Mãe de PM morto diz que não tem raiva, mas quer que motorista fique preso
"Quero dizer para ele que não estou com raiva. Quero dizer para a mãe dele, que em relação a ela ser mãe, sabe o que eu estou sentindo, não sei se ela já perdeu um filho, mas que ela encoraje ele a permanecer preso".
As frases saem em meio à dor de sepultar o filho Luciano Abel de Carvalho Nunes, o policial militar de 29 anos morto em acidente de trânsito na madrugada de ontem.
Na manhã desta terça-feira, a professora Edeves Carvalho, de 55 anos, esperou descer o caixão para falar com a imprensa. Aos jornalistas e fotógrafos presentes, repetiu o que gostaria de ter falado ao motorista que causou o acidente. Amparada por familiares e amigos, a professora fala o quanto deseja justiça.
"Eu tenho Deus e Deus é a justiça, mas o que eu espero na terra é que a pessoa que tirou a vida do meu filho fique presa. Não quero que o machuquem, nem batam nele, ele é advogado, não falei com ele, mas queria muito ter falado".
Edeves até tentou, ficou de prontidão na delegacia na tentativa de falar com o advogado Helder da Cunha Rodrigues, 38 anos, que estava embriagado e sem CNH atingiu o filho motociclista e ainda fugiu sem prestar socorro.
"Que ele não use o estudo que tem para sair da cadeia. Eu queria que ele estivesse aqui agora, porque eu ia falar na frente dele que se eu tirasse a vida de uma pessoa, eu não ia querer ficar livre. O estudo que ele tem não serviu na hora que ele tirou a vida do meu filho, então que esse estudo faça ele refletir que merece ficar na cadeia".
A mãe vai além e diz que gostaria que Helder "entendesse e colocasse em prática tudo o que ouvimos na televisão em relação à bebida". Isso porque, no teste o bafômetro foi constatado que o motorista tinha 0,76 miligramas de álcool por litro de ar expelido dos pulmões. Ele também admitiu ter tomado vodka antes de dirigir e no veículo, a Polícia Civil encontrou uma garrafa da bebida pela metade.
Apesar de tudo, a mãe diz que segue feliz pelo filho honrado que teve. "O próprio comandante dele falou pessoalmente para mim que ele era um grande profissional".
Amigo, era na casa do vigilante Fagundes Ortiz que Luciano estava antes do acidente. A batida foi a duas quadras do endereço, de onde Fagundes ouviu o barulho. "No que ele saiu, passou um pouco eu ouvi uma batida muito alta", conta.
Ao chegar no local, encontrou Luciano no chão, mas como não tinha sangue, acreditou que o amigo estivesse bem. "O advogado foi correndo para o carro, tentou dar partida para fugir e eu bati no vidro pra ele descer. Ele disse que era advogado e eu falei que justamente por ser advogado, ele sabe que não pode ir embora. Descuidei e ele fugiu a pé", descreve Fagundes.
O acidente - Luciano seguia numa motocicleta Yamaha XJ6 300 cilindradas, quando foi atingido pelo Chevrolet Cobalt dirigido pelo advogado. Depois da pancada, tanto o corpo da vítima quanto o carro foram parar no canteiro central da Avenida Ministro João Arinos, na saída para Três Lagoas. O Corpo de Bombeiros foi acionado, tentou reanimar a vítima, mas sem sucesso. O policial morreu no local.
O advogado Helder da Cunha Rodrigues, de 38 anos, está preso em uma das salas específicas para custódia dos advogados no Presídio Militar de Campo Grande e teve a prisão em flagrante convertida preventiva.