Falta de medicamentos na rede pública põe tratamentos psiquiátricos em risco
Prefeitura diz que em geral, farmácias estão com 15% de desabastecimento
Tem sido rotina ouvir relatos de piora das doenças “da cabeça” durante a pandemia de covid-19. Pois para quem depende do serviço público para manter em dia o tratamento psiquiátrico está enfrentando ainda mais dificuldades, com a falta de medicações básicas nas farmácias dos Caps (Centro de Atendimento Psicossocial) da rede pública.
Segundo a reportagem do Campo Grande News identificou, nos seis Caps existentes estão em falta pelo menos meia duzia de produtos farmacêuticos que, para quem toma, são a diferença entre estar bem e ter uma crise, seja de ansiedade ou até um surto psicótico, de consequências impossíveis de prever.
Nos últimos tempos, já foram notícia efeitos trágicos de medicações interrompidas, como o rapaz que foi acorrentado em casa para não fugir ou o esquizofrênico que cometeu assassinato durante crise.
Na quarta-feira (8), no Centro de Atendimento Psicossocial) da Vila Margarida, a aposentada Helena Marcina França Leite, 73 anos, viveu mais uma tentativa frustrada de encontrar o fármaco usado pelo marido dela, a amitriptilina.
Faz uns 3 meses que estou atrás do remédio e não acho para o meu esposo da outra vez cansamos de procurar e acabei comprando na farmácia", contou. Ela é moradora na região e diz que quando precisa, vai em todas as unidades próximas para tentar conseguir.
Amitriptilina é um antidepressivo. A interrupção do uso favorece ocorrência de recaídas da depressão, segundo a consulta feita pela reportagem ao psiquiatra Adriano Bernardi do Prado.
Outros dois produtos em falta, o carbonato de lítio e o ácido valproico, são estabilizadores de humor, de uso contínuo para prevenir crises de transtorno bipolar e alterações de comportamento em alguns tipos de psicoses.
Carbamazepina e fenitoína, mais dois remédios não disponíveis nas farmácias dos Caps, são usados pessoas diagnosticadas com epilepsia. Atuam, ainda, como estabilizadores de humor.
Nesse caso, se o paciente para de tomar, pode ter crises de convulsão.
"Como são preventivas, as doses devem ser tomadas mesmo que o paciente esteja bem", alerta o profissional da Medicina.
Também foi descoberto que a rede sem nitrazepam, receitado para ansiedade e, por último, não está sendo entregue o Clopixol. Esse último fármaco é para tratamento de psicoses. Parar a ingestão significa risco de surtos e recaídas no mal psiquiátrico.
Explicação - A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande), informou que o estoque de medicamentos está defasado, em geral, em 15%.
“Podem ocorrer faltas pontuais por diversos fatores, sendo a indisponibilidade de entrega por ausência de matéria prima ou entraves relacionados à aquisição, o problema mais comum”, informou o órgão.
Segundo a resposta, no caso da Carbamazepina, o processo de aquisição está em fase final. “Deve ser regularizado em breve”, assim como os demais medicamentos citados”, informa a nota.
“A Sesau reforça que mantém abertos seus canais para atendimento aos usuários e se coloca à disposição para esclarecimento de quaisquer dúvidas em relação ao acesso à assistência necessária”, encerra a Secretaria.
Serviço: A Ouvidoria-Geral de Campo Grande, que recebe queixas do cidadão, tem os seguintes canais de atendimento:
Chat: www.campogrande.ms.gov.br/ouvidoria
Fale Conosco: http://www.campogrande.ms.gov.br/ouvidoria/fale-conosco/
Telefone: 3314-4639
E-mail: ouvidoriageral@cgm.campogrande.ms.gov.br
Presencialmente: Avenida Afonso Pena, 3297 – Centro.