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Capital

Em nova onda que faz a cidade queimar, dirigir carro antigo é crueldade em dobro

Mato Grosso do Sul está entre estados mais quentes do país; Inmet colocou 71 cidades sob alerta

Por Natália Olliver | 12/03/2024 17:09
Valdivino Ribeiro Novaes tem Toyota Bandeirante sem ar há 25 anos (Foto: Marcos Maluf)
Valdivino Ribeiro Novaes tem Toyota Bandeirante sem ar há 25 anos (Foto: Marcos Maluf)

Se com ar condicionado o calor de Campo Grande já é incômodo para os motoristas, quem não tem condições de viver no “luxo”, acaba refém da crueldade do clima. Na picape antiga, Valdivino Ribeiro Novaes, 76 anos, conta que para sobreviver no veículo é preciso muita água gelada e fé. Para tentar driblar o calor ele aposta em deixar todas as janelas abertas.

Essa é uma das alternativas mais usadas por quem quer fugir do forno de um carro sem ar o recurso. Conforme o aposentado, o clima castiga. “É cruel, a gente vai porque não tem jeito. Trabalho com caixas de pallet, de mercado. Pego, arrumo e despacho. É cruel demais, quente. A gente é mais que tirador de espírito aqui dentro. Deixo o vidro aberto, fé em deus e pé na tábua”.

Valdivino tem o Toyota Bandeirantes, versão 79, há 25 anos. Mesmo velho e precário, ele não abre mão do carro, que é acima de tudo, uma maneira de ajudar na renda da casa. “Nessa idade minha a gente não consegue mais serviço. Sou aposentado, mas o dinheiro que ganha não paga nada, nem luz e água”.

A necessidade em se locomover para trabalhar faz de Israel Ribeiro, de 57 anos, ter que lidar diariamente com o calor extremo que, dentro do Elba, é ainda mais sufocante. “A gente tem que abrir a janela e tudo o que tiver direito para entrar um ar. Tem que parar na sombra também. Não dá pra ficar muito tempo não, você passa mal. Já passei. Tem que sair, ficar na sombra”.

Ele comprou o veículo já usado para conseguir chegar até o serviço. Hoje ele é soldador, mas garante que faz de tudo um pouco. Além de abrir os vidros, ele também leva água para onde vai.

Israel Ribeiro é outro que sofre rodando a cidade no calor. (Foto: Marcos Maluf)
Israel Ribeiro é outro que sofre rodando a cidade no calor. (Foto: Marcos Maluf)

No lava jato do bairro Tiradentes, Lucas Francisco da Silva, 32, proprietário do estabelecimento conta que o tio precisou trocar de carro por conta do calor. “Estava muito quente e viu que seria uma boa. Às vezes a gente vê carro que não tem ar, mas nesse calor que está a preferência das pessoas é carro com ar. O meu tem. Eu sempre tive carro com ar, mas não era requisito. É melhor”.

José Roberto Queiroz, 66 anos, não abre mão do que hoje em dia nem é mais luxo. Para ele, é impossível viver no centro-oeste sem um veículo com ar condicionado. O carioca está no Estado há oito anos e já se considera um cidadão sul-mato-grossense.

“É impossível viver sem. Infelizmente tem gente que não tem recurso,mas é lamentável. O ar é bom que mantém a gente confortável, mas muito tempo ligado deixa nariz, olhos garganta secos. Então é duas coisas. A felicidade de ter e a disciplina para usar”.

José Roberto afirma que viver no Estado sem ar no carro é impossível (Foto: Marcos Maluf)
José Roberto afirma que viver no Estado sem ar no carro é impossível (Foto: Marcos Maluf)

Mas independente de ter ou não o ar dentro do veículo, só abrir a porta já é um sofrimento. Com o carro "pegando fogo", estacionado no sol, o motorista de aplicativo Domingos Cardoso, de 53 anos, diz se sentir um frango assado quando abre o carro.

"Vixe, parece que tem um forno aqui dentro. Tem ficado frequente essa sensação. Todo dia desse jeito! Tá cada dia aumentando mais. O ar condicionado tô usando no três direto e não dá conta", reclama.

Tempo Mato Grosso do Sul está, constantemente, entre os estados mais quentes do País. Na segunda-feira (11), o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) colocou 71 municípios sob alerta de perigo de calor. A previsão é de temperatura 5ºC acima da média entre três e cinco dias. O fim previsto é para a próxima sexta-feira (15).

Segundo o Inmet, será a última bolha de calor do ano, provocada por fenômeno chamado de "domo de calor",  massa de calor formado no Paraguai e no norte da Argentina.  No Brasil, Mato Grosso do Sul deve ser o estado mais impactado, com sensação térmica acima de 40ºC.

Como o clima é prejudicial para saúde. Em caso de emergência, a recomendação é ligar para Defesa Civil (199).

Cuidados - Mantenha-se hidratado, evitando a exposição prolongada ao sol entre as 10h e as 16h. Também é importante buscar locais com sombra, usar roupas leves e frescas e aplicar protetor solar regularmente.

Esteja atento aos sinais de exaustão e insolação, como tonturas e náuseas, e busque assistência médica se necessário.

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