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Capital

Entre vírus e fumaça, problema extra é aumento de 64% nas queimadas urbanas

Aumento ocorreu no mês de abril em comparação com 2019 entre as ocorrências atendidas pelos bombeiros

Izabela Sanchez e Danielle Errobidarte | 05/05/2020 13:32
Morador do Lagoa Dourada quis ver se as chamas não ultrapassavam o terreno ao lado (Foto: Marcos Maluf)
Morador do Lagoa Dourada quis ver se as chamas não ultrapassavam o terreno ao lado (Foto: Marcos Maluf)

Em Campo Grande, em abril, militares do Corpo de Bombeiros atenderam 278 ocorrências de incêndio. No mesmo mês no ano passado foram 169, aumento de 64% em um ano. Com o aumento do fogo durante a quarentena, a população reclama de enfrentar dois perigos no ar ao mesmo tempo: o risco de contágio pelo novo coronavírus e a fumaça que prejudica a respiração.

Especialmente os idosos, que devem evitar sair de dentro de casa por serem o grupo de maior risco comprovado da infecção covid-19. Nos bairros de Campo Grande, a população reclama dos incêndios em terrenos, que surgem "espontaneamente" ou porque alguém colocou fogo no lixo descartado.

Dados do Corpo de Bombeiros indicam aumento em 2020 (Arte: Ricardo Gael)
Dados do Corpo de Bombeiros indicam aumento em 2020 (Arte: Ricardo Gael)

Só na manhã desta terça-feira (5) foram ao menos três incêndios atendidos pelo Corpo de Bombeiros. Os militares relataram estarem praticamente em função do combate ao fogo desde domingo (3). Quando ocorrem só nos terrenos, o problema é a fumaça, mas em abril tem quem tenha perdido tudo - da casa aos móveis - numa época em que segurar o que dá é prioridade em razão da crise econômica.

No conjunto Estrela Dalva o aposentado de 51 anos Paulo Jorge filmou incêndio em terreno durante a noite na Rua Getulina:



“É todo dia isso, povo trazendo lixo, colocando ali e pondo fogo”, criticou.

Dados de queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apresentam números diferentes porque o monitoramento ocorre por satélites. Ainda assim, o aumento segue. Segundo o Inpe foram 16 focos de incêndio na região de Campo Grande em abril deste ano, contra 2 no ano passado.

Monitoramento do Inpe também indica aumento dos focos de incêndio (Arte: Ricardo Gael)
Monitoramento do Inpe também indica aumento dos focos de incêndio (Arte: Ricardo Gael)

Nesta manhã moradores da Rua Peruíbe no cruzamento a Avenida Ayrton Senna, nas Moreninhas, acionaram os bombeiros pelo fogo que começou em um terreno. O borracheiro Lenoaldo Aparecido de Campos, 45, temeu que as chamas alcançassem a casa onde vive com a esposa e três filhos. Ao voltar do banco encontrou os quatro fora da casa esperando os bombeiros.

Ele reclamou “que está difícil respirar”. “Faz três dias que pegou fogo em outro terreno, não acredito que um mato pode pegar fogo sozinho”. O agravante é a filha menor, de apenas um ano e seis meses, que tem problemas respiratórios.

O subtenente do Corpo de Bombeiros Airton José de Souza afirma que a prática de “limpeza” dos terrenos encontra o tempo seco e prejudica ainda mais o cenário. Para ele, 2020 está sendo atípico e afirma que não é comum tantos incêndios em abril.

Medo dos moradores das Moreninhas era que fogo alcançasse as casas (Foto: Marcos Maluf)
Medo dos moradores das Moreninhas era que fogo alcançasse as casas (Foto: Marcos Maluf)

“As queimadas começam no final de maio. Esse ano começou mais cedo, em abril e estamos atendendo mais ocorrências. As pessoas estão ligando desesperadas. Sabem que como a gente tem que priorizar, falam que é grave para chegarmos rápido, mas isso nos atrapalha”, disse ele.

Na região do Lagoa Dourada, outro terreno colocou em alerta a população. Vizinha de frente da área em chamas, Edinalva dos Santos, 39, chamou o Corpo de Bombeiros e aguardava a chegada dos militares do lado de fora da casa.

Área atingida pelo fogo no Lagoa Dourada (Foto: Marcos Maluf)
Área atingida pelo fogo no Lagoa Dourada (Foto: Marcos Maluf)

“Há três dias está pegando fogo, os bombeiros levaram três viaturas ontem meia noite, estava difícil respirar, tinha muita fumaça”, contou ela que tentou apagar com uso de baldes de água. “Acho que é porque alguns pontos não foram muito bem apagados”. A área tem seis hectares, aproximadamente.

Cordão de água corta metade da fotografia para chegar até o fogo no Jardim Botafogo (Foto: Marcos Maluf)
Cordão de água corta metade da fotografia para chegar até o fogo no Jardim Botafogo (Foto: Marcos Maluf)

De janeiro a abril deste ano já foram 665 ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros em Campo Grande, aumento de 14%. Em março, por exemplo, enquanto no ano passado foram 198 ocorrências, este ano o registro é de 241, salto de 21%.

Nem o posto de saúde do Jardim Botafogo escapou da fumaça nesta manhã. Terreno ao lado de uma UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família) precisou de cerca de 1,5 mil litros de água para combate. “Agora que acabou a quarentena querem tacar fogo pra limpar os terrenos”, opinou o sargento Marcelo Costa, que atuou nesse foco. “O pessoal não colabora”, disse.

Presidente da Associação dos moradores do Jardim Botafogo, Orivaldo Ribeiro, 55, afirma que tem recebido muitas reclamações, especialmente pela preocupação com os idosos. “As pessoas estão reclamando muito de incêndio por conta dos idosos, que não tem como saírem. O fogo se espalha muito rápido. Jogam lixo, mas não fica só no lugar”, comentou.

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