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Capital

"Falou que me pintaram de preto, fiquei sem reação", diz jovem vítima de injúria

Chorando, jovem conversou com a reportagem: "que sirva como lição, porque tem muita gente que aceita"

Dayene Paz e Mariely Barros | 02/03/2023 10:40
"Falou que me pintaram de preto, fiquei sem reação", diz jovem vítima de injúria
Bruna chorou ao conversar com a reportagem do Campo Grande News. (Foto: Henrique Kawaminami)

"Embora ela gritasse que não era racista, tudo que ela falava era". Com estas palavras teriam começado, nesta quarta-feira (1º), as ofensas direcionadas a Bruna Vitória, atendente de uma loja de artigos para fotografia e venda de óculos, de 22 anos. A jovem decidiu procurar a polícia contando que "foi chamada de preta" e ainda ouviu que "deveria voltar para escravatura". A mulher, de 83 anos, apontada como responsável pelas ofensas, foi presa.

Bruna recebeu a reportagem do Campo Grande News na manhã desta quinta-feira (2), na casa onde mora. Ao lado da avó, que foi acolher a neta, ela contou que trabalha com a parte de revelação de fotos na loja. Na tarde de ontem, havia expediente normal quando a idosa entrou. "Chegou gritando, falava o tempo todo gritando e olhando a parte de ótica", descreve.

Enquanto era atendida por outra funcionária, em determinado momento, a idosa começou a pedir café. Bruna respondeu que não tinha, mas foi até a cozinha preparar. "Estava chamando uma outra menina de morena e a hora que cheguei disse: 'você não é morena, é branca', todo mundo riu", conta.

"Falou que me pintaram de preto, fiquei sem reação", diz jovem vítima de injúria

Estava fazendo insultos, mas eu ri, porque era cliente e também de idade, então tentei manter o respeito a todo momento", explicou Bruna.

Após poucos minutos, a idosa foi até a farmácia, que fica em frente à loja, mas retornou e pediu para que a outra funcionária a acompanhasse até sua casa, um apartamento próximo. A jovem, então, a acompanhou. Bruna seguiu atrás delas para levar uma encomenda, no trajeto a idosa interpelou novamente, como se estivesse enxergando melhor de óculos. "Você não é branca mesmo não", teria dito. Bruna afirmou que tinha bastante gente ao redor e todos pararam enquanto ela dizia. "Você é preta e tem que voltar para escravatura", continuou.

Tentando ficar calma, Bruna respondeu que a idosa estava cometendo crime de racismo.

“Ela começou a gritar que não era racista várias vezes e falando que não tinha culpa que minha mãe tinha me pintado de preto". Naquele momento, Bruna ficou sem reação. "Eu fui criada pela minha avó e a gente que tem essa bagagem de educação, não consegue reagir com violência. Ela é uma senhora de idade, por isso mantive a educação. Fiquei tão perdida que voltei para a loja com a encomenda e chorando", desabafa.

"Falou que me pintaram de preto, fiquei sem reação", diz jovem vítima de injúria
Bruna enquanto conversava com a reportagem. (Foto: Henrique Kawaminami)

As colegas de trabalho incentivaram a jovem a chamar a polícia. "Fiquei receosa por conta da idade da mulher".

Na delegacia, disse que foi interpelada por um dos policiais. "Perguntou se eu não tinha dó ou remorso por causa da idade, dizendo que tem consequências para ela. 'Você quer ver uma senhora atrás das grades' e ainda perguntou quantas vezes eu tinha sofrido racismo. Falei: 'sofri na escola, no mercado de trabalho'. Não me senti acolhida por conta desse escrivão".

"Falou que me pintaram de preto, fiquei sem reação", diz jovem vítima de injúria
Bruna e avó receberam a reportagem nesta manhã. (Foto: Henrique Kawaminami)

Indignada, disse ao policial que se tivesse reagido, estaria presa. "Questionei ele, disse que se eu fosse uma pessoa que tivesse batido nela, tenho certeza que seria presa. Independente da idade, não justifica, vou seguir com a denúncia. Acho que pode servir de lição, porque tem muita gente que deve aceitar só por conta da idade dela", afirma.

Na saída da delegacia, afirma que foi abordada pelo filho da idosa, perguntando se poderia fazer algo por ela e que a mãe nunca havia agido daquela maneira. "Disse 'minha mãe nunca fez isso e meu pai era igual vocês, negão'".

A idosa foi levada à Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Centro por injúria racial. O caso é investigado. A reportagem teve acesso ao nome da idosa, mas optou não divulgá-lo porque busca contato para ouvir a versão dela.

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