Artista é chamado até de vagabundo, mas não desiste da liberdade da rua
Argentino, Nicolas abandonou emprego de serralheiro para fazer pirofagia nos semáforos de Campo Grande
Natural de Santa Rosa, na província de La Pampa, o argentino Nicolas Ignácio, de 32 anos fez uma escollha de vida ousada. Há 15 anos, abandonou a profissão de serralheiro para viver como artista de rua em Campo Grande, a mais de 2.400 km de casa.
Especialista em pirofagia, arte circense de manipular objetos em chamas, Nicolas se apresenta nas ruas da cidade e diz que nunca foi tão feliz e tão bem pago com o que faz.
“Eu ganhava R$ 500 por semana trabalhando de segunda a sábado, o dia inteiro, e não tinha tempo para mais nada. Agora, trabalho cinco ou seis horas por dia consigo buscar minha filha na escola, tomo café tranquilo e faço meus exercícios”, compara. Segundo elez os ganhos são variáveis mas chegam a dois salários mínimos.
No currículo do argentino, estão coberturas metálicas, portões e grades, aprendidos desde criança com o pai na oficina da família. Mas foi em uma igreja abandonada, ocupada por um grupo cultural em sua cidade natal, que o caminho começou a mudar.
“Eles davam oficinas de arte, ensinavam de tudo: violino, serigrafia, malabares... foi lá que aprendi e comecei a me apaixonar”, lembra.
O espírito aventureiro sempre fez parte da vida do artista. Com 18 anos cruzou a fronteira e foi para o Rio de Janeiro, onde comprou seu primeiro monociclo e começou a se apresentar nas ruas.
Segundo ele, a chegada em Capital foi por acaso. Ele se apaixonou por uma campo-grandense, se casou e, com o nascimento da filha, fincou raízes na cidade.
No vai e vem de carros nos semáforos, o 'hermano' diz Campo Grande é uma cidade com gente mais fechada. "Não é como em outras cidades onde você senta numa conveniência e acaba passando a tarde toda com desconhecidos”, comenta.
Ainda assim o artista conquistou espaço e rejeita o preconceito que vira e mexe enfrenta. “Muita gente olha e me manda trabalhar, me chamam de vagabundo. Mas eu estou trabalhando. Só que do meu jeito, fazendo arte. E a rua me dá uma liberdade que nenhum emprego dá. Isso não tem preço”, relata.
Mesmo com planos de um dia montar a própria serralheria, Nicolas não pretende abandonar a rua tão cedo. “Aqui é minha escola, minha terapia e minha alegria. É onde recebo carinho de verdade. Tem quem não valorize, mas tem quem me aplauda. Isso, pra mim paga muito mais que dinheiro", finaliza.
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