. Nesse caso, as sanções variam desde advertência e multa de 2% no total do faturamento até mesmo questões mais extremas como proibição de coleta e tratamento de dados”, finaliza.

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