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Capital

Libanês radicado em Campo Grande vive angústia à distância com ataques de Israel

Há 33 anos no Brasil, Armando Salém mantém contato diário com os parentes que vivenciam os ataques no Líbano

Por Jhefferson Gamarra e Izabela Cavalcanti | 24/09/2024 16:10
Armando Salém mostrando vídeo recebido de familiares que vivem no Líbano (Foto: Izabela Cavalcanti)
Armando Salém mostrando vídeo recebido de familiares que vivem no Líbano (Foto: Izabela Cavalcanti)

O libanês Armando Salém, 64 anos, proprietário de uma loja no Centro de Campo Grande, vive dias de angústia acompanhando, à distância, o drama de sua família em sua terra natal. Radicado na Capital sul-mato-grossense há 33 anos, Salém mantém contato diário com parentes que ainda residem no país, localizado no Oriente Médio, onde ataques israelenses têm devastado regiões próximas de onde sua família mora.

O comerciante tem um irmão e duas irmãs que vivem em Karaoun, no Vale do Beqaa, uma área localizada a cerca de 30 quilômetros de Beirute, a capital libanesa. A situação no Líbano é preocupante, com bombardeios ocorrendo em diversas partes do país desde segunda-feira (21).

A comunicação com a família ocorre principalmente por um grupo de WhatsApp, onde os familiares compartilham atualizações sobre o que ocorre ao redor. “A gente tem um grupo e a gente conversa todo dia para saber as notícias e se eles estão bem. Sempre fica essa angústia, porque às vezes pode ser um bombardeio errado, uma falha e pode cair”, comentou Salém.

O comerciante descreve o clima de tensão constante vivido pelos parentes no Líbano. De acordo com ele, os parentes estão “seguros”, mas que mesmo não morando em regiões alvos, conseguem escutar e ver os resquícios dos bombardeios.

Comerciante Armando Salém, libanês que vive há 33 anos em Campo Grande (Foto: Izabela Cavalcanti)
Comerciante Armando Salém, libanês que vive há 33 anos em Campo Grande (Foto: Izabela Cavalcanti)

“Meu irmão tem uma propriedade, uma granja, e foi perto dela que uma bomba explodiu. Graças a Deus, a região onde eles estão não tem sido o foco principal dos ataques, mas eles conseguem ver e escutar. Quando acontece o bombardeio, eles veem a poeira subindo. Chega o som antes e depois vem a poeira. Quando ouvem uma explosão, eles avisam no grupo e ficam com medo, esperando aquela tensão até acalmar”, descreveu.

Com o aumento dos bombardeios, milhares de famílias estão fugindo das áreas mais afetadas, especialmente no sul do Líbano, buscando refúgio em locais mais seguros, distantes das bases militares que costumam ser os alvos principais. “As pessoas vão para lugares mais seguros, onde não há, por exemplo, bases militares. Todos os espaços vazios, como escolas e igrejas, estão sendo ocupados para abrigar os refugiados. Oferecem o que podem, como alimentos, materiais e vestimentas”, explica Salém.

Além da ameaça constante dos bombardeios, a possível invasão de Israel aumenta o temor de uma crise humanitária ainda maior. “A preocupação é que o Israel pode invadir, então, o problema vai piorar porque muitas pessoas vão se refugiar e isso que causa danos para todas as pessoas, além do gasto também, o país não está com uma situação de economia boa”, disse o comerciante.

Um vídeo enviado por seu irmão ao grupo de família mostra o poder destrutivo dos bombardeios que ocorreram próximo à granja da família. No local onde antes havia uma casa, restaram apenas escombros. (veja abaixo)


Ação diplomática e apoio do Brasil - Procurado pela reportagem, o cônsul honorário do Líbano em Mato Grosso do Sul, Eid Ambar, informou que, até o momento, não houve pedidos de auxílio de libaneses residentes no Estado com familiares diretamente afetados no Líbano. “Estamos acompanhando os fatos através do noticiário e das informações que chegam pela embaixada”, explicou.

O governo brasileiro, através do Itamaraty, também acompanha a situação com atenção. Na noite de segunda-feira (23), o Ministério das Relações Exteriores emitiu uma nota oficial condenando "nos mais fortes termos" os ataques aéreos israelenses contra áreas civis no Líbano. A nota também destacou a preocupação com a escalada de tensões na região e condenou declarações de autoridades israelenses em favor de uma possível ocupação de parte do território libanês.

“O governo brasileiro acompanha com preocupação e atenção o impacto do conflito para a comunidade”, afirmou o Itamaraty, ressaltando que a Embaixada do Brasil em Beirute está em contato permanente com a comunidade brasileira no país, composta por cerca de 21 mil pessoas.

O Itamaraty recomendou que todos os brasileiros deixem as áreas afetadas pelos combates e colocou à disposição um número de plantão consular para emergências. Em caso de necessidade, recomenda-se entrar em contato com o plantão consular do Itamaraty por meio do número +55 (61) 98260-0610 (WhatsApp).

O assessor especial da presidência da República, Celso Amorim, reforçou que o governo brasileiro já considera a possibilidade de realizar uma operação de retirada de cidadãos brasileiros do Líbano, caso a situação piore. “O Brasil está monitorando de perto os eventos e trabalha para garantir a segurança de sua comunidade no exterior”, afirmou Amorim durante visita a Nova York.

Contexto do conflito - Desde o início da semana, mais de 550 pessoas perderam a vida nos bombardeios israelenses no Líbano, sendo cerca de 50 delas crianças, segundo estimativas de organizações locais. A violência se intensificou após uma série de ataques de retaliação entre Israel e o Hezbollah, grupo militante que opera no sul do Líbano.

Israel afirma que sua operação militar é para neutralizar a ameaça representada pelo Hezbollah, enquanto o grupo libanês declara que está agindo em resposta à "agressão" israelense e em solidariedade aos palestinos que enfrentam bombardeios em Gaza. O temor de uma escalada regional do conflito é grande, especialmente após atentados direcionados aos membros do Hezbollah nas últimas semanas.

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