Desossador surdo reclama de frigorífico e pede R$ 211 mil em indenização
Trabalhador alega sofrer discriminação e ter adquirido problemas de saúde ao longo de 12 anos de contrato
A dificuldade de se comunicar e até entender procedimentos de segurança onde trabalha foi um dos motivos que levaram um funcionário surdo da fábrica da JBS, em Campo Grande, a mover um processo trabalhista contra a empresa. A ação judicial tramita na Justiça do Trabalho de Mato Grosso do Sul desde julho deste ano.
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Um funcionário surdo da fábrica da JBS em Campo Grande moveu um processo trabalhista contra a empresa alegando discriminação e falta de acessibilidade. O funcionário reclama da falta de intérprete de LIBRAS, dificuldades de comunicação com o RH e ausência de suporte para surdos na empresa. Além disso, ele alega problemas de saúde relacionados ao trabalho, como lesões nos braços, ombros e coluna vertebral, e pede indenização por danos morais, materiais e adicionais de insalubridade. A JBS ainda não se manifestou sobre as acusações.
Em audiência realizada na manhã desta segunda-feira (28), a intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) e filha de deficientes auditivos, Vitória Maria de Paiva Aquino, contou ter ajudado o funcionário a encontrar um advogado especializado nesse tipo de causa e a reclamar seus direitos.
"Ele me procurou para dizer que estava tendo muito problema na empresa por falta de acessibilidade, discriminação. Fiquei surpresa porque há outros funcionários surdos trabalhando lá. Fomos descobrindo mais discriminações, falta de empatia, que não dão apoio e não sabem como se comunicar com eles", conta.
Vitória continua. "Diz que em 2022 tinha intérprete de Libras, mas ela saiu e eles ficaram sozinhos. Hoje, os deficientes auditivos reclamam que quando dão palestras ou precisam conversar sobre algo no Recursos Humanos, por exemplo, não conseguem se comunicar".
O funcionário começou a trabalhar na JBS há 12 anos como ajudante de produção contratado pela cota reservada a pessoas com deficiência. Hoje, é desossador e trabalha das 15h às 1h, com 1 hora de intervalo para descanso. "Eu fico muito triste porque não é só a JBS. Temos outras empresas que contratam essa comunidade, dão acessibilidade para pessoas com outros tipos de deficiências, mas para os surdos, não", finaliza a intérprete.
Outros problemas - Advogado do deficiente auditivo, Davi Nogueira descreveu à Justiça outras reclamações do desossador. Entre elas, estão doenças do trabalho relacionadas a movimentos repetitivos e ao peso de carcaças.
"Nesses 12 anos, o trabalho que realiza é notadamente braçal e repetitivo. Para desossar as carcaças, que ficam suspensas em ganchos, sem estabilidade, o reclamante fica de pé, com postura não ergonômica, realizando movimentos repetitivos com a faca, que muitas vezes sem fio, o força a repetir o mesmo movimento por mais vezes. Após retirar a carne do osso, exige-se do reclamante que descarte a carcaça e que pegue com os braços uma nova – o traseiro pesa em torno de 50kg – e pendure-a no gancho para desossa", escrevem em um trecho da petição.
Como resultado, o funcionário adquiriu lesões causadas pela sobrecarga nos braços, ombros e coluna vertebral.
Apesar de tanto esforço, diz não receber adicional de insalubridade pelo trabalho e nem premiações que deveriam ser pagas pela produtividade.
Pedidos - No processo, o funcionário pede que a JBS pague indenizações por danos morais por discriminação no local de trabalho e danos à saúde e também por danos materiais. Os valores somam cerca de R$ 211 mil.
Outro pedido é o depósito de valores do adicional de insalubridade, que totalizam R$18 mil.
Os advogados pedem uma perícia médica para apurar relação entre as doenças que o desossador apresenta e o tipo de trabalho realizado na fábrica, além da emissão de um comunicado de doença do trabalho e a rescisão indireta do contrato.
O que diz a empresa - O Campo Grande News questionou a JBS sobre a falta de intérprete de Libras e pediu uma nota de posicionamento. Não houve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.
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