“Ele passava faca em mim e no meu filho”, conta mulher sobre virar refém do ex
Negociação com a Polícia Militar demorou cerca de 20 minutos até que o ex-marido da vítima desistisse
“A gente sentado no chão, ele passava a faca em mim e no meu filho. Foi muita tortura”. Um mês após se separar, Maria*, de 28 anos, passou cerca de duas horas sendo agredida pelo ex-marido, de 26 anos, ao lado do filho, de 6 anos, até que a polícia conseguisse a libertar na noite desta segunda-feira (6). Tentando se acalmar, ela conta que agressões verbais por dois anos acabaram com ela sendo, literalmente, refém do agressor.
Sete anos de casamento foram encerrados no início de janeiro, quando Maria conseguiu dizer que bastava, mas acabou sendo surpreendida mais uma vez nesta semana. Doméstica, a vítima explica que os primeiros cinco anos ao lado do ex-marido parecem ter sido vividos com outra pessoa.
Ele era trabalhador demais, sempre foi calmo. Até que há dois anos, eu descobri que ele estava usando drogas e não tive mais paz dentro de casa. Começou a ficar agressivo, quebrava móvel e levava coisa de casa para vender", narra.
A doméstica conta que neste período, xingamentos se tornaram algo presente em todos os momentos. “Ele me xingava de vagabunda, falava que eu não valia nada e ao mesmo tempo queria que eu servisse ele com um rei, o todo poderoso. A partir disso, eu fui observando, trabalhando e não foi fácil”.
Cansada e ao lado dos filhos, de 6 e 8 anos, Maria resolveu procurar na internet meios para deixar as agressões psicológicas no passado. Por isso, viu depoimentos sobre pessoas que tinham conseguido sair de relacionamentos com dependentes químicos violentos.
Pesquisei como sair de um relacionamento sem ser morta, sem me prejudicar e prejudicar minha família, isso há três meses. Como eu deveria ter coragem de sumir de uma vez com meus filhos", ela conta.
Em janeiro, os dois se separaram, mas de acordo com a vítima, o homem nunca aceitou que o relacionamento havia acabado e a tortura só teve fim com sua prisão na segunda-feira. “Ele chegou bêbado, foi direto para dentro e deitou na cama. Eu falei para ele ficar e disse que eu ia embora, mas ele não aceita a separação”.
Foi a partir deste momento, quando ela tentou sair da casa, que os chutes e enforcamentos começaram. “Fui saindo e ele puxou meu cabelo, me arrastando para o quarto. Aí, me chutou, me enforcou muito, me arranhou. Acho que foi mais de uma hora de luta tentando me defender”, explicou.
Ao mesmo tempo, o filho do casal, de 6 anos, via toda a cena enquanto também era agredido com chutes e ameaças. De acordo com a vítima, o ex-marido disse que iria matar o filho, ela e a si mesmo. “O nenê veio, sentou do meu lado e falou: ‘Pai, se for matar minha mãe, me mata também’. Eu sabia que ia sair dali, mas o medo naquela hora era maior”, relata.
Em meio à confusão, o menino conseguiu sair da casa e tentou pedir por ajuda, que não apareceu logo na primeira tentativa.
“Ele escapou e pediu socorro, mas acho que no movimento todo, as pessoas ficam com medo de se intrometer. Ele voltou chorando e nessa hora, meu ex-marido continuava me segurando. Eu bati na cabeça dele, mordi o braço e consegui fugir para a rua com meu filho”, diz.
Pedindo por socorro, Maria foi capturada mais uma vez pelo agressor, que a arrastou até a casa. “Deu só tempo de pedir socorro, ele veio atrás e saiu me arrastando pelo meu cabelo. Ele fechou o portão, as janelas e dali, foi ameaça com faca até a polícia chegar”.
Pouco tempo depois, pessoas que viram as agressões na rua foram até a casa e tentaram entrar no local, mas não conseguiram. “Teve uma hora que eu achei que ia desmaiar, porque ele me enforcou tanto, aí vi que ele estava querendo me matar. Depois disso, o portão só abriu de novo com a polícia”.
Se recuperando dos traumas, ela diz que só pensa em seguir sua vida ao lado dos filhos e de sua família. “Meu psicológico parece que ainda está lá na casa, não foi fácil e não desejo para mulher nenhuma. Quem passa por isso, precisa tomar coragem e sair de casa, porque quem fica acaba morrendo.”
(*) O nome usado na matéria é fictício para proteger a identidade da vítima.
Procure ajuda!
Em situações de emergência, vítimas de violência doméstica devem ligar para o 190. Também é possível entrar em contato pelo número 180, a Central de Atendimento à Mulher, que funciona 24 horas por dia, durante todos os dias da semana.
No mesmo sentido, a equipe do Promuse (Programa Mulher Segura) atende pelo WhatsApp no (67) 99180-0542. Outra opção é através do site www.naosecale.ms.gov.br/denuncias/.
Outra opção para buscar ajuda é ir até a Casa da Mulher Brasileira, que fica localizada na Rua Brasília, Jardim Imá. O número para contato é (67) 2020-1300.