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Capital

Em júri, delegado encara réu por matar pelo PCC e diz: “não tenho medo de você”

Titular da DHPP foi intimidado pelo acusado Wesley Torres, no momento em que respondia pergunta da defesa

Por Bruna Marques | 08/02/2024 11:08
Delegado Carlos Delano durante sessão de julgamento no Tribunal do Júri (Foto: Bruna Marques)
Delegado Carlos Delano durante sessão de julgamento no Tribunal do Júri (Foto: Bruna Marques)

Estão sendo julgados nesta quinta-feira (8) Wesley Torres da Silva, conhecido como “gordão da Falcon”, e Márcio Fernandes Feliciano, o “MCD”. Os dois são acusados de envolvimento na morte do jovem Maykel Martins Pacheco, 19, ocorrida em 2019. O rapaz foi vítima de uma sessão de tortura, a mando da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Até hoje, o corpo do rapaz não foi encontrado.

Durante a sessão do Tribunal do Júri, o delegado titular da DHPP (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios) Carlos Delano foi ouvido como testemunha de acusação. Durante depoimento, a autoridade contou com detalhes toda a dinâmica da investigação sobre o caso.

No momento em que o advogado Carlos Olímpio de Oliveira Neto, que defende Wesley Torres, questionava o delegado sobre o fato de a irmã do acusado ter denunciado sessão de tortura que ele sofreu no tempo em que esteve preso na delegacia, o réu encarava Delano, como forma de intimidá-lo.

O delegado responde que a irmã do réu tinha acesso a ele todos os dias e em uma data, a mulher se atrasou para chegar e os policias não quiseram tirar Wesley da cela, fato que fez com que ela denunciasse a equipe. Enquanto explica a situação, o delegado parou e olhando fixamente nos olhos do réu disse: “Você está me olhando de maneira desafiadora, como forma de me intimidar, eu não tenho medo de você, Wesley”, afirmou o Carlos Delano.

Além do delegado, a ex-esposa de Wesley também foi ouvida no plenário. Quando questionada pela defesa sobre o relacionamento dos dois, a mulher afirmou que “ele sempre foi trabalhador, nunca passou isso pela minha cabeça isso. Ele não era de se ausentar, nunca foi de dormir fora, sempre voltava para casa depois do trabalho”.

Sobre o crime, ela afirmou não ter conhecimento. “No dia que ele foi preso fui na delegacia, mas só esse dia mesmo. Ele não era de amizade, não gostávamos de amizade na nossa casa, nunca comentou sobre o Márcio”, disse.

A frente, Márcio Fernandes, atrás, Wesley Torres, entrando no plenário (Foto: Bruna Marques)
A frente, Márcio Fernandes, atrás, Wesley Torres, entrando no plenário (Foto: Bruna Marques)

A mulher de Márcio Fernandes, com quem é casado há 17 anos, também foi ouvida como testemunha de defesa. Questionada sobre o que o marido fez no dia do crime, ela revelou que não sabe. “A gente tinha brigado na mesma noite e pedi pra ele ir embora da nossa casa. Brigamos porque ele queria trabalhar de Uber e eu não queria que ele trabalhasse à noite”, relatou.

Na época, a mulher que até hoje trabalha como diarista disse que só soube da prisão do marido três dias depois. “A vizinha que me falou que ele foi preso. Procurei advogado e fui até a delegacia. Só lá fiquei sabendo o motivo, através do advogado. Fui ver ele só depois de três meses na delegacia”, afirmou.

Cara a cara com o juiz Carlos Alberto Garcete, Wesley disse que a versão contada pelo delegado Carlos Delano, durante a sessão, é mentira. “O que ele fala não é exatamente o que aconteceu. Quando me pegaram e levaram para delegacia só tive contato com a minha família no primeiro dia. No depoimento que fizeram comigo eu estou assustado, tinha um policial do meu lado, eu estava sem advogado. Todo momento fui torturado, cacete mesmo, foi dessa forma”, revelou.

Mais condenados – No dia 19 de outubro de 2023, Márcio Douglas Pereira Rodrigues e Tales Valensuela Gonçalves foram condenados pelo mesmo crime. Somadas, as penas resultam em 42 anos de reclusão em regime fechado.

De acordo com os autos, Tales foi o primeiro a ter a sentença anunciada na 1ª Vara do Tribunal do Júri. O Conselho o condenou por cárcere privado e homicídio doloso, o que totaliza a pena de 21 anos e pagamento de 10 dias-multa.

Já para Márcio, o grupo considerou a prática de violência excessiva contra a vítima. Pela regra do cúmulo material, o autor recebeu a pena de 21 anos de prisão.

Maikel Martins Pacheco, em foto utilizada nas redes sociais. (Foto: Arquivo)
Maikel Martins Pacheco, em foto utilizada nas redes sociais. (Foto: Arquivo)

O caso - Maykel foi vítima de uma sessão de tortura, a mando de uma facção criminosa atuante dentro e fora dos presídios, de acordo com a denúncia. No entanto, o corpo da vítima nunca foi achado.

Durante a captura de um dos envolvidos, Wesley Torres da Silva revelou detalhes de como o crime aconteceu. Em depoimento, relatou que era simpatizante da facção, vendia drogas na região da Vila Nhanhá e na antiga rodoviária e fazia alguns serviços para integrantes do PCC.

Maykel passou a noite no local, em “julgamento”, e na manhã do dia seguinte foi levado para o local em que foi executado, uma estrada vicinal da Estação Guavirá.

Na versão de Wesley, ele ficou vigiando a região enquanto os outros entravam em uma mata com a vítima. De longe ouviu tiros. Afirmou ainda que todos fugiram logo em seguida, por conta da aproximação de um carro.

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