Filho obediente que queria ser jogador "se perdeu" na adolescência, diz pai
Acelino acredita que a repercussão do desaparecimento esteja relacionada ao drama que muitas famílias enfrentam com a adolescência

Queixo cortado, seis dentes moles entre os ferimentos, além do comportamento alterado. Este foi o filho que o autônomo Acelino da Silva Claro encontrou na tarde da última segunda-feira (1º), poucas horas depois de ter procurado a imprensa pedindo para noticiar o desaparecimento do adolescente de 14 anos.
Foram quatro dias de agonia e questionamentos: "Onde estaria o menino que sonhava em ser jogador de futebol?" No passado, atrás do sonho, a família chegou até visitar a cidade de Santos. "Nós estávamos no caminho dele ser jogador lá em Santos, mas eu parei em Campo Grande para ficar aqui meio ano, ver aluguel lá. É um sonho dele, ele estava treinando bem futebol, e chega nessa fase, a gente perde o filho pro mundo?", se pergunta Acelino.
O sustento de pai e filho é da venda de salgados. Profissão que o autônomo chegou a cogitar de seguir na mudança para o Estado de São Paulo. Ele também já tem nas contas o valor da mensalidade do curso de Educação Física, se o filho quiser fazer a faculdade. "O que eu quero e que hoje a minha profissão vai me ajudar é formar ele em Educação Física, custa em torno de R$ 1,2 mil", calcula o pai.

A família já morou em cidades do interior como Anastácio e Aquidauana. A mãe do adolescente mora em Dourados, município distante 233 quilômetros da Capital. Durante os quatro dias em que o filho desapareceu, ela também tentou contato com ele pelo celular e era informada a todo momento pelo ex-marido sobre a situação.
"Eu não pude ir aí, tenho um filho especial acamado. Ficou difícil, mas a todo momento o pai me mandava mensagem. Graças a Deus encontraram ele, agora estou mais tranquila", diz a dona de casa Creocilene Lemes da Silva, de 32 anos.
Apesar do divórcio e de situações anteriores, como da vez que o pai fez questão de trazer o menino para Campo Grande depois de passar férias e ficar morando a mãe, porque ele não estava indo à escola, a família é unânime em dizer o quanto Acelino se preocupa com o adolescente.
"O pai faz de tudo por ele, de tudo. Roupa de marca, tênis de marca, celular de última geração. O pai deu tudo só para ele estudar. Acorda 4h da manhã para vender salgado para o menino poder só estudar", comentam familiares.
Como o pai registrou o desaparecimento do adolescente na Depca (Delegacia Especializada na Proteção de Criança e Adolescente), ele foi ouvido na delegacia depois de ser encontrado. "E declarou que ingeriu bebida alcoólica em uma festa. Ele disse também que ficou na casa de uma amiga por quatro dias, depois foi para a casa de outra amiga. Aí viram a divulgação da foto dele na imprensa e deixaram meu filho na casa do ex-padrasto, para não ter problema", acredita o pai.
Durante quatro dias em que esteve desaparecido, o menino não respondia mensagens nem atendia o pai. "Um guri bonito desse pode ser usado como aviãozinho no mundo do tráfico como falam, prostituição em outras cidades ou até mesmo matar", pontua. As preocupações que o pai enxerga são desconhecidas pelos adolescentes que passam a ver tudo como "implicância" dos pais.
"Meu medo era o de não encontrar meu filho nunca mais. Ou encontrar alguém que não fosse ele, e sim uma pessoa drogada, porque ele já vem mudando o comportamento dele", justifica o pai.
Acelino acredita que a repercussão do desaparecimento esteja relacionada ao drama que muitas famílias enfrentam nessa fase da vida dos filhos. "A nossa dificuldade, dificuldade dos pais se resume a uma só: influência, celular, internet. Vê postagem de festa que os amigos mandam. Já vi muitos casos de pai perder o filho, porque eles pensam que eles que mandam. Com 14 anos você não se manda", enfatiza o pai.
Além de procurar delegacia, Acelino foi ao Conselho Tutelar buscar ajuda para encontrar e também retirar o filho de onde ele estivesse. "Muitos pais desistem, mas a gente tem que ir aos órgãos de proteção à criança e ao adolescente, Conselho Tutelar e ligar até no Disque 100 se for o caso", alerta.
Na tentativa de reavivar no filho o sonho de ser jogador de futebol ou seguir uma faculdade, o pai diz que pretende se mudar. "Vou tirar ele daqui e também trocar o número de celular dele".